O primeiro relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) dedicado à hipertensão [1] indica que, apesar de os principais fármacos e cuidados associados ao tratamento da doença serem simples e baratos, quatro a cada cinco pacientes não recebem o tratamento adequado.
O documento também revela que o diagnóstico representa um gargalo importante no acesso às terapias: estima-se que, no mundo, quase um terço dos adultos tenha hipertensão, mas pouco mais da metade tenha ciência do diagnóstico.
Fator de risco associado a diversos problemas cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca, a hipertensão arterial sistêmica é tida como um “inimigo silencioso” devido à ausência de sintomas iniciais na maioria dos pacientes. “A hipertensão pode ser controlada de forma eficaz com esquemas farmacológicos simples e baratos, no entanto, apenas uma em cada cinco pessoas com hipertensão está com a doença sob controle”, afirmou o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, PhD, no lançamento do relatório.
O documento foi divulgado na terça-feira (19) no âmbito da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que discutiu o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos pela entidade.
Segundo o relatório, porém, “o mundo não está no bom caminho para cumprir a meta global voluntária de uma redução de 25% na prevalência da pressão arterial elevada (hipertensão não controlada) até 2025”.
“A hipertensão arterial causa mais mortes do que outros fatores de risco importantes, incluindo o uso de tabaco e níveis elevados de açúcar no sangue”, alerta o documento.
Para reverter esse quadro, a OMS insta por reforços dos programas de prevenção e tratamento. “Os programas de controle da hipertensão continuam negligenciados, subpriorizados e muito subfinanciados. O reforço dessas iniciativas deve fazer parte da jornada de todos os países rumo à cobertura universal de saúde, baseada em sistemas de saúde que funcionem bem, equitativos e resilientes, construídos sobre uma base de cuidados de saúde primários”, completou o Dr. Tedros.
A OMS estima que o número de pessoas vivendo com com pressão arterial ≥ 140/90 mmHg ou em uso de medicação para hipertensão tenha dobrado em 20 anos, passando de 650 milhões em 1999 para 1,3 bilhão em 2019.
Segundo o relatório, a prevalência de hipertensão no Brasil está mais elevada do que a média global, chegando a cerca de 45% dos adultos com 30 anos ou mais. São mais mais de 50 milhões de pessoas com a condição, dos quais cerca de 62% estão em tratamento, mas somente 33% estão com a pressão arterial controlada.
Embora a hipertensão possa ser agravada por questões genéticas e pela idade dos pacientes, ela está também associada a fatores de risco comportamentais, como dietas ricas em sódio, tabagismo, pouca atividade física e consumo elevado de álcool.
Para permitir a adoção das ferramentas de diagnóstico e cuidados adequados para a hipertensão em escala global, o relatório defende a adoção em larga escala das propostas do chamado pacote HEARTS [2] da OMS, que condensa uma série de aspectos técnicos para estratégias de melhoria da saúde cardiovascular das populações.
Segundo a OMS, o aumento global do número de pacientes tratados, chegando aos patamares observados nos países com melhores desempenhos, poderia prevenir 76 milhões de mortes, 120 milhões de AVCs, 79 milhões de ataques cardíacos e 17 milhões de casos de insuficiência cardíaca até 2050.
A entidade defende que é possível alcançar bons resultados no tratamento da hipertensão mesmo em países com menos recursos econômicos, destacando que “mais de 40 países de média e baixa renda, incluindo Bangladesh, Cuba, Índia e Sri Lanka, reforçaram seus cuidados com a hipertensão com o pacote HEARTS, inscrevendo mais de 17 milhões de pessoas em programas de tratamento”.
Siga o Medscape em português no Facebook, no X (antigo Twitter) e no YouTube
Créditos:
Imagem principal: Dreamstime
Medscape Notícias Médicas © 2023
Citar este artigo: Hipertensão: 4 em cada 5 pacientes não recebem tratamento adequado, diz OMS - Medscape - 19 de setembro de 2023.
Comente