Mortes por sarampo sobem 43%: um aumento que ‘impressiona, mas, infelizmente, não surpreende’

Giuliana Miranda

17 de novembro de 2023

Após anos de quedas na cobertura vacinal em diversas partes do mundo, as mortes por sarampo aumentaram 43% em 2022, em comparação a 2021. O total de casos notificados subiu 18% entre um ano e o outro, representando aproximadamente 9 milhões de casos e 136 mil mortes no mundo ─ majoritariamente de crianças. As informações foram divulgadas em um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, publicado em parceria com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos.

O documento também registra um aumento na quantidade de países com surtos significativos de sarampo: 37 em 2022 vs. 22 no ano anterior. Os continentes mais afetados foram a África e a Ásia.

“O aumento de surtos e mortes por sarampo impressiona, mas, infelizmente, não surpreende, dado o declínio nas taxas de vacinação visto nos últimos anos”, disse o Dr. John Vertefeuille, Ph.D., diretor da Divisão Global de Imunização do CDC.

Dr. John destacou que a ocorrência de casos de sarampo em qualquer lugar do mundo representam um risco para “todos os países e comunidades onde as pessoas estão subvacinadas”. Nos últimos anos, diversas regiões não alcançaram suas metas de imunização.

Em 2022, porém, foi registrado um pequeno aumento na vacinação contra a doença, após um declínio que se acentuou com a pandemia da covid-19 e suas consequências sobre os sistemas de saúde de todo o mundo. Ainda assim, no ano passado, 33 milhões de crianças não receberam pelo menos uma dose do imunizante: 22 milhões não tiveram acesso à primeira e 11 milhões, à segunda dose.

Para que as comunidades sejam consideradas protegidas contra surtos, a cobertura com o ciclo completo dos imunizantes deve ser de pelo menos 95%. A taxa global de cobertura da primeira dose foi de 83% e, da segunda, de 74%.

A recuperação na imunização, contudo, ainda não chegou aos países mais pobres, onde a taxa de imunização se situa em 66%. O Brasil aparece entre os 10 países onde mais crianças perderam a primeira dose do imunizante em 2022. Essas nações respondem por mais da metade das 22 milhões de vacinas não aplicadas. Segundo o documento, meio milhão de crianças não receberam o imunizante no Brasil.

O resultado brasileiro evidencia os retrocessos da imunização no país. Em 2016, o Brasil chegou a receber a certificação de eliminação do vírus. Após voltar a ter surtos registrados de sarampo em 2018, o certificado de país livre do sarampo foi perdido em 2019. Em 2018, o Brasil confirmou 9.325 casos da doença. A situação se agravou em 2019, com 20.901 diagnósticos. Desde então, os números vêm caindo: 8.100 em 2020, 676 em 2021 e 44 em 2022.

No ano passado, quatro estados tiveram casos confirmados do vírus: Rio de Janeiro, Pará, São Paulo e Amapá. Dados do Ministério da Saúde indicam que, até 15 de junho, não havia casos confirmados de sarampo no Brasil em 2023.

A cobertura vacinal no país, que já chegou a atingir os 95%, teve um declínio acentuado nos últimos anos. A taxa de imunização com o esquema completou ficou em 59% em 2021.

Globalmente, embora a pandemia da covid-19 tenha prejudicado a vacinação contra o sarampo, as medidas de controle implementadas contra o coronavírus, como o isolamento social e o uso de máscaras, potencialmente contribuíram para a redução dos casos de sarampo. A incidência da doença chegou a diminuir em 2020 e 2021, mas volta agora a subir. “De 2021 a 2022, os casos notificados de sarampo aumentaram 67% em todo o mundo, e o número de países que sofreram surtos grandes ou perturbadores aumentou 68%”, diz o relatório.

Diante desses dados, a OMS e os CDC instam pelo aumento dos esforços para a imunização, além de melhoria nos sistemas de vigilância epidemiológica, sobretudo nas nações em desenvolvimento. “As crianças em todos os lugares têm o direito de ser protegidas pela vacina contra o sarampo, que salva vidas, não importa onde vivam”, disse a Dra. Kate O’Brien, diretora de Imunização, Vacinas e Produtos Biológicos da OMS.

“O sarampo é chamado de vírus da desigualdade por um bom motivo. É a doença que irá encontrar e atacar aqueles que não estão protegidos.”

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....