COMENTÁRIO

Teste que prediz altas chances de pré-eclâmpsia grave salvará vidas

Donna Barnett

Notificação

14 de setembro de 2023

Há uma notícia incrível para o mundo da obstetrícia e para todas as gestantes. A Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos aprovou recentemente um exame de sangue que prediz, com 96% de acurácia, a chance de uma gestante ter pré-eclâmpsia grave nas duas semanas seguintes. A pré-eclâmpsia grave é uma doença obstétrica crítica que pode ter desfechos sérios para a mãe e o bebê. Pode levar à eclâmpsia, uma emergência obstétrica, que muitas vezes resulta na morte da mãe e/ou do bebê.

Segundo pesquisas publicadas no periódico Journal of the American Heart Association, a incidência de doenças hipertensivas de início recente na gestação, como hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia/eclâmpsia, quase duplicou nos EUA de 2007 para 2019 — e esse número continua a aumentar.

Segundo a Preeclampsia Foundation, 5% a 8% de todas as gestações nos EUA resultarão em pré-eclâmpsia. As mulheres negras têm um risco 60% maior do que o das mulheres brancas e, de acordo com várias fontes, outros grupos de risco são as que engravidaram por meio de fertilização in vitro, mães de múltiplos (gêmeos e trigêmeos), mulheres com diabetes gestacional, idade acima de 35 anos, hipertensão crônica, obesidade, síndrome do ovário policístico, doença falciforme, artrite reumatoide, lúpus, migrânea, síndrome antifosfolipídeo, história de pré-eclâmpsia em gestação anterior, história familiar e esclerodermia.

Rastreamento e tratamento

A pré-eclâmpsia é uma doença gestacional que compromete vários órgãos. O quadro pode ser leve, mas pode evoluir rapidamente para a forma grave, configurando eclâmpsia, o que pode ser fatal para a mãe e o bebê. Antes, era denominada toxemia ou hipertensão gestacional. A doença acomete principalmente os sistemas cardiovascular, neurológico, renal e hepático. As pacientes normalmente apresentam elevação da pressão arterial, mas outros sintomas podem ser cefaleia, edema em mãos e pés, turvação visual/diplopia ou moscas volantes, náuseas e/ou vômitos e epigastralgia. É diagnosticada por hipertensão arterial, exame de sangue e proteinúria.

O rastreamento precoce da pré-eclâmpsia é feito no primeiro trimestre da gestação. Atualmente, uma combinação de exames de sangue no pré-natal, a monitorização da pressão arterial e o reconhecimento de grupos de alto risco são usados para determinar um futuro plano terapêutico. O American Congress of Obstetricians and Gynecologists dos EUA recomenda que as mulheres que se enquadram no grupo com potencial de ter pré-eclâmpsia tomem ácido acetilsalicílico diariamente como medida preventiva.

Na sua forma leve da doença, a gestante pode ser acompanhada no ambulatório — monitorada com exames pré-parto, exames laboratoriais e orientação da paciente para que informe qualquer sinal ou sintoma significativo. Ensinar as pacientes a contar os movimentos fetais para controlar a movimentação do seu bebê também é importante. Mulheres com pré-eclâmpsia leve geralmente podem ter parto a termo com segurança, sendo induzido entre a 37a e a 39a semanas de gestação.

Por outro lado, se a pré-eclâmpsia leve evoluir para pré-eclâmpsia grave, o parto pode ser feito pré-termo para a segurança da mãe e do bebê. A pré-eclâmpsia grave pode comprometer os órgãos maternos, causar convulsões e até morte da mãe e/ou do bebê.

Cerca de 20% das mulheres com pré-eclâmpsia grave terão a síndrome HELLP (hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetopenia), uma doença que oferece risco à vida da mulher e que muitas vezes indica o parto imediato. De acordo com a National Library of Medicine, nos EUA, a mortalidade das mulheres com síndrome HELLP é de até 24% e a mortalidade perinatal chega a 37%. Essas doenças graves podem levar a uma coagulação materna ineficaz, ruptura hepática, descolamento da placenta e hemorragia pós-parto. É mais prevalente no terceiro trimestre, mas pode ocorrer até 48 horas depois do parto.

A única cura para qualquer forma de pré-eclâmpsia é o parto.

As pacientes com pré-eclâmpsia grave são hospitalizadas até o parto — por período que vai de apenas alguns dias a algumas semanas. A mãe e o bebê são observados de perto para uma maior progressão, inclusive sinais de comprometimento dos órgãos da mãe e alterações no bem-estar do bebê. Se a saúde da mãe estiver gravemente comprometida, o bebê também será impactado. Nesse caso, pode ser necessário fazer um parto prematuro.

Impacto do novo exame

O National Institute of Health dos EUA afirma que os bebês prematuros nascidos de mães com pré-eclâmpsia podem ter muitos problemas de saúde, como paralisia cerebral, surdez, cegueira, epilepsia e uma série de outros problemas respiratórios, cardiovasculares e endócrinos. Mas o maior problema é o parto prematuro, definido como nascimento antes da 37a semana de gestação. Nascer pré-termo pode exigir uma longa permanência no berçário de tratamento intensivo.

É aqui que entra em jogo o primeiro exame de sangue prognóstico. A capacidade do teste de predizer as chances de ocorrer pré-eclâmpsia grave em até duas semanas pode ajudar a salvar vidas. O exame pode alertar os profissionais de saúde para a necessidade de administrar esteroides a fim de promover a maturidade pulmonar fetal antes do parto, além de ajudá-los a estarem mais preparados para a possibilidade de o recém-nascido ter a saúde muito comprometida.

O exame de sangue, que é recomendado fazer entre 23 e 35 semanas de gestação, envolve a análise de uma relação entre duas proteínas da placenta, a sFlt1 e a PIGF. Quanto maior a proporção, maior será o risco de haver pré-eclâmpsia grave. Os resultados podem ficar prontos após 30 minutos, o que é muito importante quando se trata da definição da conduta.

Um exemplo do uso desta proporção é ilustrado com a hipertensão crônica na gestação, que é definida como pressão arterial elevada antes de 20 semanas ou mesmo antes da concepção. Uma vez que a hipertensão crônica pode ser um precursor primário da pré-eclâmpsia, as pacientes com esta doença correm maior risco. O exame de sangue aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA, seria útil para definir a conduta, ou seja, a escolha entre parto versus hospitalização versus monitoramento ambulatorial.

Com um resultado positivo, uma gestante pode ser imediatamente hospitalizada e pode receber o atendimento de que ela e o bebê precisam à medida que aguardam o parto. Como os profissionais de saúde já conhecem os grupos de alto risco, a vigilância pode começar cedo, utilizando este exame de sangue para prever a chance de progressão para pré-eclâmpsia grave. Por outro lado, se o exame for negativo, o plano terapêutico pode ser feito em ambulatório e a gestação continua.

Nem todos os hospitais estão equipados para tratar de bebês prematuros. Se o parto não for iminente, os profissionais de saúde podem usar este exame de sangue para identificar as gestantes que devem ser transferidas para um centro terciário para observação e monitorização. Nesse caso, a mãe e o bebê não seriam separados após o nascimento.

Nós realmente não sabemos quem vai ter pré-eclâmpsia grave e quem não vai. Este novo exame de sangue será uma ferramenta fundamental na passagem das gestantes para o segundo e o terceiro trimestres. O exame será especialmente crucial para estas mulheres, mas importante para todas as gestantes na redução da mortalidade e morbilidade maternas e fetais.

Donna Barnett é enfermeira no Departamento de Obstetrícia do Mills-Peninsula Medical Center, nos EUA, e informou não ter conflitos de interesses relevantes ao tema.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com — parte da Medscape Professional Network

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