Estados Unidos — O uso de testes farmacogenômicos na prescrição de antidepressivos pode ajudar a reduzir o tempo e o custo necessários na busca pelo medicamento mais eficaz para cada paciente, segundo um estudo inédito.
Cientistas desenvolveram um modelo de microssimulação para avaliar a eficácia dos testes farmacogenômicos em pacientes adultos no Canadá com diagnóstico recente de transtorno depressivo maior moderado a grave. A estimativa do modelo é que o uso dos testes pode resultar em redução de 37% nos casos de transtorno depressivo refratário, 15% de aumento no período de bem-estar dos pacientes e economia de 956 milhões de dólares canadenses ao sistema de saúde ao longo de 20 anos.

Dra. Shahzad Ghanbarian, Ph.D.
“Nosso estudo mostra que, se os testes farmacogenômicos guiarem a prescrição de um antidepressivo eficaz, eles poderão encurtar o longo processo de erro e acerto enfrentado por muitos pacientes, além de reduzir drasticamente o impacto financeiro sobre o sistema de saúde”, disse ao Medscape a Dra. Shahzad Ghanbarian, Ph.D., primeira autora da pesquisa e analista científica vinculada ao Centre for Clinical Epidemiology and Evaluation da University of British Columbia, no Canadá.
“O próximo passo deve ser o desenvolvimento de estratégias para implementação [dos testes] e a identificação dos profissionais de saúde mais adequados para fornecer uma assistência guiada pela farmacogenômica”, disse ela.
O estudo foi publicado on-line em 14 de novembro de 2023 no periódico Canadian Medical Association Journal.
Desenvolvendo um modelo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que os transtornos depressivos serão a principal causa global de incapacidade até 2030. No entanto, cerca de metade dos pacientes não responde ao antidepressivo inicialmente prescrito e mais de um quarto relata efeitos adversos. Estudos anteriores demonstraram que até 42% da falta de resposta terapêutica decorre de fatores genéticos que afetam a metabolização dos fármacos.
Os testes farmacogenômicos, que utilizam uma amostra de sangue, saliva ou esfregaço bucal, podem ajudar a identificar variantes genéticas envolvidas na metabolização dos antidepressivos e na resposta terapêutica, além de orientar a prescrição e reduzir os efeitos adversos, escreveram os autores.
A Dra. Shahzad e seus colaboradores desenvolveram um modelo de microssimulação em colaboração com pacientes voluntários, médicos e o sistema de saúde do Canadá para avaliar a eficácia e a relação de custo-efetividade dos testes farmacogenômicos em pacientes adultos com transtorno depressivo maior em uma província canadense. O modelo abrangeu informações de características únicas de cada paciente, como fenótipos metabolizadores, e acompanhou a evolução desses pacientes durante diagnóstico, tratamento e recidiva do transtorno depressivo.
De acordo com dados administrativos da província canadense Colúmbia Britânica no período entre 2015 e 2020, o modelo simulou uma população de 194.149 adultos e incorporou 40 antidepressivos diferentes e outros tratamentos, como a eletroconvulsoterapia (ECT) e a psicoterapia. A equipe de pesquisadores comparou as diferentes opções terapêuticas para pacientes com e sem testes farmacogenômicos ao longo de 20 anos.
No geral, o modelo mostrou que o tratamento guiado pela farmacogenômica resultou em um aumento das taxas de remissão clínica e na redução das taxas de suspensão das medidas terapêuticas, sendo vista uma redução de 23.216 (37%) nos casos de transtorno depressivo refratário. Além disso, também foi verificada uma queda no uso de opções terapêuticas que exigiam o uso intensivo de recursos, como a ECT e a psicoterapia (em 28% e 22%, respectivamente). Segundo o modelo, essas reduções poupariam ao sistema de saúde da província de Colúmbia Britânica 4.926 dólares canadenses por paciente, ou cerca de 56 milhões de dólares canadenses ao longo de 20 anos.
Esses achados são uma justificativa econômica robusta para a implementação clínica do tratamento do transtorno depressivo guiado por farmacogenômica na população canadense.
Além disso, o modelo mostrou que os pacientes submetidos a testes farmacogenômicos apresentaram um aumento de 15% no período sem sintomas depressivos e uma redução de 18% no estado depressivo com episódios sintomáticos recorrentes ou transtorno depressivo refratário. Isso, por sua vez, representaria uma diminuição de 1.869 mortes e 21.346 internações hospitalares por todas as causas em um intervalo de 20 anos.
Os testes farmacogenômicos também levaram a ganhos de 0,064 ano de vida e 0,381 ano de vida ajustado pela qualidade de vida (AVAQ) por paciente, representando 12.436 anos de vida e 74.023 AVAQs para toda a província de Colúmbia Britânica durante 20 anos.
Do ponto de vista financeiro, o custo de 121 milhões de dólares canadenses relacionado aos testes farmacogenômicos e o aumento de 524 milhões de dólares canadenses nas despesas com assistência médica ocasional foram compensados por uma diminuição no custo da assistência relacionada ao transtorno depressivo maior refratário. Nas análises de sensibilidade, o investimento inicial em testes farmacogenômicos foi geralmente compensado após dois anos por meio da redução de custos médicos diretos. Além disso, as mudanças também foram consideradas econômicas, considerando esse intervalo temporal.
“Ao incorporar neste modelo as perspectivas dos pacientes e suas experiências de vida atuais e prévias, juntamente com conjuntos de dados robustos, conseguimos simular cuidadosamente a evolução do tratamento em indivíduos com transtorno depressivo grave”, disse a Dra. Shahzad. “O modelo de simulação foi concebido para ser flexível e poderia ser aplicado em outros locais além da província estudada, nos quais poderíamos esperar ver benefícios semelhantes, especialmente [se testado] em um contexto canadense semelhante.”
Implementando o modelo
Atualmente, a Dra. Shahzad e seus colaboradores estão interessados em potenciais estratégias de implementação do novo modelo em todo o sistema de saúde. Por enquanto, os testes farmacogenômicos ainda não são oferecidos no sistema público de saúde do Canadá, mas os pacientes podem pagar por eles por meio de empresas privadas.
“Esses achados são uma justificativa econômica robusta para a implementação clínica do tratamento do transtorno depressivo guiado pela farmacogenômica na população canadense”, disse ao Medscape o Dr. Chad Bousman, Ph.D., professor associado de fisiologia e farmacologia afiliado à University of Calgary, no Canadá.

Dr. Chad Bousman, Ph.D.
O Dr. Chad, que não participou do estudo, foi coautor das diretrizes do Clinical Pharmacogenetics Implementation Consortium para diversos genótipos e antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina. Ele e seus colaboradores também desenvolveram e avaliaram ferramentas on-line que traduzem dados farmacogenéticos em recomendações de prescrição baseadas em evidências.
“A esperança é que esse trabalho facilite o investimento na implementação da infraestrutura necessária para garantir que os canadenses tenham um acesso equitativo aos testes farmacogenômicos e, em última análise, apresentem melhora nos desfechos psiquiátricos”, disse ele.
O estudo foi financiado pela Genome BC, pela Genome Canada e pela Michael Smith Health Research British Columbia. A Dra. Shahzad Ghanbarian e o Dr. Chad Bousman informaram não ter conflitos de interesses relacionados ao tema.
Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape
Créditos:
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Imagem 1: University of British Columbia
Imagem 2: University of Calgary
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Citar este artigo: Uso de testes farmacogenômicos na prescrição de antidepressivos pode economizar tempo e dinheiro - Medscape - 21 de novembro de 2023.
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