Surfactante administrado por técnica minimamente invasiva mostra benefício nos dois primeiros anos de vida

Marcia Frellick

19 de setembro de 2023

O tratamento com surfactante administrado pela técnica minimamente invasiva teve resultados heterogêneos em um estudo de acompanhamento de dois anos de um ensaio clínico randomizado com recém-nascidos pré-termo com síndrome de desconforto respiratório que receberam suporte com pressão positiva contínua nas vias respiratórias. Os resultados do estudo de acompanhamento OPTIMIST foram publicados on-line no periódico JAMA.

Os pesquisadores, liderados pelo médico Dr. Peter A. Dargaville, do departamento de pediatria no Royal Hobart Hospital, na Austrália, descobriram que o tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva, ou seja, através de um cateter fino, comparado ao tratamento simulado, não reduziu a incidência de morte ou incapacidade neurológica aos dois anos de idade.

No entanto, os recém-nascidos que receberam o tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva apresentaram menores índices de piores desfechos respiratórios durante os primeiros dois anos de vida.

O estudo foi feito em 11 países

O estudo foi realizado em 33 unidades terciárias de tratamento intensivo neonatal em 11 países: Austrália, Canadá, Eslovênia, Estados Unidos, Israel, Nova Zelândia, Países Baixos, Qatar, Reino Unido, Singapura e Turquia.

Foram recrutados 486 lactentes de 25 a 28 semanas em suporte ventilatório com pressão positiva contínua nas vias respiratórias. Dados de acompanhamento e dados sobre os principais desfechos secundários estavam disponíveis para 453 e 434 lactentes, respectivamente.

O tratamento simulado foi feito apenas com reposicionamento transitório sem o uso de instrumentos nas vias respiratórias. Os médicos, os avaliadores dos desfechos e os pais eram cegados para o grupo do lactente.

Não houve diferença significativa nas mortes e na incapacidade neurológica

A ocorrência de morte ou de incapacidade do desenvolvimento neurológico foi registrada em 36,3% dos pacientes do grupo do tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva e em 36,1% no grupo de controle (diferença de risco de 0%; intervalo de confiança de 95% de - 7,6% a 7,7%; risco relativo de 1,0; intervalo de confiança de 95% de 0,81 a 1,24).

Os resultados respiratórios secundários foram melhores no grupo de tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva:

  • A hospitalização por doença respiratória ocorreu em 25,1% dos pacientes no grupo do tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva versus 38,2% no grupo de controle (razão de risco de 0,66; IC 95% de 0,54 a 0,81).

  • A ocorrência de sibilância ou dificuldade respiratória relatada pelos pais foi registrada em 40,6% dos pacientes no grupo do tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva versus 53,6% nos controles (risco relativo de 0,76; IC 95% de 0,63 a 0,90).

  • O diagnóstico médico de asma foi descrito em 4,4% e 11,9% dos pacientes no grupo de tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva e nos lactentes do grupo de controle, respectivamente.

  • O relato de uso de analgésicos inalatórios (agonistas β2) foi de 23,9% no grupo do tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva versus 38,7% entre os controles.

O estudo anterior sobre os resultados preliminares de mortes ou displasia broncopulmonar (lesão pulmonar crônica em bebês prematuros) foi publicado pelo mesmo grupo de pesquisadores em 2021.

Benefício importante para a saúde respiratória

O médico Dr. Suhas G. Kallapur, chefe das divisões de neonatologia e biologia do desenvolvimento na University of California, nos Estados Unidos, que não participou de nenhum dos estudos, disse: "Este é um dos maiores estudos até o momento que avalia se o tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva é benéfico para os bebês prematuros nascidos entre 25 e 28 semanas de gestação".

Em geral, ao considerar os estudos de 2021 e 2023 em conjunto, parece que o tratamento com surfactante administrado pela técnica minimamente invasiva tem importantes benefícios para a saúde respiratória durante a permanência na unidade de tratamento intensivo neonatal e no início da infância, apesar de o desfecho primário da morte ou incapacidade de desenvolvimento neurológico não ser diferente entre os grupos de tratamento e de controle, disse o Dr. Suhas.

"O discreto aumento (não significativo) das mortes no grupo de tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva foi observado apenas nos bebês mais imaturos — nascidos entre 25 e 26 semanas de gestação ", indicou. "Nos bebês maiores e mais maduros — nascidos entre 27 e 28 semanas de gestação — os benefícios do tratamento ocorreram sem nenhum aumento da mortalidade, sugerindo que este grupo de lactentes pode ser o que mais se favorece desta abordagem".

O Dr. Suhas disse que novos dados sobre as origens do desenvolvimento da saúde e da doença "agora mostram que a trajetória da saúde respiratória na infância é um importante determinante da saúde respiratória na idade adulta e na velhice".

Portanto, a descoberta de benefícios para a saúde respiratória é particularmente importante, disse o especialista.

O Dr. Suhas observou que o tratamento com surfactante administrado por técnica minimamente invasiva, ou similar, já está em uso em muitas unidades de tratamento intensivo neonatal em todo o mundo, e que aqueles que o utilizam provavelmente se sentirão respaldados por este estudo.

"Os neonatologistas que estavam observando à margem provavelmente considerarão estes resultados — especialmente os desfechos respiratórios na infância — como uma razão para iniciar este procedimento em todos os recém-nascidos pré-termo, exceto os mais imaturos", disse o Dr. Suhas.

Dr. Peter informou receber honorários das empresas AbbVie e Chiesi Farmaceutici e receber surfactante a custo reduzido e apoio para viagens em conferência da Chiesi Farmaceutici durante a realização do estudo; além disso, o Dr. Peter patenteou um tipo de cateter. Um coautor informa ter recebido subsídios da empresa Chiesi Farmaceutici durante a realização do estudo. Outro coautor informa ter sido o pesquisador responsável do OPTI-SURF, um estudo observacional sobre o uso neonatal de surfactantes no Reino Unido na síndrome do desconforto respiratório financiado pela Chiesi UK, fora do trabalho apresentado. Um terceiro coautor informa receber honorários da empresa Chiesi Farmaceutici fora do trabalho apresentado. Este estudo foi financiado por subsídios da Royal Hobart Hospital Research Foundation e da Australian National Health and Medical Research Council. O surfactante exógeno foi fornecido a custo reduzido pela Chiesi Farmaceutici. Dr. Suhas G. Kallapur informou não ter conflitos de interesses relevantes.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com — parte da Medscape Professional Network.

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape

Siga o Medscape em português no Facebook, no X (antigo Twitter) e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....