O risco de câncer gastrointestinal pode aumentar em função do índice de massa corporal (IMC) elevado e de alterações no IMC ao longo do tempo, segundo novos dados do Prostate, Lung, Colorretal and Ovarian (PLCO) Cancer Screening Trial.
Os pesquisadores constataram que o sobrepeso ou a obesidade no início e no meio da vida adulta estavam associados a um maior risco de câncer colorretal e de outras neoplasias gastrointestinais. Entre indivíduos com obesidade ou sobrepeso, manter ou aumentar o IMC ao longo do tempo também estava associado a um maior risco de câncer gastrointestinal.
O uso de ácido acetilsalicílico não modificou significativamente essas associações, sugerindo que o fármaco não seja tão eficaz na prevenção do câncer em indivíduos com obesidade ou sobrepeso.
Os resultados fornecem "mensagens relativamente confiáveis de que o sobrepeso ou a obesidade desde o início até o final da idade adulta, bem como o aumento do IMC ao longo da idade adulta, estão associados a um risco elevado de tumores gastrointestinais, especialmente o colorretal", comentaram as Dras. Mengyao Shi, médica, e Yin Cao, Ph.D., ambas afiliadas à Washington University School of Medicine nos Estados Unidos, no editorial que acompanha o estudo.
Esses "importantes achados destacam a necessidade pendente de identificar a crucial janela de tempo que une a adiposidade ao câncer gastrointestinal", ressaltaram as editorialistas.
A análise foi publicada on-line em 10 de maio no periódico JAMA Network Open.
Um corpo de evidências progressivo indica a forte associação entre obesidade e tumores gastrointestinais, sendo a inflamação crônica uma causa provável. À medida que a incidência de sobrepeso e obesidade aumenta, faz-se cada vez mais necessário compreender melhor a associação entre obesidade e câncer.
Detalhes do estudo
Os pesquisadores Dr. Holli A. Loomans-Kropp, Ph.D., afiliado à Ohio State University, e o Dr. Asad Umar, Ph.D., afiliado ao National Cancer Institute, ambas as instituições nos Estados Unidos, avaliaram associações entre o risco de câncer gastrointestinal e o IMC no início da idade adulta (20 anos), na meia-idade (50 anos) e no fim da idade adulta (≥ 55 anos) em 135.161 adultos inscritos no PLCO Cancer Screening Trial.
O IMC foi determinado a partir da altura e do peso referidos pelos próprios pacientes. A média de idade no momento da entrada no estudo foi de 62 anos, e 50% dos participantes eram mulheres. Sobrepeso foi classificado como IMC de 25,0 a 29,9 kg/m² e obesidade como IMC ≥ 30 kg/m².
Durante os 21 anos de acompanhamento, 2.803 indivíduos apresentaram câncer colorretal, e 2.285 evoluíram com outras neoplasias gastrointestinais (esofágica, hepática, gástrica e pancreática).
O IMC indicando sobrepeso em todas as fases da idade adulta foi associado a um maior risco de câncer colorretal (razão de riscos [RR] de 1,23 para os primeiros anos e para o período intermediário; RR de 1,21 para os anos finais). O IMC indicando obesidade também foi associado ao aumento do risco nas fases intermediária e final da idade adulta (RR de 1,55 e 1,39, respectivamente).
Os autores observaram associações semelhantes entre o IMC no meio e no fim da idade adulta e o risco de neoplasias gastrointestinais, tanto na análise total (quando considerados todos os tipos de neoplasias gastrointestinais) quanto na análise específica para neoplasias não colorretais.
“Quando foi utilizada modelagem contínua, observamos, a cada acréscimo de uma unidade no IMC, um aumento de 2% a 4% no risco de câncer colorretal e de outras neoplasias gastrointestinais além do câncer colorretal, em todos os pontos de tempo”, calcularam os pesquisadores.
Os dados também sugerem que o IMC ao longo do tempo possa estar associado ao risco de câncer gastrointestinal. Indivíduos com sobrepeso ou obesidade que não apresentaram alterações no IMC entre o início e o final da idade adulta, e indivíduos que apresentaram aumentos no IMC, passando de baixo peso ou normal no início da idade adulta para sobrepeso ou obesidade no final da idade adulta, apresentaram um risco significativamente maior de câncer colorretal e de outras neoplasias gastrointestinais além do câncer colorretal.
Entre os indivíduos com uso constante de ácido acetilsalicílico, os com IMC indicando sobrepeso ou obesidade no início, metade e final da idade adulta apresentaram um maior risco de neoplasia gastrointestinal não colorretal e de câncer colorretal (RR de 1,44, 1,45 e 1,43, respectivamente).
O achado de que o uso semanal regular de ácido acetilsalicílico não modificou a associação entre o câncer gastrointestinal e o IMC sugere que a obesidade possa alterar o efeito que o fármaco exerce de prevenção contra o câncer, propuseram os pesquisadores. Indivíduos com obesidade podem precisar aumentar a frequência ou a dose para que se observe um efeito, mas aumentar a dose traz seus próprios riscos, como sangramento gastrointestinal.
Em geral, até agora, a maioria dos estudos epidemiológicos examinou o IMC em um determinado momento, "perdendo a oportunidade de delinear a contribuição da adiposidade ao longo da vida", explicaram as editorialistas, as Dras. Shi e Cao.
"À medida que continuamos a investigar intervenções precisas para interferir na associação entre obesidade e câncer, é imperativo reiterar a importância de manter peso e estilo de vida saudáveis desde a juventude, e incorporá-los amplamente nas estratégias de prevenção do câncer em todos os níveis, com implementação imediata", concluíram elas.
O estudo foi financiado, em parte, por verbas da Ohio State University e dos National Institutes of Health. Os autores do estudo informaram não ter conflitos de interesses relevantes. A Dra. Yin Cao recebeu honorários da Geneoscopy para consultoria.
JAMA Netw Open. Publicado on-line em 09 de maio de 2023. Texto completo, Editorial
Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape
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Citar este artigo: IMC elevado na vida adulta e o risco de câncer gastrointestinal: 21 anos de acompanhamento - Medscape - 26 de mai de 2023.
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