Inibidores do ponto de controle imunitário em pacientes oncológicos que vivem com HIV: dados do mundo real

Sharon Worcester

6 de junho de 2023

Os ensaios clínicos geralmente excluem pacientes oncológicos com infecção concomitante pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), gerando uma escassez de dados sobre a ação dos inibidores do ponto de controle imunitário nessa população de pacientes. Agora, a análise retrospectiva de um banco de dados mostra que a classe farmacológica têm ação em diversos tipos de câncer em pessoas que vivem com HIV, e não está associada a aumento da toxicidade.

Os achados “se somam ao progressivo corpo de evidências que embasam o uso de inibidores do ponto de controle imunitário em pessoas com HIV para melhorar sua inclusão em ensaios clínicos dessa classe farmacológica”, escreveram os pesquisadores, liderados pelo Dr. Talal El Zarif, médico do Dana-Farber Cancer Institute, nos Estados Unidos.

O estudo foi publicado on-line em 16 de maio no periódico Journal of Clinical Oncology.

A pesquisa foi baseada em uma análise de dados do Cancer Therapy Using Checkpoint Inhibitors in People Living With HIV-International Consortium (CATCH-IT).

A equipe de pesquisadores identificou 390 pacientes com HIV e câncer que receberam pelo menos uma dose de um inibidor do ponto de controle imunitário, dentre os quais 70% receberam monoterapia contra a proteína de morte celular programada do tipo 1 ou contra o ligante 1 da morte celular programada (anti-PD-1/anti-PD-L1).

Esses pacientes tinham média de idade de 58 anos, 85% eram do sexo masculino e 36% eram negros.

Os tipos de câncer mais comuns entre os pacientes foram câncer de pulmão amicrocítico (28%), carcinoma hepatocelular (11%) e carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço (10%).

As taxas de resposta global foram de 69% para câncer de pele (exceto melanoma), 31% para câncer de pulmão amicrocítico, 16% para carcinoma hepatocelular e 11% para carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço, observaram os pesquisadores.

Eventos adversos relacionados ao sistema imunitário ocorreram em 79 (20%) dos 390 pacientes incluídos no estudo, e 30 desses pacientes apresentaram eventos de grau 3 ou superior.

Vale ressaltar que 30% das pessoas com o HIV tratadas com inibidores do ponto de controle imunitário tinham contagens de células T CD4+ inferiores a 200 células/µL ao início do estudo — e a incidência de eventos adversos relacionados ao sistema imunitário foi semelhante nesses pacientes e em pacientes com contagens de células T CD4+ superiores a 200 células/µL.

Comparação com controles pareados

Uma análise adicional comparou uma coorte de 61 pacientes com HIV e câncer de pulmão amicrocítico metastático com uma coorte de 110 controles pareados que não tinham o HIV para verificar os efeitos dos inibidores do ponto de controle imunitário em cada uma delas.

A ação e a segurança dos inibidores do ponto de controle imunitário foram semelhantes entre os dois grupos, disseram os pesquisadores.

Para os pacientes com câncer de pulmão amicrocítico, houve uma diferença na média de tempo de sobrevida restrita ajustada de 42 meses entre os pacientes com e sem o HIV de 2,23 meses para sobrevida global e - 0,06 meses para sobrevida livre de progressão da doença.

Além disso, as taxas de sobrevida global em 24 meses para pessoas com HIV foram de 42,3% versus 41,5% para pessoas sem o vírus, e as taxas de sobrevida livre de progressão da doença em 24 meses foram de 17,8% vs. 18,4%, respectivamente. A taxa de resposta global foi semelhante entre os dois grupos (28% para pessoas com o HIV vs. 36% para pessoas sem o vírus, P = 0,31).

Os eventos adversos relacionados ao sistema imunitário ocorreram em 20% das pessoas com o HIV e em 22% das pessoas sem o vírus, sendo que 12% vs. 9,1% desses eventos foram de grau 3 ou superior, exigindo o uso de corticoesteroides sistêmicos em 9,8% e 15% dos casos, respectivamente.

Estudos futuros comparando grandes coortes pareadas de pessoas com HIV e outros tipos de câncer são necessários para comparações com a população em geral, sugeriram os pesquisadores.

O registro CATCH-IT “representa uma oportunidade única para subanálises adicionais do mundo real de desfechos clínicos de pessoas com HIV recebendo inibidores de ponto do controle imunitário que podem orientar os oncologistas que tratam dessa população peculiar enquanto aguardamos os resultados dos ensaios clínicos em andamento com esses fármacos”, acrescentaram.

O Dr. Talal El Zarif informou não ter conflitos de interesses. Muitos dos coautores têm relações com empresas farmacêuticas, listadas no artigo original.

J Clin Oncol. Publicado on-line em 16 de maio de 2023.  Abstract

Sharon Worcester é uma premiada jornalista, especializada em medicina, que mora em Birmingham nos EUA. Ela escreve para o Medscape, MDedge e outros sites afiliados. Atualmente, Sharon escreve sobre oncologia, mas já cobriu várias outras especialidades médicas e assuntos de saúde. Seu endereço de e-mail é  sworcester@mdedge.com  e sua conta no Twitter,   @SW_MedReporter .

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape .

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