Novo recurso para predição do risco de alergia a amendoim em lactentes com dermatite atópica

Brittany Elyse Vargas

23 de maio de 2023

Os pediatras podem ter, em breve, um novo recurso para estimar de forma mais precisa o risco de alergia a amendoim em lactentes com dermatite atópica.

Pesquisadores da Northwestern University Feinberg School of Medicine, nos Estados Unidos, criaram um escore para identificar e avaliar a gravidade da dermatite atópica em bebês de vários tons de pele e, em seguida, predizer o risco de alergia a amendoim. O estudo sobre a implementação da ferramenta foi apresentado na reunião de 2023 das Pediatric Academic Societies (PAS) em Washington, capital dos EUA.

Em comparação com lactentes sem dermatite atópica, os que apresentam a enfermidade têm probabilidade até seis vezes maior de desenvolver alergia a ovo e 11 vezes maior de alergia a amendoim ao longo do primeiro ano de vida.

O escore reflete as diretrizes recentes do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) dos EUA, que visam o combate a esse importante problema de saúde pública.

Dra. Waheeda Samady

"Quando as diretrizes do NIAID sobre a prevenção da alergia a amendoim foram publicadas, recomendavam que os pediatras atuassem na linha de frente para implementá-las, identificando as crianças com risco de alergia a amendoim e orientando as famílias sobre o que fazer a seguir", disse a Dra. Waheeda Samady, professora de pediatria na Northwestern University Feinberg School of Medicine. "O objetivo do estudo é ajudar ainda mais os pediatras no desempenho desse papel."

Embora os pediatras estejam capacitados para identificar e até mesmo tratar casos leves a moderados de dermatite atópica, pouca ênfase tem sido dada à classificação da doença de acordo com a gravidade dos sinais e sintomas e à correlação da dermatite com o risco de alergia a amendoim.

O escore idealizado no estudo foi baseado em 14 fotografias de 13 lactentes, sendo que dentre eles havia um pardo, dois brancos, dois negros e dois hispânicos.

Para a criação da ferramenta, dois dermatologistas pediátricos avaliaram 58 fotografias de 13 crianças e classificaram as imagens numa escala de zero (sem sinais de dermatite atópica) a quatro (sinais graves de dermatite atópica). Após uma primeira classificação, houve uma concordância entre os médicos em 84% das imagens.

Dos 189 pediatras que utilizaram a ferramenta, menos da metade relatou ter utilizado o escore "às vezes", "muito frequentemente" ou "sempre" para avaliação da dermatite atópica. Menos de 75% dos pediatras relataram uma melhora na capacidade de diagnosticar e classificar a dermatite atópica.

Dra. Kawaljit Brar

"A classificação da gravidade da dermatite atópica não é algo que o pediatra generalista necessariamente realiza no seu dia a dia", disse a Dra. Kawaljit Brar, professora de pediatria na divisão de alergia e imunologia do Hassenfeld Children's Hospital, nos EUA.

A Dra. Kawaljit explicou que as crianças identificadas como de alto risco são frequentemente encaminhadas para especialistas como ela, que realizam o rastreamento de alergias e conseguem determinar se a introdução alimentar doméstica é segura ou se é necessário proceder com uma introdução alimentar supervisionada por um alergologista. Os pesquisadores descobriram que a introdução precoce do amendoim na alimentação de crianças com dermatite atópica moderada a grave poderia prevenir a alergia a amendoim.

"Isso representa uma iniciativa maravilhosa na capacitação dos pediatras, para que eles saibam quais pacientes precisam ser rastreados para a alergia a amendoim e quais pacientes já podem iniciar a ingestão de amendoim em casa", disse a Dra. Kawaljit.

O escore de dermatite atópica reflete um reconhecimento crescente de que tons de pele diversos apresentam níveis de gravidade incongruentes.

"Muitos de nós, na prática clínica, reconhecemos que a nossa formação nem sempre foi inclusiva em relação a pacientes com tons de pele diversos", disse a Dra. Waheeda. "Quando procuramos fotos de pacientes com tons de pele diferentes, simplesmente não encontramos nenhuma que fosse adequada. Nesse momento, decidimos tirar algumas fotos (e ainda estamos tirando) para aperfeiçoar o escore disponível atualmente."

O estudo foi financiado pelo National Institute of Health and Food Allergy Research and Education (FARE). A Dra. Waheeda Samady e a Dra. Kawaljit Brar informaram não ter conflitos de interesses relevantes. 

Reunião de 2023 das Pediatric Academic Societies (PAS): Pôster 380.

Brittany Elyse Vargas é uma repórter freelancer que cobre notícias urgentes e temas relacionados à medicina.

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape

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