Estados Unidos — Uma fórmula patenteada mostrou bom desempenho na estratificação do risco de adultos com doença renal crônica em fase inicial evoluírem com disfunção renal mais grave, acarretando mais recursos médicos. As análises oferecem a possibilidade de direcionar o tratamento clínico intensificado da doença renal crônica em estágio inicial para os pacientes que possam ser mais beneficiados.
O modelo do Klinrisk prevê a probabilidade de um adulto com doença renal crônica em fase inicial ter uma queda de 40% ou mais da taxa de filtração glomerular estimada ou insuficiência renal. Esse risco é calculado a partir de 20 variáveis verificadas em laboratório, incluindo a creatinina sérica, a relação entre a albumina e a creatinina na urina e outros valores obtidos de exames de rotina, como hemograma completo, bioquímica, avaliações metabólicas abrangentes e exames de urina.
No mais recente e abrangente estudo de validação externa, que utilizou dados de 4,6 milhões de adultos estadunidenses com planos de saúde ou Medicare, os resultados mostraram que o Klinrisk previu corretamente a evolução da doença renal crônica em 80% a 83% dos pacientes ao longo de mais de dois anos e em 78% a 83% dos pacientes ao longo de mais de cinco anos, dependendo do plano de saúde. O médico Dr. Navdeep Tangri apresentou essas informações na reunião anual da American Society of Nephrology . Quando havia dados disponíveis dos exames de urina, o modelo previu corretamente a evolução para doença renal crônica em 81% a 87% dos pacientes ao longo de mais de dois anos e em 80% a 87% dos pacientes ao longo de mais de cinco anos. Estes resultados corroboram relatórios anteriores de várias outras validações bem-sucedidas do Klinrisk.
Pronto para implementar
“O modelo Klinrisk está pronto para ser implementado por qualquer entidade financeira, sistema de saúde ou clínica onde os dados laboratoriais necessários estejam disponíveis”, disse o Dr. Navdeep, nefrologista e professor da University of Manitoba, nos Estados Unidos, e fundador da Klinrisk Inc., empresa responsável pela criação e comercialização da ferramenta de avaliação de riscos Klinrisk.
Por enquanto, o Dr. Navdeep vê o Klinrisk como um dispositivo de saúde populacional capaz de permitir que as seguradoras e os sistemas de saúde monitorem a qualidade do atendimento e direcionem os pacientes que mais se beneficiam para os recursos mais custosos. Isto abrange as prescrições de finerenona (Kerendia, BAYER), para pessoas que também têm diabetes tipo 2, e inibidor do cotransportador 2 de sódio-glicose (SGLT2, também chamado de gliflozinas ou flozinas), como a dapagliflozina (Farxiga, AstraZeneca) e empagliflozina (Jardiance, Boehringer Ingelheim e Lilly).
O Dr. Navdeep também iniciou tratativas com a Food and Drug Administration (FDA) sobre os dados necessários para que o órgão considere a aprovação do Klinrisk como novo dispositivo médico, talvez em 2025. É assim que o pesquisador prevê obter uma avaliação do Klinrisk das mãos de quem atende os pacientes, proporcionado um plano de tratamento adequado para cada pessoa.
Os resultados de sua nova análise mostraram que "a atividade significativa da doença renal concentra-se nos 10% a 20% das pessoas com maior risco no Klinrisk, enquanto há menos impacto entre os que estão na metade inferior", disse o Dr. Navdeep durante sua apresentação.
"Estamos tentando encontrar os pacientes que obtêm o maior benefício absoluto com a intensificação do tratamento", acrescentou em uma entrevista. "O Klinrisk identifica os pacientes com doença renal de alto risco logo no início do quadro, quando a função renal ainda é normal ou quase normal. Os pacientes de alto risco costumam não ser reconhecidos. A conduta de acordo com o risco” que identifica os pacientes com doença renal crônica em fase inicial que mais se beneficiariam do tratamento com uma gliflozina, finerenona e outros fármacos fundamentais para tornar mais lenta a progressão do quadro "é melhor do que a abordagem única adotada atualmente".
Coleta de dados simplificada
"O Klinrisk é muito eficaz", mas exige o acompanhamento de médicos e dos sistemas de saúde para implementar suas descobertas, comentou o médico Dr. Josef Coresh, professor de epidemiologia clínica na Johns Hopkins Bloomberg nos EUA. O Dr. Josef comparou o Klinrisk a uma equação livre que estima o risco de 40% de queda da função renal de alguém nos próximos três anos criada pelo Dr. Navdeep, Dr. Josef e muitos colaboradores liderados pela médica Dra. Morgan C. Grams, Ph.D., da New York University, publicada em 2022 e disponível no website do Prognostic Consortium para doença renal crônica.
A fórmula do Prognostic Consortium para doença renal crônica "adota uma abordagem diferente" do Klinrisk. A fórmula comercial "é mais simples, usando apenas resultados laboratoriais, e evita informações obtidas no exame físico, como a pressão arterial sistólica e o índice de massa corporal, bem como dados da anamnese, como tabagismo, observou o Dr. Josef. O médico também especulou que "uma fórmula comercial que requer pagamento pode, de maneira contraintuitiva, resultar em um acompanhamento mais eficiente para implementar alterações na gestão, especialmente se usar parte dos recursos para a educação e mudanças do sistema".
O uso de dados de múltiplas fontes, como faz a equação do Prognostic Consortium para a doença renal crônica, pode criar desafios de implementação, disse o Dr. Navdeep. "Os resultados laboratoriais não variam muito", o que torna a Klinrisk "uma melhora significativa para essa implementação. Sua aplicação é mais simples".
Outras descobertas do mais recente estudo de validação que o Dr. Navdeep apresentou indicaram que as pessoas com pontuações Klinrisk entre os 10% mais favorecidos, nos dois anos seguintes de acompanhamento e comparadas às pessoas na metade inferior do estadiamento do Klinrisk, experenciaram um índice de 3 a 5 vezes maior de custos médicos de todas as causas, um aumento de 13 a 30 vezes nos custos relacionados à doença renal crônica e um aumento de 5 a 10 vezes nas hospitalizações e visitas às salas de emergência.
A identificação da doença renal crônica em estágio inicial e o começo precoce do tratamento intensificado para os pacientes de alto risco podem reduzir o índice de progressão para diálise, as hospitalizações por insuficiência cardíaca e o custo do atendimento, disse o Dr. Navdeep.
O estudo de validação com 4,6 milhões de estadunidenses foi patrocinado pela Boehringer Ingelheim. O Dr. Navdeep Tangri fundou e é proprietário da Klinrisk. Além disso, ele recebeu honorários, tem ações e presta consultoria para várias empresas farmacêuticas. O Dr. Josef Coresh informou não ter conflitos de interesse.
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Citar este artigo: Modelo Klinrisk: nova fórmula calcula risco de progressão da doença renal crônica - Medscape - 20 de novembro de 2023.
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