ESTADOS UNIDOS – Estudos abertos (não controlados) estendidos de dois anticorpos bloqueadores de receptores Fc neonatais mostraram boa segurança e eficácia em pacientes com miastenia gravis. Ambos os medicamentos, rozanolixizumabe e efgartigimode PH20, foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos em junho de 2023 e dezembro de 2021, respectivamente, para o tratamento da doença.
O receptor Fc neonatal liga-se à IgG dentro das células e a reintroduz na corrente sanguínea, levando ao aumento dos níveis séricos. Os anticorpos ligam-se ao receptor Fc neonatal e promovem a sua degradação, evitando assim a reciclagem da IgG sem interferir na sua produção. Eles não afetam os níveis de outros isotipos de imunoglobulinas.
No congresso anual da American Association for Neuromuscular and Electrodiagnostic Medicine (AANEM) em 2023, os pesquisadores apresentaram dados de um estudo aberto estendido após o ensaio de fase 3 MycarinG (com o rozanolixizumabe) e o estudo ADAPT-SC+ (com o efgartigimode).
No estudo MycarinG, o rozanolixizumabe “demonstrou melhorias estatística e clinicamente significativas em múltiplos desfechos”, disse a Dra. Vera Bril, médica, durante a apresentação dos resultados.
O rozanolixizumabe é aprovado para pacientes com miastenia gravis positivos para anticorpos anti-receptor de acetilcolina (Anti-AChR) ou anticorpos anti-tirosina quinase músculo-específica (anti-MuSK). O efgartigimode é aprovado para pacientes com miastenia gravis positivos para Anti-AChR.
Após a conclusão do estudo MycarinG, os pacientes tornaram-se elegíveis para participar de um dos dois estudos abertos (cada um com uma dose).
A nova análise de eficácia concentrou-se em 110 pacientes submetidos a dois ou mais ciclos consecutivos de tratamento baseados em sintomas. Uma análise de segurança foi direcionada a 188 pacientes que receberam pelo menos um ciclo de tratamento.
"A análise post hoc mostrou que as melhorias clinicamente significativas nos sintomas de miastenia gravis generalizada foram mantidas ao longo do tempo para a coorte durante os ciclos de rozanolixizumabe, ao passo que os pacientes avançavam individualmente nos ciclos de tratamento consecutivos; o rozanolixizumabe apresentou um perfil de segurança aceitável que foi mantido durante os repetidos ciclos de tratamento. Isto é consistente com resultados anteriores do fármaco", lembrou a Dra. Vera, que é pesquisadora clínica da University of Toronto, no Canadá.
Uma redução no uso de esteroides?
Durante a sessão de dúvidas, o Dr. George Small, médico, perguntou se o estudo havia mostrado uma redução no uso de esteroides entre os pacientes com miastenia gravis.
Como diretor clínico associado de neurologia do Allegheny Medical Center, nos EUA, ele supervisionou o tratamento de várias centenas de pacientes com miastenia gravis generalizada, bem como participou de ensaios clínicos. "Vários médicos usam esteroides para obter respostas muito rápidas em seus pacientes. Eu adoro e odeio esteroides. Ajudei a salvar vidas de pessoas com eles, mas provavelmente também adiantei a morte, infelizmente, devido aos eventos adversos em longo prazo dos medicamentos. Muitos neurologistas na comunidade utilizarão esteroides em excesso porque não têm acesso a esses tratamentos mais caros. Estou ansioso para usar mais esses fármacos à medida que forem aprovados pela FDA e ser um defensor deles, porque acredito que ajudam a diminuir o uso de esteroides", apontou em entrevista o Dr. George.
Mesmo que novos fármacos reduzam o uso de esteroides, ainda existe um obstáculo: as seguradoras de saúde. “Senti que fui forçado a recomendar tratamentos que sei que podem não ser eficazes em curto prazo, a fim de obter autorização para os tratamentos mais caros que utilizo agora. Já tive que lidar com as exigências impostas pelas seguradoras enquanto um paciente estava internado no hospital", lamentou ele.
Melhorias clínicas observadas
No MycarinG, os pacientes receberam, durante um período de seis semanas, injeções semanais de 7 mg/kg e 10 mg/kg de rozanolixizumabe, ou placebo. Ambos os grupos de tratamento apresentaram reduções nas pontuações do Myasthenia Gravis Activities of Daily Living (MG-ADL) em comparação com o placebo.
As pontuações do MG-ADL e do Quantitative Myasthenia Gravis (QMG) foram consistentes durante os ciclos de tratamento. A pontuação média do MG-ADL caiu cerca de quatro pontos na sexta semana. Por volta da semana 10, a melhoria média diminuiu para dois pontos e, depois, na semana 14, aumentou para três pontos, permanecendo uniforme até a semana 50. Um padrão semelhante foi observado nas pontuações do QMG, com uma queda aproximada de cinco pontos em seis semanas, seguida de uma melhoria de cerca de 1,5 ponto em 10 semanas e, depois, uma diminuição média de cerca de quatro pontos que permaneceu estável até a semana 50.
Ao longo de todos os ciclos, 89,9% dos pacientes apresentaram um evento adverso decorrente do tratamento; 22,3% apresentaram um quadro grave relacionado ao evento; e a taxa de abandono do estudo devido a esse tipo de evento foi de 15,4%.
No ADAPT-SC, 110 pacientes foram randomizados para receber 10 mg/kg de efgartigimode intravenoso ou 1.000 mg de efgartigimode PH20, que é formulado com hialuronidase humana recombinante para permitir a administração rápida de volumes maiores. Após a conclusão do ADAPT-SC, 105 pacientes de ambos os grupos e mais 79 novos pacientes entraram no estudo aberto estendido, cuja intervenção foi a administração de 1.000 mg de efgartigimode PH20.
O estudo foi realizado com 141 pacientes Anti-AChR positivos e 38 Anti-AChR negativos. No primeiro ciclo, 34,6% apresentaram reação no local da injeção, que caiu continuamente para 11,5% no sexto ciclo. Após cada ciclo de tratamento, a alteração média no MG-ADL do início do estudo até a quarta semana situou-se entre 4,1 e 4,7 pontos. A alteração média no Myasthenia Gravis Quality of Life 15-Item Questionnaire revisitado, no período do início do estudo até a quarta semana, situou-se entre 5,1 e 6,5 pontos. A alteração média na escala visual analógica EuroQoL de cinco dimensões e cinco níveis situou-se entre 12,3 e 16,0 pontos na quarta semana.
O MyCarinG foi financiado pela UCB Pharma. O ADAPT-SC foi financiado pela Argenx SE. A Dra. Vera Bril possui conflitos de interesse financeiros com Behring, Argenyx, Alexion, Immunovant, Alnylam, Akcea, Takeda, Sanofi, Ionis, Roche, Novo Nordisk, Octapharma, Momenta, Pfizer, CSL Behring, Grifols, Powell Mansfield, UCB e Viela Bio. O Dr. George Small realiza palestras pela Alexion.
Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com ─ Medscape Professional Network.
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Citar este artigo: Miastenia gravis: bons resultados em estudos de desenho aberto - Medscape - 14 de novembro de 2023.
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