Tratamento da fibrilação atrial com ablação por cateter junto com tratamento clínico pode oferecer maior proteção contra comprometimento cognitivo do que o tratamento clínico isolado, sugere uma nova pesquisa.
Os pesquisadores observaram que os adultos que já haviam sido submetidos a ablação por cateter tiveram uma probabilidade significativamente menor de apresentar comprometimento cognitivo durante o período de estudo de dois anos, em comparação com aqueles que receberam apenas tratamento clínico.

Dr. Bahadar Srichawla
“A ablação por cateter visa interromper a fibrilação atrial e restaurar o ritmo cardíaco normal. Ao fazer isso, há uma melhora do perfil hemodinâmico cerebral”, explicou ao Medscape o Dr. Bahadar S. Srichawla, médico osteopata do Departamento de Neurologia da University of Massachusetts Chan Medical School, nos Estados Unidos.
“Assim, os resultados cognitivos de longo prazo podem ser melhorados devido ao melhor fluxo sanguíneo para o cérebro ao restaurar o ritmo cardíaco normal”, acrescentou.
Os achados foram apresentados em 24 de abril na Reunião Anual de 2023 da American Academy of Neurology (AAN).
Conexão entre o coração e o cérebro
A pesquisa foi realizada com 887 idosos (média de idade de 75 anos; 49% mulheres) com fibrilação atrial que participaram do estudo SAGE-AF (Systematic Assessment of Geriatric Elements).
Um total de 193 (22%) participantes foi submetido à ablação por cateter antes da inclusão no estudo. A maioria desses pacientes tinha um dispositivo cardíaco implantável (46% versus 28%, P < 0,001) e fibrilação atrial persistente (31% vs. 23%, P < 0,05).
A função cognitiva foi avaliada usando a ferramenta Montreal Cognitive Assessment (MoCA) no início do estudo e nos períodos de um e dois anos. O comprometimento cognitivo foi definido como uma pontuação na MoCA ≤ 23.
Os pacientes submetidos a ablação por cateter tiveram uma pontuação média na MoCA de 25 em comparação com uma pontuação média de 23 entre os pacientes que não realizaram o procedimento.
Após o ajuste por possíveis fatores de confusão, como doença cardíaca, doença renal, apneia do sono e pontuação de risco de fibrilação atrial, os pacientes que foram submetidos à ablação por cateter tiveram 36% menos probabilidade de evoluir com comprometimento cognitivo em dois anos do que aqueles que foram tratados apenas com medicamentos (razão de chances ajustada = 0,64; intervalo de confiança de 95% de 0,46 a 0,88).
Durante sua apresentação, o Dr. Bahadar destacou que existe a hipótese de que os indivíduos que são anticoagulados com varfarina sejam mais suscetíveis a micro-hemorragias cerebrais e tenham maior comprometimento cognitivo ao longo do tempo.
Contudo, em uma análise de subgrupos, “a função cognitiva foi semelhante em dois anos de acompanhamento nos pacientes anticoagulados com varfarina em comparação com todos os outros anticoagulantes. No entanto, deve-se observar que, neste estudo, não foi feita uma comparação direta”, disse o Dr. Bahadar aos participantes.
“Em pacientes com fibrilação atrial, a ablação por cateter deve ser discutida como uma possível estratégia terapêutica, particularmente em pacientes que têm ou estão em risco de declínio cognitivo e demência”, disse o Dr. Bahadar ao Medscape.
Achados intrigantes
Convidado pelo Medscape a comentar a pesquisa, o Dr. Percy Griffin, Ph.D., diretor de engajamento científico da Alzheimer's Association, disse que o estudo é “intrigante e se soma ao que sabemos de pesquisas anteriores que relacionam a saúde cardiovascular a saúde cognitiva”.
“No entanto, o estudo tem limitações”, disse o Dr. Percy, “dentre as quais sua coorte predominantemente branca e o uso apenas de testes neuropsiquiátricos para diagnosticar a demência. Mais pesquisas são necessárias para entender completamente o impacto da fibrilação atrial nos desfechos cognitivos em todas as pessoas”.
“Sabe-se que o coração e o cérebro estão intimamente conectados. Indivíduos com doença cardiovascular devem falar com seus médicos”, acrescentou.
O Dr. Shaheen Lakhan, Ph.D., médico neurologista e pesquisador nos EUA, concordou.
“Se você se levantar muito rápido e se sentir tonto, é porque seu cérebro não está recebendo fluxo sanguíneo suficiente e você está recebendo todos os sinais de alerta para corrigir isso — ou alguma doença relacionada! Da mesma forma, com a fibrilação atrial, o coração está se contraindo, mas não de forma eficaz para bombear sangue para o cérebro”, disse ele ao Medscape.
“Esta linha de pesquisa mostra que corrigir o ritmo cardíaco anormal eliminando o circuito defeituoso com um cateter é realmente melhor para a saúde do cérebro do que apenas tomar medicamentos isolados”, acrescentou o Dr. Shaheen, que não participou do estudo.
O estudo não obteve financiamento comercial. Os Drs. Bahadar S. Srichawla, Percy Griffin e Shaheen Lakhan informaram não ter conflitos de interesses.
Reunião Anual de 2023 da American Academy of Neurology (AAN): Abstract 68. Apresentado em 24 de abril de 2023.
Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape .
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Citar este artigo: Fibrilação atrial: ablação pode proteger o cérebro no envelhecimento - Medscape - 2 de mai de 2023.
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