Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para recente aumento de casos de arboviroses em diversas regiões do mundo e associa notificações em regiões mais frias ao avanço do aquecimento global.
Em 2022, o Brasil registrou 1.016 mortes por dengue ─ maior valor da série histórica. Dados epidemiológicos do Ministério da Saúde [1]revelam expansão viral para o Sul do Brasil, com os três estados da região aparecendo entre os cinco primeiros em número de óbitos por dengue no território nacional.
A dengue agora passa a ser um desafio para muitos estados que antes não apresentavam um número significativo de casos, disse ao Medscape o Dr. André Siqueira, infectologista e pesquisador no Laboratório de Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz).
“Temos observado um aumento importante dos casos de arboviroses, principalmente de dengue e chikungunya. Há ainda uma expansão para estados que não tinham muita experiência prévia com essas infecções”, afirmou o médico.
Em coletiva de imprensa para a divulgação dos dados, a OMS destacou que a situação na Região das Américas, particularmente afetada por casos e mortes por arboviroses, é preocupante. Países mais ao sul do continente, como Paraguai, Bolívia e Peru, têm registrado cada vez mais casos da doença. “Isso é importante por duas razões principais: primeiro porque são áreas em que a população não tinha imunidade [contra os vírus causadores dessas doenças], ou seja, havia uma grande suscetibilidade à infecção. Além disso, os sistemas de saúde não estavam preparados para lidar com a complexidade do aumento exacerbado dos casos dessas doenças”, completou o Dr. André.
O infectologista destacou ainda que a rápida identificação dos pacientes com maior risco de evoluir com quadro grave é fundamental para combater a mortalidade associada às arboviroses. “Não há um tratamento específico para nenhuma dessas três arboviroses [zika, dengue e chikungunya]. O que nós temos, em termos de manejo, é [a possibilidade de] identificar a gravidade [do quadro] e fazer a hidratação [do paciente], que pode ser [por via] oral, mas, em casos mais graves, faz-se [por via] intravenosa. E isso precisa ser instituído da forma mais rápida possível [nos centros de saúde]”, salientou.
Segundo o Dr. Raman Velayudhan, Ph.D., responsável pela coordenação do controle da dengue e outras arboviroses na OMS, “As mudanças climáticas desempenharam um papel fundamental para facilitar a propagação dos mosquitos vetores”.
A OMS também demonstrou preocupação com a presença de mosquitos transmissores (Aedes aegypti, presente no Brasil, e Aedes albopictus, mais comum na Ásia) na Europa, onde 24 países já têm o vetor estabelecido. O continente também tem registrado regularmente casos de dengue e de chikungunya desde 2010. Embora ainda não haja dados concretos da Ásia, a OMS diz que a tendência “parece alarmante”.
Além da elevação global das temperaturas e de mudanças nos padrões de chuvas — que favorecem a proliferação dos mosquitos transmissores —, a organização aponta ainda outras razões para o aumento da incidência das arboviroses no mundo. Entre os motivos indicados estão a aceleração da urbanização, associada a problemas de saneamento básico, e também a volta da intensa circulação de pessoas após o fim das restrições impostas na pandemia de covid-19.
A OMS emitiu um alerta sobre o aumento da incidência de chikungunya no mundo todo. Até agora, 115 países já reportaram casos da doença, que pode provocar deficiências crônicas e ter um grande impacto na qualidade de vida.
“Ainda se tem muito desconhecimento quanto à chikungunya. É uma doença muito mais complexa do que se imaginava, que pode levar a um quadro inflamatório importante e, em algumas pessoas, a um quadro agudo grave. Contribui muito mais para a mortalidade do que se esperava”, disse o Dr. André.
Embora ainda responsável por menos casos em comparação com a dengue e a chikungunya, a circulação do vírus Zika também é motivo de preocupação para a OMS. Até agora, 89 países já identificaram infecções pelo patógeno. Além dos problemas causados pelo quadro em si, as autoridades chamam também a atenção para complicações como a síndrome de Guillain Barré e a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika.
A OMS instou especial atenção à disseminação das arboviroses, e se disse comprometida com a missão de ampliar as ferramentas de combate às infecções.
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Citar este artigo: Expansão mundial de casos de arboviroses potencializada por aquecimento global, diz OMS - Medscape - 13 de abril de 2023.
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