COMENTÁRIO

Modificando características raciais: um dilema na dermatologia cosmiátrica

Doug Brunk

22 de março de 2023

Na opinião da médica Dra. Nazanin A. Saedi, a insatisfação com a aparência causada pelo acesso às redes sociais está saindo de controle na área da dermatologia cosmiátrica, especialmente com o surgimento de aplicativos que filtram e editam imagens ao gosto do paciente.

Isso, associado à vasta quantidade de imagens de celebridades disponíveis em programas de televisão e em todas as plataformas de mídias sociais, está causando “modificações raciais”, visto que as alterações nos rostos levam a aparências semelhantes.

“A superexposição nas mídias sociais a imagens de celebridades e a rostos alterados trouxe uma tendência de [modificações faciais para ter] sobrancelhas arqueadas, narizes esculpidos, maçãs do rosto salientes e contornos mandibulares acentuadamente definidos”, comentou no Hawaii Dermatology Seminar a Dra. Nazanin, copresidente no centro de cirurgia estética e a laser da Dermatology Associates of Plymouth Meeting nos Estados Unidos. “Essas tendências estão aproximando a aparência de pessoas de diferentes etnias.”

Dr. Nazanin A. Saedi

No evento, Dr. Nazanin mostrou fotos de celebridades de diferentes origens étnicas em início de carreira: “todas tinham características singulares, que as faziam ter ótimas aparências”, disse a Dra. Nazanin, que também é médica e professora associada de dermatologia na Thomas Jefferson University nos EUA. Em seguida ela mostrou imagens das mesmas celebridades após procedimentos estéticos, indicando que “elas apresentam semblantes muito mais parecidos”, com sobrancelhas arqueadas, narizes esculpidos, maçãs do rosto salientes e contornos mandibulares acentuadamente definidos. “Se antes essas pessoas eram lindas individualmente, agora são todas muito parecidas”, registrou ela. “Isso é o que vemos nas redes sociais.”

Referindo-se à família Kardashian como exemplo de celebridades submetidas a muitos procedimentos estéticos e com aparências muito diferentes em relação a anos anteriores — e que estão “cada vez mais” em evidência —, ela acrescentou: “A superexposição contínua às pessoas nas redes sociais, principalmente às [imagens de] celebridades, é o que criou essa nova tendência de atratividade.”

Essa tendência também afeta os pacientes que procuram tratamentos estéticos, observou ela. Os indivíduos podem usar um aplicativo para alterar sua fisionomia, “mudando sua aparência para criar a melhor versão de si mesmos, segundo dizem, ou uma versão filtrada de si mesmos”, disse a Dra. Nazanin, que está entre os autores de um comentário sobre percepção de beleza do paciente nas redes sociais, publicado em 2019.

“Eu digo às pessoas: 'Não use filtros em suas fotos. Aceite a sua beleza'. Tenho pacientes que agendam consultas com a intenção de se parecerem com fotos selecionadas em suas mídias sociais, talvez com lábios maiores ou com contornos mandibulares mais definidos. O que eles não entendem é que demora muito para isso acontecer. É um processo [longo].” Em outros casos, o resultado desejado não é possível devido aos limites da anatomia facial de cada pessoa.

Em um estudo publicado há quase 20 anos no periódico Perception, pesquisadores irlandeses manipularam a familiaridade de faces comuns e diferentes, a fim de medir o efeito atrativo de cada rosto. Eles constataram que a familiaridade episódica afeta as classificações de atratividade independentemente da familiaridade geral ou estrutural.

“Portanto, quanto mais se olhava para um rosto, mais familiar ele se tornava”, explicou a Dra. Nazanin, que não participou do estudo. “Com o tempo, sentia-se que a face vista mais vezes era mais atraente. Acho que isso corresponde ao que está ocorrendo nas tendências que observamos — tanto na vida real como nas redes sociais. Precisamos estar mais atentos para manter as características que tornam um indivíduo único e, ao mesmo tempo, preservar a beleza de cada etnia.”

Em uma entrevista durante o evento, a Dra. Jacqueline D. Watchmaker, dermatologista clínica e cosmiatra certificada que atua nos EUA, disse que identifica a ideia de modificação das características étnicas em sua experiência clínica. “Os pacientes vêm [ao consultório] e pedem especificamente contornos mandibulares esculpidos, maçãs do rosto salientes e lábios maiores”, disse ela. “É uma situação complicada quando pedem [um procedimento] que achamos desnecessário para eles. Prefiro uma abordagem mais direcionada a manter sua individualidade e, ao mesmo tempo, dar a eles um pouco do benefício estético que procuram.”

A Dra. Nazanin A. Saedi informou ter relações com as empresas AbbVie, Aerolase, Allergan, Alma, Cartessa, Cynosure, Galderma Laboratories, LP, Grand Cosmetics, Revelle Aesthetics e Revision Skincare. A Dra. Jacqueline D. Watchmaker informou não ter conflitos de interesses.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com ─ Medscape Professional Network

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