Expansão mundial de casos de arboviroses potencializada por aquecimento global, diz OMS

Giuliana Miranda

13 de abril de 2023

Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para recente aumento de casos de arboviroses em diversas regiões do mundo e associa notificações em regiões mais frias ao avanço do aquecimento global.

Em 2022, o Brasil registrou 1.016 mortes por dengue ─ maior valor da série histórica. Dados epidemiológicos do Ministério da Saúde [1]revelam expansão viral para o Sul do Brasil, com os três estados da região aparecendo entre os cinco primeiros em número de óbitos por dengue no território nacional.

A dengue agora passa a ser um desafio para muitos estados que antes não apresentavam um número significativo de casos, disse ao Medscape o Dr. André Siqueira, infectologista e pesquisador no Laboratório de Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz).

“Temos observado um aumento importante dos casos de arboviroses, principalmente de dengue e chikungunya. Há ainda uma expansão para estados que não tinham muita experiência prévia com essas infecções”, afirmou o médico.

Em coletiva de imprensa para a divulgação dos dados, a OMS destacou que a situação na Região das Américas, particularmente afetada por casos e mortes por arboviroses, é preocupante. Países mais ao sul do continente, como Paraguai, Bolívia e Peru, têm registrado cada vez mais casos da doença. “Isso é importante por duas razões principais: primeiro porque são áreas em que a população não tinha imunidade [contra os vírus causadores dessas doenças], ou seja, havia uma grande suscetibilidade à infecção. Além disso, os sistemas de saúde não estavam preparados para lidar com a complexidade do aumento exacerbado dos casos dessas doenças”, completou o Dr. André.

O infectologista destacou ainda que a rápida identificação dos pacientes com maior risco de evoluir com quadro grave é fundamental para combater a mortalidade associada às arboviroses. “Não há um tratamento específico para nenhuma dessas três arboviroses [zika, dengue e chikungunya]. O que nós temos, em termos de manejo, é [a possibilidade de] identificar a gravidade [do quadro] e fazer a hidratação [do paciente], que pode ser [por via] oral, mas, em casos mais graves, faz-se [por via] intravenosa. E isso precisa ser instituído da forma mais rápida possível [nos centros de saúde]”, salientou.

Segundo o Dr. Raman Velayudhan, Ph.D., responsável pela coordenação do controle da dengue e outras arboviroses na OMS, “As mudanças climáticas desempenharam um papel fundamental para facilitar a propagação dos mosquitos vetores”.

A OMS também demonstrou preocupação com a presença de mosquitos transmissores (Aedes aegypti, presente no Brasil, e Aedes albopictus, mais comum na Ásia) na Europa, onde 24 países já têm o vetor estabelecido. O continente também tem registrado regularmente casos de dengue e de chikungunya desde 2010. Embora ainda não haja dados concretos da Ásia, a OMS diz que a tendência “parece alarmante”.

Além da elevação global das temperaturas e de mudanças nos padrões de chuvas — que favorecem a proliferação dos mosquitos transmissores —, a organização aponta ainda outras razões para o aumento da incidência das arboviroses no mundo. Entre os motivos indicados estão a aceleração da urbanização, associada a problemas de saneamento básico, e também a volta da intensa circulação de pessoas após o fim das restrições impostas na pandemia de covid-19.

A OMS emitiu um alerta sobre o aumento da incidência de chikungunya no mundo todo. Até agora, 115 países já reportaram casos da doença, que pode provocar deficiências crônicas e ter um grande impacto na qualidade de vida.

“Ainda se tem muito desconhecimento quanto à chikungunya. É uma doença muito mais complexa do que se imaginava, que pode levar a um quadro inflamatório importante e, em algumas pessoas, a um quadro agudo grave. Contribui muito mais para a mortalidade do que se esperava”, disse o Dr. André.

Embora ainda responsável por menos casos em comparação com a dengue e a chikungunya, a circulação do vírus Zika também é motivo de preocupação para a OMS. Até agora, 89 países já identificaram infecções pelo patógeno. Além dos problemas causados pelo quadro em si, as autoridades chamam também a atenção para complicações como a síndrome de Guillain Barré e a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika.

A OMS instou especial atenção à disseminação das arboviroses, e se disse comprometida com a missão de ampliar as ferramentas de combate às infecções.

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