Um modelo de terapia cognitivo-comportamental de precisão feita pela internet, criado por uma equipe internacional de pesquisadores dos Estados Unidos, do México e da Colômbia, é uma alternativa barata, acessível e eficaz para o tratamento dos transtornos depressivos e de ansiedade em um grupo de estudantes de graduação com esses distúrbios, segundo um estudo publicado no periódico JAMA Psychiatry. [1]
A pesquisa foi feita com 1.319 estudantes universitários com transtornos depressivos e de ansiedade que foram randomizados para três grupos: de terapia cognitivo-comportamental com um terapeuta à distância (pela internet); de terapia cognitivo-comportamental auto-orientada (sem o apoio de um terapeuta); ou um tratamento convencional oferecido pelos serviços de saúde da sua comunidade como controle.
Os pesquisadores descobriram que os estudantes do grupo que fizeram terapia comportamental cognitiva orientada tiveram índices mais elevados de remissão conjunta dos transtornos (51,8%), em comparação aos participantes dos grupos que receberam terapia auto-orientada (37,8%) ou terapia convencional (40%). No entanto, estas diferenças não foram significativas para o quadro de ansiedade.
Especificamente, os pesquisadores descobriram que a terapia cognitivo-comportamental orientada teve mais probabilidade de levar à remissão conjunta dos transtornos depressivos e de ansiedade (91,7% dos estudantes); a intervenção também teve maior probabilidade de remissão do transtorno de ansiedade entre os participantes, bem como a maior probabilidade de remissão dos transtornos depressivos (71,5% dos participantes).
Os resultados desta análise podem servir para melhorar o atendimento psicológico, uma vez que ajudam na escolha da modalidade de tratamento, especialmente nas instituições de saúde mental com poucos recursos técnicos e humanos.

Dra. Corina Benjet Miner, Ph.D.
"Começamos a planejar o estudo antes da pandemia de covid-19, com a intenção de otimizar o atendimento nos casos desses problemas de saúde mental. Queríamos procurar outras estratégias para isso e a emergência da crise de saúde pública nos ajudou, porque, embora isso venha sendo pesquisado há muitos anos, antes as pessoas não viam com bons olhos as intervenções on-line, mas com a pandemia não havia outra opção", comentou numa entrevista para o Medscape a Dra. Corina Benjet Miner, Ph.D., psicóloga e primeira autora do estudo.
A pesquisadora, afiliada à Dirección de Investigaciones Epidemiológicas y Psicosociales do Instituto Nacional de Psiquiatría Ramón de la Fuente, no México, estimou que, dada a alta prevalência de distúrbios psiquiátricos antes e especialmente depois da pandemia, não existe nenhum sistema de saúde no mundo que possa oferecer atendimento presencial para todas as pessoas que sofrem de transtornos depressivos ou de ansiedade. "Então, a ideia é procurar outras estratégias custo-efetivas que possam escalar nossas intervenções e alcançar um maior número de pessoas sem perder a qualidade do atendimento", disse a Dra. Corina.

Juana Olvera Mendez
"Acho que [o modelo de precisão] é uma proposta muito boa e que pode poupar recursos econômicos e deslocamentos. Ele possibilita o atendimento imediato dos pacientes sem que eles precisem fazer um processo terapêutico [presencial], em que o tratamento depende muito da forma como o terapeuta aborda o caso", disse a psicóloga Juana Olvera Mendez, professora pesquisadora que trabalha com a técnica cognitivo-comportamental em psicologia clínica na Facultad de Estudios Superiores Iztacala (FESI) da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM).
Os estudantes analisados vieram de sete universidades da Colômbia e do México, tinham 18 anos ou mais e apresentavam pontuações ≥ 10 no teste de autorrelato de transtorno da ansiedade generalizada com 7 itens (GAD-7) e escores de transtornos depressivos ≥ 10 no questionário de saúde do paciente de 9 itens (PHQ-9), também por autorrelato.
Preditores de prescrição
Antes de atender estes estudantes, a equipe de pesquisadores utilizou alguns critérios de exclusão, como história de transtorno bipolar, de transtorno psicótico sem transtornos do humor e de ideação suicida com tentativas suicidas. Os pesquisadores também usaram preditores de prescrição (284 no total) para antecipar a resposta diferencial ao tratamento da ansiedade e da depressão.
Com estes preditores agrupados em 11 categorias conceituais (como características demográficas, fatores de estresse ligados à covid-19 ou comorbidade de transtornos mentais), bem como o uso de algoritmos de aprendizagem automática, os autores conseguiram prever, de forma personalizada, a probabilidade de remissão que os participantes tinham em cada um dos grupos nos quais estavam divididos.
"Para os transtornos depressivos, em particular, descobrimos que 28,5% dos pacientes poderiam ter efeitos melhores ou os mesmos efeitos fazendo o programa auto-orientado (em comparação ao programa orientado), portanto pode ser enorme o número de pessoas que se beneficiariam de uma terapia sem custos", disse a Dra. Corina.
A pesquisadora considerou que, embora existam inúmeras pesquisas na medicina de precisão que tentaram determinar o tratamento mais adequado para cada paciente, "estes estudos não têm o número de preditores com os quais lidamos nesta pesquisa e acredito que esta seja uma vantagem importante".
Além disso, a especialista esclareceu que não foram observadas diferenças em termos da satisfação dos pacientes entre as versões orientada e não orientada do tratamento, então agora é preciso descobrir por que a primeira funciona melhor. Um fato relevante é que os pacientes acessaram (pela internet) o programa orientado por profissional duas vezes mais do que aqueles que usaram a versão auto-orientada, mas o tempo de uso não é suficiente para explicar os melhores desfechos.
"Pensamos que os pacientes estabelecem algum tipo de parceria com os orientadores, que não estão fazendo terapia, mas apenas dando recomendações em breves interações com os pacientes uma vez por semana. Algo tem a ver com a parceria, além do maior tempo de interação com a plataforma, o que resulta em melhores desfechos com a versão guiada", disse a Dra. Corina.
Ao mesmo tempo, a autora reconheceu que uma das principais limitações deste estudo é comparar três modalidades terapêuticas, uma vez que a terapia convencional recebida pelo grupo controle não foi homogênea, pois cada uma das sete universidades de onde vieram os alunos oferece recursos diferentes para esse fim. "Algumas faculdades, como a UNAM, têm serviços muito formais, com equipes de psicólogos e psiquiatras, enquanto outras não têm este tipo de serviço ou cobrem outros aspectos, como a orientação vocacional. Portanto, é muito difícil determinar exatamente que tipo de atendimento é prestado aos pacientes, porque não é homogêneo [entre as instituições]", disse a psicóloga.
Juana explicou que, às vezes, são necessárias até nove sessões de avaliação com testes psicométricos e depois uma avaliação da intervenção ao paciente. "Este estudo não se aprofunda nisso, mas se concentra na atenção, por isso seria importante saber qual é o diagnóstico dos participantes, que podem ter diferentes graus de transtornos depressivos e de ansiedade. Valeria a pena perguntar o que acontece se um participante precisar de apoio ou de atendimento psiquiátrico."
Além disso, Juana, que atende em terapia psicológica presencial e on-line no Centro de Apoyo y Orientación para Estudiantes da FES Iztacala, indicou que seria importante monitorar atentamente os resultados obtidos, para ver se eles se mantêm em curto e longo prazo. A professora acredita que este modelo pode ser levado a outros tipos de pacientes que necessitam de atenção por quadros de ansiedade ou depressão, desde que saibam lidar com as tecnologias da informação e da comunicação.
A Dra. Corina considerou este modelo de precisão, que também pode ser utilizado em celulares ou tablets, em longo prazo pode ser usado em centros de atendimento primário ou no atendimento a populações vulneráveis de regiões rurais. "A ideia é chegar a um ponto em que esses algoritmos sejam suficientemente precisos e tenham um poder preditivo muito bom, para que o médico possa usá-los, sempre pensando em encontrar o melhor tratamento com o menor custo, para que seja sustentável", concluiu.
Este estudo é financiado pelo subsídio número R01MH120648 do National Institute of Mental Health e do Fogarty International Center. A Dra. Corina Benjet Miner, Ph.D., declarou não ter conflitos de interesses relevantes ao tema; as declarações dos outros autores estão no site da publicação.
Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape
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Créditos:
Imagem principal: Ksenia Zvezdina/Dreamstime
Imagem 1: Dra. Corina Benjet Miner, Ph.D.
Imagem 2: Juana Olvera Mendez
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Citar este artigo: Terapia cognitivo-comportamental on-line é eficaz contra transtornos depressivos e de ansiedade, diz estudo - Medscape - 13 de setembro de 2023.
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