Método canguru reduz risco de sepse em recém-nascidos prematuros e de baixo peso, diz pesquisa

Giuliana Miranda

8 de junho de 2023

A adoção imediata do método canguru, que envolve contato pele a pele entre bebê e cuidador, reduz o risco de sepse em recém-nascidos prematuros e de baixo peso. A afirmação é de um novo estudo conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado no periódico eClinicalMedicine ─ parte do The Lancet Discovery Science. [1]

O ponto principal do método canguru é o contato direto entre o recém-nascido e seu responsável. No procedimento, o bebê é posicionado na vertical sobre o peito do cuidador pelo maior tempo possível. O ajuste da posição é feito com o auxílio de uma tipoia, faixa de tecido ou bandagem especial. A alimentação é feita preferencialmente via aleitamento materno exclusivo.

Os achados contrariam o temor de médicos e cientistas de que a presença da mãe e de outros responsáveis nas unidades de atenção neonatal aumente a incidência de infecção entre bebês prematuros. “Na realidade, a pesquisa mostra que permitir o cuidado imediato da ‘mãe-canguru’ não aumenta [os casos de] sepse neonatal, mas reduz”, afirmou a primeira autora do estudo, Dra. Sugandha Arya, pesquisadora afiliada ao Vardhman Mahavir Medical College & Safdarjung Hospital na Índia.

Em comunicado oficial, o Dr. Anshu Banerjee, diretor do Departamento de Saúde Materna, Neonatal, Infantil e do Adolescente da OMS, destacou os resultados encontrados. “A pesquisa indica que iniciar o método canguru assim que o bebê nasce — mesmo antes de atingir um quadro estável — fornece aos recém-nascidos prematuros e com baixo peso a melhor proteção contra infecções graves”, afirmou.

Detalhes da pesquisa

O estudo é uma análise post hoc de um ensaio clínico anterior sobre a aplicação imediata do método canguru, que foi realizado em cinco unidades de terapia intensiva neonatal em cinco países: Gana, Índia, Malawi, Nigéria e Tanzânia.

Mais de 3,2 mil recém-nascidos foram avaliados no estudo. O peso dos participantes ao nascer era entre 1 kg e 1,8 kg. Eles foram randomizados entre dois grupos: método canguru (n = 1.609 bebês) e atenimento convencional (n = 1.602). No grupo de intervenção, o método canguru foi realizado uma hora após o nascimento e, no grupo de controle, os neonatos permaneceram em uma incubadora com controle térmico até a estabilização clínica.

Em comparação com o grupo controle, a intervenção reduziu em 14% as suspeitas de sepse em recém-nascidos com baixo peso e em 37% as mortes relacionadas ao quadro. Quanto ao risco de morte por sepse, a queda foi de 25%.

Mudanças nas diretrizes

Em novembro de 2022, impulsionada pelos bons resultados internacionais da prática, a OMS realizou uma alteração nas diretrizes de cuidados para neonatos pré-termo (nascidos com menos de 37 semanas de gestação) ou com baixo peso, [] 3 ] passando a recomendar a adoção imediata do método canguru.

Na ocasião, a OMS já destacava diversos benefícios da prática na saúde dos bebês, como melhor regulação de temperatura corporal, menos casos de infecção e melhora da alimentação.

Diante do estudo em tela, a entidade salientou que as novas evidências sobre os benefícios do contato pele a pele podem levar a uma alteração profunda no funcionamento das unidades de cuidados neonatais em todo o mundo.

No Brasil, o método canguru faz parte dos procedimentos de atenção humanizada ao recém‑nascido previstos pelo Ministério da Saúde, e as diretrizes para a sua aplicação estão detalhadas em um guia. [] 4 ]

Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....