Cães detectam covid-19 em crianças e adolescentes assintomáticos

Diana Swift

3 de maio de 2023

Cães farejadores são usados há muito tempo para detectar quadros clínicos que vão desde hipoglicemia até câncer, malária, convulsões iminentes e migrânea — sem falar no rastreio de explosivos e narcóticos.

Recentemente, a sensibilidade do olfato canino foi testada como estratégia de rastreamento para infecção por SARS-CoV-2 em crianças e adolescentes assintomáticos. Um estudo piloto, liderado pela Dra. Carol A. Glaser, médica no California Department of Public Health, nos Estados Unidos, constatou que cães treinados conseguem detectar o odor de compostos orgânicos voláteis (COVs) produzidos por pessoas com covid-19 com uma precisão >95%.

“Este é um novo programa, cuja pesquisa está em andamento, então seria prematuro considerá-lo do ponto de vista de um consumidor”, disse a Dra. Carol em entrevista. “No entanto, os dados parecem promissores e esperamos poder continuar a testar diferentes possibilidades em vários ambientes, para ver se e onde os cães podem ser usados para detecção biomédica.”

No laboratório e em campo

Em um estudo publicado on-line no periódico JAMA Pediatrics, Dra. Carol et al. constatam que, após dois meses de treinamento em laboratório com amostras de odor associado à covid-19, os cães detectaram infecção pelo SARS-CoV-2 em mais de 95% das vezes. Testes de antígenos foram usados como referência comparativa.

Em termos médicos, os cães alcançaram uma precisão superior a 95% em duas importantes medidas de eficácia: sensibilidade (capacidade de detectar corretamente a doença) e especificidade (capacidade de apontar com precisão que não há doença e indicar resultado negativo).

Em seguida, os pesquisadores realizaram testes de campo em 50 visitas a 27 escolas de 1º de abril a 25 de maio de 2022, para comparar a capacidade de detecção dos cães com a do teste de antígeno convencional feito em laboratório. O rastreamento totalmente voluntário analisou 1.558 participantes com idade entre 9 e 17 anos. Destes, 56% eram do sexo feminino e 89% eram estudantes. Quase 70% foram rastreados pelo menos duas vezes.

Ao todo, o teste de campo comparou 3.897 rastreamentos pareados de antígenos versus cães. Os cães sinalizaram com precisão 85 infecções e descartaram a presença do vírus em 3.411 análises, com uma acurácia geral de 90%. Em 383 casos, no entanto, eles sinalizaram incorretamente a infecção (falsos positivos) e não identificaram 18 infecções (falsos negativos). Isso se traduziu em uma sensibilidade em campo de 83%, consideravelmente menor do que o desempenho do teste laboratorial.

O rastreamento com cães feito diretamente em pessoas no ambiente externo ao laboratório envolveu fatores circunstanciais que provavelmente contribuíram para a diminuição da sensibilidade e da especificidade, reconheceram os autores. Entre esses fatores, foram citadas distrações, como barulho e a presença de crianças pequenas agitadas, bem como condições ambientais, como vento e outros odores. E quanto à fobia de cachorro e alergia a pelo de cachorro? “A avaliação pelos cães leva apenas alguns segundos por aluno e os cães geralmente não tocam o participante enquanto andam por uma fila e farejam os tornozelos”, explicou a Dra. Carol.

Quanto às alergias, o exame rápido na altura do tornozelo ocorreu em ambientes externos. “O risco de alergias é muito baixo, semelhante ao de alguém que está andando na calçada e passa por um cachorro”, disse a Dra. Carol.

No ano passado, um estudo britânico com quase 4.000 adultos avaliou seis cães treinados para detectar diferenças nos COVs emitidos por pessoas infectadas e não infectadas pelo SARS-CoV-2. Com amostras de ambos os grupos, os cães foram capazes de distingui-las com uma sensibilidade variando de 82% a 94% e uma especificidade de 76% a 92%. E eles foram capazes de sentir o cheiro dos COVs mesmo quando a carga viral estava baixa. O estudo também avaliou sensores orgânicos, que se mostraram ainda mais precisos que os animais.

De acordo com o primeiro autor do estudo britânico, Dr. James G. Logan, Ph.D., especialista em controle de doenças afiliado à London School of Hygiene & Tropical Medicine, na Inglaterra, “diagnósticos a partir de odores usando cães e/ou sensores podem ser uma ferramenta rápida e eficaz para rastrear um grande número de pessoas. A modelagem matemática sugere que o rastreamento por cães mais um teste de PCR confirmatório podem detectar até 89% das infecções por SARS-CoV-2, evitando a transmissão até 2,2 vezes mais, em comparação com o isolamento apenas de indivíduos sintomáticos”.

O estudo foi financiado pela Centers for Disease Control and Prevention Foundation (CDCF) por meio do envio de fundos à Early Alert Canines para a compra e cuidado dos cães e o apoio dos manipuladores e treinadores. A CDCF não teve outro papel no estudo. A coautora Carol A. Edwards, afiliada à Early Alert Canines, relatou ter recebido subsídios da CDCF.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com ─ Medscape Professional Network

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