2 em 1: combatendo a doença cardiovascular e a obesidade simultaneamente

Miriam E. Tucker

20 de março de 2023

O atendimento a pacientes com doenças cardiovasculares e obesidade deve contemplar o tratamento das duas doenças ao mesmo tempo, dizem autores de nova revisão.

“A doença cardiovascular e a obesidade são quadros comuns que frequentemente coexistem. Não podemos tratar um deles ignorando o outro”, escreveram a Dra. Rosana G. Bianchettin, médica da divisão de doenças cardiovasculares da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, e colaboradores em uma revisão recentemente publicada no periódico Journal of the American College of Cardiology.

A revisão descreve, por exemplo, como a obesidade pode prejudicar os exames de imagem comuns usados para diagnosticar doenças cardíacas, potencialmente reduzindo sua acurácia.

E procedimentos cardíacos, como intervenção coronariana percutânea, cirurgia cardíaca aberta e revascularização, envolvem maior risco no cenário de obesidade, enquanto procedimentos como substituição de válvula e transplante cardíaco apresentam maior probabilidade de falha.

A obesidade também pode alterar a farmacocinética e a farmacodinâmica dos medicamentos.

A perda ponderal é uma parte importante do tratamento de pacientes com doenças cardiovasculares e obesidade, e “os programas de reabilitação cardíaca representam uma oportunidade para intervenções estruturadas”, observaram os autores. No entanto, acrescentaram, “quando outras medidas são insuficientes, a cirurgia bariátrica pode melhorar os resultados”.

Os pesquisadores também recomendaram não recorrer apenas ao índice de massa corporal (IMC) para avaliar a adiposidade: “É prudente investigar vários parâmetros complementares juntamente com cálculos de IMC padrão (considerando idade, raça e sexo), entre eles medidas da obesidade central, como circunferência da cintura, relação cintura-quadril e relação peso-estatura”.

Excesso de gordura atua como filtro e pode distorcer os resultados de exames

“A obesidade afeta quase todos os exames de diagnóstico usados em cardiologia, como eletrocardiograma, tomografia computadorizada, ressonância magnética e ecocardiograma”, explicou em um comunicado o autor sênior Dr. Francisco Lopez-Jimenez, médico e diretor de cardiologia preventiva da Mayo Clinic.

A revisão tem uma tabela detalhada das principais dificuldades relacionadas à obesidade. No eletrocardiograma, por exemplo, a obesidade pode causar deslocamento do coração, sobrecarga cardíaca e aumento da distância entre o coração e os eletrodos de registro.

A obesidade também diminui a sensibilidade do ecocardiograma de esforço, e o uso de angiotomografia coronariana é completamente contraindicado em pessoas com IMC acima de 40 kg/m2. Na radiologia intervencionista, pode haver má visualização das áreas-alvo.

“O excesso de gordura atua como uma espécie de filtro e pode distorcer as leituras do teste levando a perdas de diagnóstico ou diagnósticos casuais”, observou o Dr. Francisco.

Desafios terapêuticos: medicamentos podem funcionar de maneira diferente

Uma tabela mais longa na revisão resume os desafios terapêuticos envolvidos na modificação do estilo de vida, farmacologia, procedimentos cardíacos e outras medidas terapêuticas para pessoas com as duas doenças.

A obesidade pode limitar a capacidade de uma pessoa de se exercitar, por exemplo, e parar de fumar pode promover excessos alimentares e ganho de peso adicional.

Além disso, “a adaptação da farmacoterapia é difícil devido a fatores farmacocinéticos e farmacodinâmicos peculiares em pessoas com obesidade que alteram a distribuição, o metabolismo e a excreção dos medicamentos. Cada fármaco também tem propriedades especiais que devem ser consideradas quando administrados”, escreveram os autores.

Alguns exemplos são o maior volume de distribuição de fármacos lipofílicos nos indivíduos com aumento da massa adiposa, alterações no metabolismo hepático e dificuldades na dosagem de anticoagulantes.

Reabilitação cardíaca oferece oportunidade de intervenção

Embora a reabilitação cardíaca seja “uma pedra angular na prevenção secundária” para pessoas que sofreram um evento cardíaco, apenas 8% desses programas incluem projetos internos formais de perda de peso comportamental.

Mas essa falha poderia ser remediada e os programas poderiam ser ampliados com o uso de opções como reabilitação domiciliar e aconselhamento por telefone, principalmente em comunidades rurais, disseram Rosana e sua equipe.

“Pacientes motivados se beneficiarão de abordagens múltiplas e devem ser incentivados a estabelecer metas específicas, de curto prazo e compartilhadas com seu profissional de saúde. Uma infinidade de ferramentas está disponível para apoiar o automonitoramento (por exemplo, aplicativos de smartphone, diários alimentares), e o acompanhamento regular programado e feedback sobre o progresso podem ajudar a manter a motivação”, escreveram os pesquisadores.

O ponto principal, segundo o Dr. Francisco, é: “A obesidade é um fator de risco importante a ser tratado em pacientes com doenças cardíacas e exige que façamos algo... O paciente precisa saber que seu médico pode ajudá-lo a perder peso. Em geral, as soluções para perda ponderal se resumem a encontrar a terapia certa para o paciente”.

A Dra. Rosana G. Bianchettin informou não ter conflitos de interesses relevantes. O Dr. Francisco Lopez-Jimenez informou realizar pesquisas relacionadas com avaliação corporal 3D para a Select Research e a Mayo Clinic e pode se beneficiar no futuro se a tecnologia for comercializada. Ele não recebeu nenhuma compensação financeira ou de outro tipo até o momento em relação a esse acordo, e a tecnologia corporal 3D, ou qualquer tecnologia relacionada, não é relevante para o conteúdo desse artigo. Ele é membro do Comitê Consultor Científico da Novo Nordisk.

J Am Coll Cardiol. Publicado on-line em 07 de fevereiro de 2023. Texto completo

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape

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