
Dra. Aline Serfaty
Nesta seção a Dra. Aline Serfaty resume artigos recém-publicados nos principais jornais de radiologia e diagnóstico por imagem. A Dra. Aline é formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), fez residência médica na Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI), fellowship no Hospital Saint Antoine, na França, e mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é diretora do Setor de Ressonância Magnética da clínica Medscanlagos, no Rio de Janeiro.
1. A partir de imagens de TC, IA identifica a mioesteatose como principal preditor de morte em adultos assintomáticos
O mundo está testemunhando um momento inédito de oferta de alimentos supercalóricos e um aumento dramático da população sedentária, particularmente em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Esse conjunto de fatores favorece o armazenamento do excesso de energia na forma de lipídios no tecido adiposo, o que pode levar à obesidade. O índice de massa corporal (IMC) é a métrica usada para avaliar a gravidade da obesidade e, quando elevado, está associado a risco elevado de eventos adversos. No entanto, grandes estudos populacionais relatam que pacientes com IMCs semelhantes podem ter diferentes comorbidades e níveis de risco para a saúde. Durante a última década, relatórios de imagem baseados em tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) mostraram que o IMC não reflete bem a composição corporal. De fato, o acúmulo de massa muscular e/ou gordura entre órgãos abdominais (gordura “visceral”) ou em tecido não adiposo, como no fígado (esteatose hepática) e nos músculos (mioesteatose), está mais associado ao grau de risco à saúde do que o IMC. O acúmulo silencioso de gordura ectópica é hoje considerado um dos principais fatores de risco de morte, independentemente da obesidade.
O objetivo deste estudo (retrospectivo e realizado em um único centro) foi utilizar métricas de composição corporal baseadas em imagens de TC abdominais de rotina. A IA analisou os exames de imagem de adultos assintomáticos para esclarecer a associação entre obesidade, esteatose hepática, miopenia, mioesteatose e o risco de morte.
Os pesquisadores incluíram pacientes ambulatoriais consecutivos, adultos, submetidos ao rastreamento de rotina de câncer colorretal entre abril de 2004 e dezembro de 2016. Usando o algoritmo U-Net, as seguintes métricas de composição corporal foram extraídas de tomografias computadorizadas abdominais multidetectores de baixa dosagem e sem contraste: área muscular total, densidade muscular, área de gordura subcutânea e visceral e densidade volumétrica do fígado. Composição corporal alterada foi definida pela presença de esteatose hepática, obesidade, infiltração gordurosa muscular (mioesteatose) e/ou baixa massa muscular (miopenia). As incidências de morte e de eventos cardiovasculares adversos maiores foram registradas durante um acompanhamento de 8,8 anos em média. Análises multivariadas foram realizadas considerando idade, sexo, tabagismo, mioesteatose, esteatose hepática, miopenia, diabetes tipo 2, obesidade, gordura visceral e história de eventos cardiovasculares.
Ao todo, foram incluídos 8.982 pacientes ambulatoriais consecutivos (idade média de 57 anos ± 8 [desvio padrão]; 5.008 mulheres, 3.974 homens). A composição corporal alterada foi encontrada em 86% (434 de 507) dos pacientes que morreram durante o acompanhamento. A mioesteatose foi encontrada em 278 dos 507 pacientes (55%) que morreram (risco absoluto de 15,5% em 10 anos). Mioesteatose, obesidade, esteatose hepática e miopenia foram associadas a maior risco de morte. Em 8.303 pacientes (excluindo 679 pessoas sem dados completos), após o ajuste multivariado, a mioesteatose permaneceu associada a risco de morte elevado.
Para lembrar: O perfil da composição corporal baseado em análise de IA a partir de TC abdominais de rotina identificou a mioesteatose como um preditor-chave do risco de morte em adultos assintomáticos. |
Referência:
Nachit M, Horsmans Y, Summers RM, Leclercq IA, Pickhardt PJ. AI-based CT body composition identifies myosteatosis as key mortality predictor in asymptomatic adults. Radiology [Internet]. 2023;222008. Available from: http://dx.doi.org/10.1148/radiol.222008
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Citar este artigo: Clube de Revistas: GPT-4 em provas de radiologia e outros estudos - Medscape - 25 de mai de 2023.
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