Queimaduras: um grave problema de saúde pública no Brasil

Monica Tarantino

7 de junho de 2023

O Brasil registra cerca de 1 milhão de casos de queimadura por ano. Destes, aproximadamente 100 mil precisam de atendimento médico e 2,5 mil evoluem para óbito, direta ou indiretamente relacionado com as lesões. “São dados do Ministério da Saúde, conhecidos há bastante tempo, o que evidencia a persistência do problema em nossa sociedade”, disse ao Medscape a Dra. Kelly Danielli de Araújo, cirurgiã plástica e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). 

Noventa e cinco por cento dos casos de queimadura no mundo concentram-se nos países em desenvolvimento, e há uma associação entre determinadas faixas etárias/grupos de risco e cada tipo de queimadura. “As escaldaduras, por líquidos livres, como água e óleo, são comuns em crianças e mulheres, enquanto os homens adultos são mais propensos a se queimar com chamas diretas e álcool”, disse a Dra. Kelly. A maioria dos acidentes (70%) ocorre dentro de casa.

Tema de campanhas de prevenção da SBQ, a ocorrência de queimaduras elétricas prevalece em homens de 19 a 59 anos, e a construção civil informal destaca-se como um grave fator de preocupação. “As pessoas constroem suas casas fazendo ligações elétricas dentro de casa, usando fontes de energia elétrica irregulares”, afirmou a médica, apontando que a principal medida preventiva para diminuir o número de acidentes são as campanhas. “Elas têm de chegar a pessoas de todas as idades e ambientes, visando informar tanto os idosos quanto as crianças. No entanto, é importante reconhecer os desafios envolvidos nesse processo, pois muitos pais não levam a sério a importância de informar os filhos sobre como se proteger das queimaduras e acreditam, erroneamente, que não serão afetados por esse problema”, disse a Dra. Kelly.

A médica defende a necessidade de educar as crianças em idade escolar sobre o tema, para que possam atuar como agentes multiplicadores no contexto familiar. Também é crucial a criação de leis de proteção no ambiente de trabalho, bem como garantir que essas leis sejam efetivamente aplicadas.

“O principal desafio enfrentado no sistema de saúde brasileiro é ainda não ter sido estabelecida uma linha de cuidado multiprofissional que ofereça o atendimento especializado ao queimado, desde a triagem inicial até o suporte domiciliar e ambulatorial”, disse a especialista, complementando que a integração entre as redes pública e suplementar, com auxílio da telemedicina e envolvimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e postos de pronto atendimento, faz parte desse processo.

A SBQ e o Ministério da Saúde iniciaram conversas nesse sentido: “Tivemos um primeiro workshop diagnosticar a situação nos estados e discutir uma linha de atenção aos queimados. Para se ter ideia, há estados que sequer possuem um centro especializado para tratar queimaduras”, relatou. 

Em relação a avanços no tratamento, a Dra. Kelly disse que as primeiras 48 horas são cruciais para uma boa evolução, no entanto, há dificuldades de acesso a insumos no Brasil. Ainda não estão disponíveis medicamentos como, por exemplo, membrana amniótica e uma droga produzida a partir da enzima do abacaxi, já aprovadas nos Estados Unidos e na Europa; além de todo um arsenal de novos recursos, como terapia com células-tronco, impressão 3D de pele, curativos inteligentes e terapia a laser.

O Dia Nacional de Luta contra Queimaduras, celebrado em 06 de junho, tem o propósito de conscientizar sobre os perigos das queimaduras e medidas preventivas.

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