Recidiva bioquímica: um desfecho substituto inadequado para a sobrevida global no câncer de próstata

Nancy A. Melville

14 de setembro de 2023

A recidiva bioquímica não é um desfecho substituto confiável para a sobrevida global em estudos com pacientes acometidos localmente pelo câncer de próstata , segundo uma pesquisa inédita. Além disso, ela pode não ser um desfecho primário adequado.
Metodologia: 

  • Em estudos relacionados ao câncer de próstata localizado, a recidiva bioquímica ainda é um desfecho substituto controverso para a sobrevida global.

  • A metanálise analisou dados de 10.741 pacientes, provenientes de 11 ensaios clínicos randomizados e acompanhados durante um período mediano de 9,2 anos.

  • As principais intervenções analisadas foram: aumento da dose da radioterapia, comparando o uso de radiação em altas doses à radioterapia convencional (n = 3.639); terapia de privação androgênica (TPA) breve associada à radioterapia versus radioterapia isolada (n = 3.930); e prolongamento da TPA associado à radioterapia em comparação à radioterapia complementada pela TPA breve (n = 3.772).

  • Os pesquisadores utilizaram os critérios de Prentice e uma abordagem metanalítica em duas etapas para avaliar a recidiva bioquímica como um desfecho substituto para a sobrevida global.

  • Em seguida, eles avaliaram o efeito dos tratamentos sobre a recidiva bioquímica e a sobrevida global.

Conclusão: 

  • Considerando o efeito dos tratamentos sobre a recidiva bioquímica, as três intervenções reduziram significativamente o risco de ocorrência desse evento, sendo verificadas reduções individuais de 29%, 47% e 46% no risco após o aumento da dose da radioterapia, a TPA breve e o prolongamento da TPA, respectivamente. Com relação à sobrevida, apenas a TPA, tanto breve quanto prolongada, melhorou significativamente a sobrevida global, em 9% e 14%, respectivamente.

  • Após 48 meses, a recidiva bioquímica foi associada a um aumento significativo do risco de mortalidade, sendo esse risco 2,46 vezes maior nos pacientes submetidos ao aumento da dose de radioterapia, 1,51 vez maior para a TPA breve e 2,31 vezes maior após o prolongamento da TPA.

  • No entanto, após um ajuste por incidência de recidiva bioquímica após 48 meses, não houve efeito significativo do tratamento sobre a sobrevida global (razão de risco [RR] de 1,10; [intervalo de confiança (IC) de 95% de 0,96 a 1,27]; RR de 0,96 [IC 95% de 0,87 a 1,06]; e RR de 1,00 [IC 95% de 0,90 a 1,12], respectivamente).

  • A correlação individual entre o tempo até o aparecimento da recidiva bioquímica e a sobrevida global foi baixa após a censura de dados devido a mortes não relacionadas ao câncer. A correlação entre a sobrevida livre de recidiva bioquímica e a sobrevida global variou entre baixa e moderada.

Implicações práticas:
De forma geral, “os resultados sugerem fortemente que os desfechos baseados na recidiva bioquímica não devem ser usadas como desfecho primário em estudos randomizados relacionados ao câncer de próstata localizado”, concluíram os autores. Além disso, eles acrescentaram que a sobrevida livre de metástases representa uma métrica mais adequada.
Limitações:

  • Os estudos analisados utilizaram diferentes definições de recidiva bioquímica, desde a definição mais antiga da American Society of Therapeutic Radiation and Oncology até os critérios de Phoenix, mais atuais.

  • Alguns estudos foram realizados há mais de 20 anos, e inúmeros fatores, como seleção de pacientes, estadiamento, critérios diagnósticos e abordagens terapêuticas, evoluíram nesse período.

  • A qualidade de vida não foi avaliada.

Fonte: 
O estudo foi liderado pelo autor sênior Dr. Amar Kishan, médico vinculado à David Geffen School of Medicine, da University of California, nos EUA. A pesquisa foi publicada on-line em 28 de agosto no periódico Journal of Clinical Oncology.
O estudo recebeu apoio do Cancer Research UK, do National Health Service (NHS) do Reino Unido, dos Prostate Cancer National Institutes of Health Specialized Programs of Research Excellence, do Department of Defense do Reino Unido, da Prostate Cancer Foundation e da American Society for Radiation Oncology. Os conflitos de interesses de todos os autores estão detalhados no artigo publicado .

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape

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