Se não for tratada, a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode levar à síndrome de imunodeficiência adquirida. O perfil da população de pacientes com a infecção vem sendo notado pelo seu "envelhecimento", visto que, nos Estados Unidos, a metade dessa população é composta de pessoas com 50 anos ou mais.
Entre as mulheres recém-diagnosticadas com o vírus, 19% tinham entre 45 e 54 anos e 17% tinham 55 anos ou mais, de acordo com os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA. Os pesquisadores agora avaliam a associação entre o HIV e a menopausa — e o impacto do vírus na saúde da mulher pode ser significativo.
"Estudos mostraram que a menopausa precoce pode ocorrer cinco anos antes em mulheres com o HIV do que naquelas sem o vírus", disse a Dra. Monica Gandhi, médica e professora de medicina na University of California, nos EUA, e diretora na Ward 86 HIV Clinic do San Francisco General Hospital. "As razões para isso podem ser infecção crônica, níveis mais baixos de estrogênio, resposta crônica ao estresse, imunodeficiência e alterações metabólicas que podem ocorrer com o HIV, como alterações de peso e resistência à insulina, ou uso regular de medicamentos."
Há uma série de implicações para a saúde das mulheres que entram na menopausa mais cedo, como um risco maior de osteoporose por redução da densidade óssea.
"O HIV é um fator de risco bem estudado para a osteoporose", disse a Dra. Anna Hachfeld, médica sênior no Departamento de Doenças Infecciosas do Bern University Hospital, na Suíça, e uma das primeiras autoras de um estudo recente que avaliou as implicações da menopausa precoce e da infecção por HIV na saúde. "Pessoas que vivem com HIV têm, em geral, mais fatores de risco não relacionados ao vírus, como tabagismo ou consumo de álcool. Como o HIV, a menopausa é um fator de risco para a osteoporose, e isso provavelmente é mediado por alterações hormonais."
Mas há muito que se pode fazer para manter a saúde nesses casos. Um novo estudo canadense constatou que as mulheres soropositivas que têm acesso a boa assistência de saúde passam pela menopausa em idades semelhantes às de mulheres soronegativas, por exemplo.
Como as mulheres mais velhas contraem o HIV?
O vírus é transmitido da mesma forma para todos: através de fluidos corporais, como sangue, fluido vaginal ou sêmen. A Mayo Clinic, nos EUA, explica que o HIV é transmitido por contato sexual e por sangue infectado, através da amamentação ou durante o parto.
Na verdade, é mais fácil uma mulher mais velha se infectar com o HIV por meio do sexo do que outras pessoas, de acordo com o Department of Health and Human Services Office on Women's Health dos EUA. Isso porque, após a menopausa, a falta de lubrificação vaginal aumenta o risco de pequenas lesões, pelas quais o vírus pode ser transmitido.
As mulheres com o HIV têm sintomas diferentes no climatério?
"Estudos mostraram que mulheres com o HIV têm uma prevalência maior de sintomas de climatério do que mulheres sem o vírus, mesmo em idades semelhantes. Um grande estudo apontou que os sintomas da menopausa mais comuns entre mulheres com o HIV foram dores articulares, ondas de calor, exaustão e distúrbios do sono", disse a Dra. Monica.
As que têm o HIV também notam que seus ciclos menstruais não mudam gradualmente — eles podem simplesmente parar de repente.
"Mulheres com o HIV apresentam três vezes mais probabilidade de ter períodos de ausência da menstruação, em comparação com aquelas sem o vírus", disse a Dra. Anna M. Powell, professora assistente de ginecologia e obstetrícia e codiretora no Johns Hopkins HIV Women's Health Program da Johns Hopkins Medicine, nos EUA.
É possível, porém, que a ausência de menstruação realmente tenha a ver com outro problema de saúde. Uma revisão da University of British Columbia, no Canadá, mostrou que, em vários estudos, as mulheres com o HIV atingiam a menopausa em média entre 46 e 50 anos de idade. Entre aquelas que chegaram à menopausa precocemente, uma alta porcentagem apresentou insuficiência ovariana primária, que também pode causar a interrupção da menstruação. Embora a insuficiência ovariana primária não seja um quadro especificamente ligado ao HIV, ambos estão associados à osteoporose.
É importante fazer uma confirmação bioquímica da menopausa para que quaisquer sintomas sejam tratados com a abordagem correta.
Que mudanças fazer para lidar com a menopausa e o HIV?
É importante se concentrar na saúde geral neste momento. Pesquisadores britânicos que trataram mulheres com o HIV durante a transição da menopausa constataram que essas pacientes apresentavam uma alta taxa de outras doenças durante a menopausa, o que mostra a necessidade de as mulheres controlarem o HIV nessa fase de suas vidas. Além disso, uma equipe de pesquisa de várias universidades descobriu que a menopausa está associada à ativação imunológica em mulheres com HIV. Isso acontece por meio de disfunções no microbioma intestinal e pode tornar as pacientes mais propensas a complicações da infecção, como doenças cardíacas e câncer.
Manter uma dieta balanceada é uma ótima maneira de reduzir o risco de ambas as doenças. Além disso, uma nova pesquisa mostra que as mulheres com o HIV geralmente perdem peso em vez de ganhá-lo na menopausa. Isso pode ocorrer devido a uma reação ao tratamento antirretroviral, que usa medicamentos padrão para controlar o HIV. É fundamental que, simultaneamente ao tratamento, a paciente também consuma calorias suficientes.
O uso de bebida alcoólica pode não ser adequado para quem tem o HIV, especialmente o consumo excessivo. É importante que médico e paciente discutam sobre a ingestão de álcool nesses casos.
Em geral, mudanças no tratamento não devem gerar preocupação.
"A menos que a paciente esteja em um regime antirretroviral mais antigo contendo certos inibidores de protease, como fosamprenavir, ou certos inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa, como efavirenz, os medicamentos para o HIV não precisam ser ajustados", disse a Dra. Anna.
Para prevenir a osteoporose, o médico deve pensar em estratégias para aumentar a ingestão de cálcio — um suplemento de vitamina D pode ajudar.
O tratamento de reposição hormonal pode ser feito por um breve período se médico e paciente concluirem que é uma boa escolha para aliviar os sintomas.
"Os sintomas da menopausa são subtratados e o tratamento de reposição hormonal é subutilizado em mulheres com o HIV", destacou a Dra. Anna.
"Tratamentos seguros e eficazes para a menopausa já estão disponíveis", disse ela. "Com o advento de regimes antirretrovirais mais toleráveis e seguros, as mulheres com o HIV estão vivendo bem em seus anos de pós-menopausa."
Fontes:
Dra. Monica Gandhi, médica e professora de medicina da University of California, San Francisco; diretora da Ward 86 HIV Clinic, San Francisco General Hospital/UCSF, nos EUA.
Dra. Anna Hachfeld, médica sênior, Departamento de Infectologia, Bern University Hospital, Suíça.
Dra. Anna M. Powell, médica e professora assistente de ginecologia e obstetrícia, e co-diretora do Johns Hopkins HIV Women's Health Program, Johns Hopkins Medicine, EUA.
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Citar este artigo: Menopausa pode chegar antes para mulheres com HIV - Medscape - 5 de julho de 2023.
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