Impacto da ioga em marcadores de fragilidade após os 80

Heidi Splete

22 de março de 2023

A prática de ioga está associada a melhora de diversos marcadores de fragilidade em idosos previamente sedentários, segundo uma revisão sistemática.

“Estima-se que até 50% dos idosos a partir de 80 anos sejam frágeis e que a prevalência global [de idosos frágeis] aumente [nos próximos anos] em função do envelhecimento populacional.” Portanto, são necessárias mais intervenções para diminuir a fragilidade, disse em uma entrevista a médica e autora correspondente Dra. Julia Loewenthal.

A ioga envolve diversos sistemas fisiológicos (musculoesquelético, nervoso, entre outros), disse a Dra. Julia, que é afiliada ao Brigham and Women's Hospital nos Estados Unidos. Pesquisas anteriores mostraram que a ioga tem um efeito positivo nos fatores de risco cardiovascular, humor e qualidade de vida, mas o impacto na fragilidade ainda não havia sido bem estudado.

“Nosso objetivo era avaliar se [a ioga] poderia ajudar a reduzir a fragilidade, já que as duas influenciam muitos sistemas”, observou ela.

Em uma revisão sistemática publicada no periódico Annals of Internal Medicine, os pesquisadores identificaram 33 estudos randomizados controlados sobre intervenções baseadas na prática de ioga, feitos com uma população total de 2.384 idosos com 65 anos ou mais. Os estudos analisaram principalmente o método Iyengar e outras modalidades conhecidas como "ioga em cadeira". As populações dos estudos eram compostas de idosos residentes na comunidade, moradores de casas de repouso e idosos com doenças crônicas.

Os estudos avaliaram o efeito de diversas modalidades de ioga sobre marcadores de fragilidade, como velocidade de marcha, força de preensão manual, equilíbrio, força e resistência de membros inferiores e medidas de desempenho físico compostas de vários fatores.

No geral, os indivíduos randomizados para a prática de ioga apresentaram um aumento da velocidade de marcha e da força em membros inferiores, em comparação com os participantes do grupo controle, que eram sedentários ou receberam apenas uma intervenção educacional, cujas evidências de benefício eram de certeza moderada. Os pesquisadores também encontraram evidências de baixa certeza favoráveis à prática de ioga para melhora do equilíbrio e de uma determinada medida de aptidão física multifatorial. Além disso, também foram obtidas evidências de baixa certeza favoráveis ao uso da ioga para melhora da força de preensão manual.

Os achados foram limitados por vários fatores, principalmente pela heterogeneidade dos desenhos dos estudos, das populações e dos estilos de ioga, observaram os pesquisadores. Outras limitações foram os tamanhos reduzidos das amostras, a variação nas descrições da randomização dos estudos e a falta de dados sobre raça e etnia dos participantes.

Papel da ioga no envelhecimento saudável

“De forma geral, não ficamos surpresos com os resultados, pois já vimos achados semelhantes relacionados a outras práticas [que envolvem] mente e corpo, como o tai chi”, disse a Dra. Julia em uma entrevista. “O que [realmente] nos surpreendeu foi o grau de melhora da velocidade de marcha apresentado por muitos participantes.”

“A prática de ioga geralmente é composta de diversas posições [em que o indivíduo fica] de pé, sentado e deitado”, disse a Dra. Julia. Alguns dos estudos incluídos na revisão também analisaram métodos nos quais os participantes ficam sentados em cadeiras, com poucas posições em pé. Além disso, alguns estudos testaram estilos suaves ou mais lentos. “Verificamos que muitos métodos [de ioga] aumentaram a força nos membros inferiores, e talvez também estejam aprimorando a coordenação entre o cérebro e o corpo [necessária] para o ato de caminhar.”

Os achados sugerem que os médicos podem olhar para a prática de ioga, de forma geral, como parte de uma estratégia para ajudar no envelhecimento saudável, disse a Dra. Julia. “Embora nossa revisão tenha analisado marcadores de fragilidade e não a fragilidade global, acho que seria razoável usar a ioga como uma estratégia combinada às intervenções já estabelecidas, como o treinamento de resistência e a dieta mediterrânea; no caso de idosos que já praticam a ioga, [a intervenção] poderia ajudá-los a entender como essa prática impacta o processo de envelhecimento.”

Existem muitos estilos de ioga que têm pontos em comum e estão relacionados entre si, por isso é difícil recomendar apenas um método, disse a Dra. Julia. Muitos dos estudos analisados na revisão testaram o método Iyengar (nomeado em homenagem ao mestre de ioga B. K. S. Iyengar), que foca o alinhamento do corpo e a respiração, e parece ser propício para idosos. O método Iyengar também envolve o uso de acessórios como blocos, almofadas, cintas e cadeiras, o que o torna adequado para indivíduos idosos com doenças crônicas ou outras limitações.

“Alguns estilos de ioga são muito intensos e podem gerar gastos energéticos e efeitos cardiovasculares semelhantes aos de exercícios aeróbicos, porém isso não ocorre na maioria dos estilos de ioga”, acrescentou ela.

Quanto à necessidade de mais pesquisas, “acho importante que os estudos usem uma definição validada de fragilidade como desfecho. Todos os estudos na nossa revisão usaram marcadores de fragilidade, mas não analisaram a fragilidade global”, disse a Dra. Julia. Além disso, é importante entender como a ioga afeta pacientes com diferentes níveis de fragilidade, visto que pesquisas anteriores mostraram que os pacientes mais frágeis se beneficiam mais das intervenções com atividade física.

Ioga como ponto de partida para a prática de atividade física

Com o aumento da população de idosos nos EUA e em todo o mundo, a fragilidade é um grande problema de saúde, por estar associada a declínios significativos na saúde dos indivíduos e a uma possível perda de independência, disse a Dra. Amanda Paluch, Ph.D., em uma entrevista.

“Portanto, é importante identificar intervenções que possam prevenir a fragilidade e aumentar a longevidade e a independência dos idosos. A ioga pode ser uma solução viável para promover a atividade [física] e prevenir a fragilidade”, disse a Dra. Amanda, professora assistente no departamento de cinesiologia da University of Massachusetts e no Institute for Applied Life Sciences, ambos nos EUA.

“Outros estudos demonstraram que atividades de baixa intensidade, como a ioga, podem ser especialmente benéficas para os idosos”, disse a Dra. Amanda. “Além disso, pesquisas demonstraram que exercícios de treinamento de equilíbrio são importantes para manter a aptidão física, prevenir quedas e manter a independência em idosos, portanto faz sentido que a ioga tenha sido associada à redução do risco de fragilidade.”

Embora seja possível alcançar mais benefícios com atividades de maior intensidade, “a ioga pode ser uma ótima maneira de iniciar [a prática de atividade física] em idosos que estão começando com atividades de baixa intensidade”, disse ela.

Para os médicos, o ponto principal do estudo é que os pacientes devem ser estimulados a aumentar os níveis de atividade física, de forma a contribuir para o envelhecimento saudável e reduzir os fatores de risco para fragilidade, disse a Dra. Amanda. “Especialmente em idosos, a atividade física talvez não precise ser de alta intensidade para gerar benefícios. Práticas como a ioga, que se concentram na flexibilidade, no equilíbrio e no movimento em intensidades mais baixas, podem ajudar no envelhecimento saudável, e a ioga pode ser uma opção especialmente benéfica para idosos mais sedentários.”

O estudo não recebeu financiamento externo. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo e a Dra. Amanda Paluch informaram não ter conflitos de interesses.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com ─ Medscape Professional Network

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