COMENTÁRIO

Psoríase, risco cardiovascular e medicamentos cardiológicos: atenção a isso!

Dr. Mauricio Wajngarten

Notificação

2 de maio de 2023

Com alguma frequência, encontramos nos consultórios pacientes com psoríase. A princípio, a razão da consulta não tem relação com esse quadro. Porém, a conexão entre doenças cardiovasculares, psoríase, artrite psoriásica e outras doenças reumatológicas está cada vez mais clara.

Essas patologias inflamatórias elevam os riscos cardiovasculares e temos de reforçar as medidas preventivas. Foi exatamente o que procurei fazer com uma paciente que atendi. Ela tinha psoríase extensa que não melhorava, além de também apresentar taquicardia e hipertensão arterial sistêmica. Receitei um betabloqueador cardiosseletivo e um bloqueador dos receptores de angiotensina II (BRA), com bom resultado. Paralelamente, uma dermatologista prescrevia tratamentos para a psoríase, sem melhoras significativas. A paciente ficava frustrada e incomodada com o desconforto físico e psicológico causado pela doença. Em determinado momento, recebi uma educada mensagem da dermatologista sugerindo a suspensão do betabloqueador devido à possibilidade de o medicamento influir negativamente na evolução da doença dermatológica. Eu não tinha a menor ideia disso! Fui estudar e encontrei muitas informações, entre elas:

Revisão no Journal of the American College of Cardiology [1]

Essa revisão foi “tema do mês”, muito abrangente e profunda. Os pontos de destaque, em resumo, são:

  • A psoríase afeta 2% a 3% da população dos Estados Unidos;

  • A resposta imune na psoríase inclui mecanismos associados à inflamação vascular e ao desenvolvimento da aterosclerose;

  • Pacientes com psoríase têm até 50% mais chances de desenvolver doença cardiovascular (CV), e esse risco aumenta com a piora na gravidade do quadro cutâneo;

  • As principais diretrizes defendem a incorporação da psoríase em estratégias de predição e prevenção de risco CV;

  • Mais estudos são necessários para definir tratamentos cardiovasculares e dermatológicos que reduzam o risco CV.

Importante: essa revisão não contemplou eventuais problemas associados aos medicamentos cardiológicos.

Metanálise sobre uso de anti-hipertensivos em pacientes com psoríase [2]

Este estudo analisou as associações entre uso de anti-hipertensivos e a incidência de psoríase por meio de revisão sistemática e metanálise.

Foram selecionados 13 estudos incluindo quase 6,5 milhões de indivíduos e oito estudos para metanálise de rede com mais de 5,5 milhões de indivíduos. Os autores concluíram que “o estudo confirmou as associações entre medicamentos anti-hipertensivos e psoríase; inibidores da enzima conversora de angiotensina, betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio e diuréticos tiazídicos aumentaram o risco de psoríase. Portanto, os usuários de medicamentos anti-hipertensivos devem ser cuidadosamente monitorados quanto à psoríase”.

Importante: a introdução do estudo apontou prevalência da psoríase de 0,1% a 11%, sendo mais comum em populações caucasianas e escandinavas, especialmente em pessoas mais velhas e em países com altos índices socioeconômicos.

Implicações

Um artigo de 2017 analisou a possibilidade de medicamentos provocarem ou exacerbarem a psoríase. A pesquisa enfatizou essa associação principalmente com uso de betabloqueadores, mas também com lítio, fármacos antimaláricos — como (hidroxi)cloroquina —, interferons, imiquimode (quimioterápico) e terbinafina (antifúngico). Ainda, alertou para possíveis efeitos associados ao uso de anticorpos monoclonais e de medicamentos oncológicos e imunológicos. [3]

É importante aumentar a conscientização quanto ao problema. Evidentemente, o primeiro passo prático é reconhecer um potencial fármaco causador do problema, suspendê-lo e substituí-lo por um medicamento alternativo quando possível.

O Medscape, recentemente, comentou a relevância da criação da área da Cardiorreumatologia [4]para aumentar a eficiência dos cuidados cardiovasculares em pacientes com doenças reumatológicas (inclusive a artrite psoriásica).

O que eu fiz? Agradeci à dermatologista e, empiricamente, troquei o betabloqueador por verapamil (compartilhando a informação com a colega). Esse medicamento, que, em tese, também pode influir na psoríase, nos pareceu a melhor opção. Agora é acompanhar e torcer.

Vivendo e aprendendo!

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