Em um estudo publicado no periódico Gut Microbes, [1] especialistas afiliados à International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics (ISAPP) levantam questionamentos quanto à segurança do consumo de probióticos, principalmente por populações vulneráveis (recém-nascidos, gestantes, pessoas com síndrome do intestino curto, imunocomprometidas, etc.). Segundo os autores, embora haja comprovação de eventos adversos, são necessárias mais pesquisas para preencher as lacunas sobre os possíveis impactos negativos do consumo de probióticos, como a transferência de genes de resistência a antibióticos à microbiota intestinal e interações com medicamentos.
Incorporados oficialmente ao léxico da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em 2001, os probióticos são definidos atualmente como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro”. [2] No entanto, como os primeiros probióticos eram associados a alimentos naturalmente fermentados (iogurtes, por exemplo) e não eram vistos como medicamentos, seus potenciais efeitos adversos foram pouco monitorados e o uso, regulado. Nos últimos anos, porém, os estudos clínicos vêm dando mais atenção às possíveis complicações associadas ao uso desses micro-organismos.
Diante da escassez de estudos e da difusão do uso de probióticos em pacientes vulneráveis, a ISAPP convocou um encontro de especialistas para avaliar os dados existentes e elaborar recomendações sobre os possíveis riscos a essa população, além de produzir orientações quanto à avaliação da segurança desses produtos.
Sequenciamento genômico é fundamental
Na avaliação dos pesquisadores, um ponto básico para caracterizar a segurança e a eficácia dos probióticos, sobretudo antes da incorporação de novas espécies aos processos de produção de alimentos ou suplementos, é a realização de um sequenciamento genético completo.
“Isso permite a atribuição da cepa a um determinado grupo taxonômico, permitindo a revisão dos riscos publicados associados à espécie. [Um sequenciamento completo do genoma] também permite a identificação no nível da cepa, o que pode ser importante para rastreá-la durante a produção e investigar a etiologia de infecções suspeitas. Além disso, o genoma pode ser analisado quanto a quaisquer genes de preocupação, [como os ligados a] toxigenicidade, patogenicidade e resistência a antibióticos”, destaca o artigo.
Em estudo publicado em 2022, Alexander Crits-Christoph et al., afirmam que a análise genômica também ajudaria a evitar o uso de novos probióticos que possam contribuir para a resistência a antibióticos nos pacientes. [3]Há vários anos, a possibilidade de transferência de genes de resistência para a microbiota intestinal é uma preocupação dos cientistas.
Cuidados essenciais
Os cuidados com a segurança dos produtos também incluem um controle rígido sobre a pureza e a dosagem de probióticos, além da garantia de ausência de contaminantes. “Como eles devem ser administrados vivos, o risco de contaminação com microrganismos patogênicos ou potencialmente patogênicos é maior do que em produtos que passam por um processo intencional de esterilização”, alertam os autores.
Nesse sentido, a manipulação e a administração corretas dos probióticos também são essenciais. Antes da prescrição aos pacientes, deve-se considerar o estado de saúde e potenciais riscos.
Um exemplo de risco em potencial foi levantado pelo Probiotics in Pancreatitis Trial (PROPATRIA), [4]cujos resultados sugerem que a administração nasojejunal de algumas formulações de probióticos a pacientes com quadros clínicos graves pode ser contraindicada.
Os autores do estudo em tela concluem que são necessárias mais pesquisas sobre os efeitos de longo prazo dos probióticos, sobretudo em grupos mais vulneráveis, além da adoção de metodologias mais rigorosas para coleta de informações e notificação sobre efeitos colaterais.
Embora reafirme que as avaliações de segurança dos probióticos sejam fundamentais, a ISAPP considera que elas devem estar alinhadas com os requisitos regulatórios atuais para medicamentos biológicos e transplantes microbianos fecais.
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Créditos: Imagem principal: Dreamstime
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Citar este artigo: Probióticos são seguros para população geral, mas uso por pessoas vulneráveis exige atenção - Medscape - 11 de mai de 2023.
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