KEYNOTE-826: pembrolizumabe aumenta sobrevida no câncer de colo do útero

Neil Osterweil

5 de junho de 2023

Estados Unidos — Um novo padrão terapêutico para câncer do colo do útero persistente, recidivante ou metastático em pacientes sem história de quimioterapia é o tratamento de primeira linha com inibidor do ponto de controle imunológico pembrolizumabe + quimioterapia à base de platina + paclitaxel (associado ao bevacizumabe ou não).

O esquema é proposto com base nos resultados de sobrevida global do estudo randomizado de fase 3 KEYNOTE-826, segundo o qual a adição de imunoterapia reduziu o risco de morte em 40%, em comparação com a quimioterapia isolada, para pacientes com câncer de colo do útero avançado com expressão do ligante 1 da morte celular programada (PD-L1).

“Nesta análise final especificada pelo protocolo do KEYNOTE-826, a adição de imunoterapia à quimioterapia com ou sem o antiangiogênico bevacizumabe mostrou melhora substancial e clinicamente significativa na sobrevida”, disse o primeiro autor do estudo, Dr. Bradley J. Monk, médico afiliado ao HonorHealth Research Institute, nos EUA.

Ele falava em uma coletiva de imprensa realizada antes do encontro da American Society of Clinical Oncology (ASCO) 2023 nos EUA, onde os resultados foram apresentados (abstract 5.500).

“Os resultados deste estudo consolidam a adição de pembrolizumabe à quimioterapia com ou sem bevacizumabe em pacientes com câncer de colo de útero persistente, recidivante ou metastático como padrão de primeira linha no tratamento para esta doença. A sobrevida melhorou significativamente com esta abordagem, independentemente da expressão de PD-L1, embasando ainda mais seu uso para todos os pacientes nesta população”, comentou a Dra. Merry Jennifer Markham, especialista da ASCO e médica afiliada à University of Florida, nos EUA.

Na apresentação, o Dr. Bradley levantou a possibilidade de que a adição de imunoterapia ao tratamento padrão poderia oferecer uma chance de cura para algumas pacientes com câncer de colo do útero avançado ou recidivante.

“É possível curar um câncer amplamente metastático, um tumor sólido? Acho que sim”, disse ele. “Há uma cauda nessa curva [de sobrevida], e não consigo acreditar que todos nós, como uma equipe, descobrimos que podemos realmente curar algumas pacientes ou, talvez se não curar, pelo menos fazer com que vivam muito tempo. É emocionante.”

A Dra. Julie R. Gralow, médica, diretora clínica e vice-presidente executiva da ASCO, concordou que a melhora na sobrevida “é emocionante de ver e, em minha longa carreira como oncologista de mama, tenho certeza de que curamos alguns tipos de câncer de mama metastático. Nós tivemos pacientes que viveram sua expectativa de vida normal e morreram por outra causa depois de décadas”.

“Mas, infelizmente, a definição de cura nessas situações é que a paciente morre por outra causa, sem evidência de doença. Então certamente precisamos melhorar e estar mais aptos a usar a palavra ‘cura’ no cenário metastático”, ela acrescentou.

Começo promissor

Conforme relatado anteriormente pelo Medscape, desde 2014 o tratamento convencional para pacientes com câncer de colo de útero persistente, recidivante ou metastático é a quimioterapia com um composto de platina + paclitaxel + bevacizumabe, com base nos resultados do estudo GOG 240.

A imunoterapia com inibidores da proteína 1 da morte celular programada (PD-1) já havia demonstrado eficácia em monoterapia como tratamento de segunda linha ou posterior para pacientes com câncer de colo de útero, mas o KEYNOTE 826 foi o primeiro estudo a mostrar seus benefícios no tratamento de primeira linha.

Na análise preliminar do estudo, relatada na reunião anual de 2021 da European Society for Medical Oncology (ESMO), após um acompanhamento mediano de 22 meses, a combinação de pembrolizumabe + quimioterapia levou a melhora significativa na sobrevida livre de progressão e na sobrevida global em comparação com quimioterapia + placebo em uma população selecionada por biomarcador, que consistia em pacientes com uma pontuação positiva combinada para PD-L1 ≥ 1.

No entanto, o pembrolizumabe não teve eficácia aparente em pacientes cujos tumores não apresentavam PD-L1 detectável.

Últimos resultados

Agora, os pesquisadores estão relatando a análise final, realizada após um acompanhamento mediano de 39,1 meses. Os resultados englobam todos os participantes (308 randomizados para receber pembrolizumabe + quimioterapia, e 309 que receberam quimioterapia + placebo), a população selecionada pelo biomarcador (todos os pacientes com pontuação positiva combinada para PD-L1 ≥ 1) e a subpopulação de pacientes com pontuação de PD-L1 ≥ 10.

Na população que abrange todos os participantes, a sobrevida global mediana foi de 26,4 meses para pacientes que receberam pembrolizumabe, em comparação com 16,8 meses para aquelas que receberam placebo. As taxas de sobrevida global de 24 meses foram de 52,1% e 38,7%, respectivamente. A diferença se traduziu em uma razão de risco (RR) para morte com pembrolizumabe de 0,63 (p < 0,0001).

Na população selecionada por biomarcador (273 randomizados para pembrolizumabe e 275 para placebo), a sobrevida global mediana respectiva foi de 28,6 meses versus 16,6 meses, com taxas de sobrevida global de 24 meses de 53,5% vs. 39,4%, o que se traduz em uma RR para morte com pembrolizumabe de 0,60 (p < 0,0001).

Não surpreendentemente, as melhores respostas à adição do inibidor de PD-1 foram observadas entre pacientes com pontuação combinada de PD-L1 ≥ 10 (158 designados para pembrolizumabe e 159 para placebo). Neste subgrupo, a mediana de sobrevida foi de 29,6 meses com pembrolizumabe + quimioterapia vs. 17,4 meses para quimioterapia + placebo. As respectivas taxas de sobrevida global após 24 meses foram de 54,4% e 42,5%, e a RR para a sobrevida global foi de 0,58 (p < 0,0001), favorecendo o pembrolizumabe.

As taxas de sobrevida livre de progressão em 12 meses também favoreceram o fármaco tanto na população total de pacientes quanto nos grupos selecionados por biomarcadores, com sobrevida livre de progressão mediana de aproximadamente 10,4 meses com pembrolizumabe vs. aproximadamente 8,2 meses com placebo.

O perfil de segurança foi administrável, com eventos adversos ocorrendo conforme o esperado de acordo com os perfis de segurança de cada medicamento no regime combinado. Nenhum novo alerta de segurança foi observado desde a análise preliminar, disse o Dr. Bradley.

Detalhes do esquema de tratamento

Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente em uma proporção de 1:1 para receber pembrolizumabe 200 mg ou placebo a cada três semanas por até 35 ciclos mais quimioterapia à base de platina, com bevacizumabe adicionado a critério dos pesquisadores. Aproximadamente dois terços dos pacientes em cada braço do estudo receberam bevacizumabe.

Os desfechos primários duplos de sobrevida livre de progressão e sobrevida global foram avaliados sequencialmente em pacientes com uma pontuação combinada de PD-L1 ≥ 1 tanto na população de intenção de tratar, ou “todos os inscritos”, como em pacientes com uma pontuação de PD-L1 ≥ 10.

As características dos pacientes foram geralmente bem equilibradas entre os grupos de tratamento, exceto por uma proporção ligeiramente maior de pacientes no braço do pembrolizumabe com tumores de histologia de células escamosas em comparação com o grupo placebo (76,3% vs. 68,3%).

O estudo KEYNOTE-826 foi financiado pela Merck & Co. O Dr. Bradley J. Monk recebeu honorários e participou do grupo de consultores da Merck e de outras companhias. A Dra. Julie R. Gralow já atuou como consultora para Genentech e Roche. A Dra. Merry Jennifer Markham já atuou como consultora para a GSK e recebeu fundos de pesquisa institucionais da Merck e de outras companhias.

American Society of Clinical Oncology (ASCO) 2023: Abstract 5.500.

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape

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