Tratamento com biológicos pode retardar acometimento articular em pacientes com psoríase

Lucy Hicks

17 de março de 2023

Achados de um grande estudo retrospectivo mostram redução do risco de artrite inflamatória em pacientes com psoríase tratados com inibidores das interleucinas (IL) 12 e 23 em vez de inibidores do fator de necrose tumoral (TNF, do inglês tumor necrosis factor).

Embora estudos de coorte retrospectivos anteriores tenham verificado que o uso de biológicos em pacientes com psoríase pode reduzir o risco de artrite psoriásica em comparação com outros tratamentos, como fototerapia e medicamentos modificadores de doença não biológicos orais, esta é a primeira análise a comparar diferentes classes de biológicos, escreveram o médico Dr. Shikha Singla, vinculado ao Medical College of Wisconsin, nos EUA, e colaboradores em uma publicação no periódico The Lancet Rheumatology .

Dra. Alexis R. Ogdie-Beatty

Na análise, os pesquisadores usaram a base de dados TriNetX, que contém dados anonimizados de prontuários eletrônicos provenientes de instituições de saúde nos Estados Unidos. O estudo foi realizado com pacientes adultos diagnosticados com psoríase que usaram recentemente um medicamento biológico aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. Os biológicos foram divididos conforme a classe farmacológica em: anti-TNF, anti-IL-17, anti-IL-23 e anti-IL-12/23. Foram excluídos todos os pacientes que tinham um diagnóstico de artrite psoriásica (ou qualquer outra artrite inflamatória) antes da prescrição do medicamento biológico ou em até duas semanas após a prescrição do biológico.

Os pesquisadores identificaram 15.501 pacientes elegíveis diagnosticados com psoríase entre 1º de janeiro de 2014 e 1º de junho de 2022, com um período médio de acompanhamento de 2,4 anos. Os pesquisadores optaram por iniciar o período de acompanhamento em 2014 porque o primeiro medicamento para artrite psoriásica cujo mecanismo de ação não estava relacionado à inibição do TNF, o ustequinumabe (anti-IL-12/23), foi aprovado pela FDA em 2013. Durante o período do estudo, 976 pacientes evoluíram com artrite inflamatória, sendo diagnosticados, em média, 528 dias após a prescrição do biológico.

Em uma análise multivariada, os pesquisadores descobriram que os pacientes que usavam um inibidor de IL-23 (guselcumabe, risanquizumabe e tildraquizumabe) apresentaram um redução de quase 60% do risco (razão de risco ajustada [RRa] de 0,41; intervalo de confiança [IC] de 95% de 0,17 a 0,95) de artrite inflamatória, em comparação com pacientes em uso de inibidores de TNF (infliximabe, adalimumabe, etanercepte, golimumabe e certolizumabe pegol). Houve uma redução de 42% do risco de artrite (RRa de 0,58; IC 95% de 0,43 a 0,76) com o uso do ustequinumabe (anti-IL-12/23), no entanto, não houve diferença nos desfechos entre os pacientes que usavam inibidores de IL-17 (secuquinumabe, ixequizumabe e brodalumabe) e os que usavam inibidores de TNF. No caso do ustequinumabe, essa associação se manteve em todas as análises de sensibilidade. Em pacientes que faziam uso de inibidores de IL-23, os resultados persistiram mesmo após a exclusão dos pacientes que evoluíram com artrite em até três ou seis meses após a primeira administração do biológico e após o uso de um limiar diagnóstico mais rigoroso para a artrite.

Embora o estudo tenha produzido uma questão de pesquisa interessante, "eu não usaria esses resultados para mudar, de fato, os padrões de tratamento", disse em entrevista a Dra. Alexis R. Ogdie-Beatty, professora associada de medicina na University of Pennsylvania, nos EUA. Ela também foi coautora de um comentário sobre o estudo.

Embora as análises tenham sido fortes, observou ela, existem vieses intrínsecos a esse tipo de dados observacionais que não podem ser ignorados. Por exemplo, se um paciente chega ao consultório de um dermatologista com psoríase e também tem artralgia, o dermatologista pode suspeitar que esse paciente também tem artrite psoriásica e é mais provável que ele escolha um medicamento que trate bem as duas doenças.

“Os medicamentos que tratam melhor a artrite psoriásica são os inibidores de TNF e os inibidores de IL-17”, disse ela. Assim, embora o estudo tenha constatado que esses medicamentos estavam associados ao aumento da incidência de artrite psoriásica, o dermatologista possivelmente estava tratando uma provável artrite e o paciente ainda não havia sido encaminhado ao reumatologista para confirmação do diagnóstico.

Os pesquisadores disseram que tentaram diminuir esses problemas exigindo que os pacientes tivessem pelo menos um ano de acompanhamento antes de receber a prescrição do biológico, “para manter na análise apenas os pacientes sem diagnóstico prévio de qualquer tipo de artrite”. Além disso, realizaram seis análises de sensibilidade.

Tanto os autores do estudo quanto a Dra. Alexis concordaram que mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados. Um grande estudo randomizado talvez seja “proibitivamente caro”, observaram os autores, mas análises agrupadas de ensaios clínicos anteriores podem ajudar a resolver esse problema. “Identificamos 14 estudos randomizados publicados que fizeram comparações diretas entre diferentes classes de biológicos com relação ao efeito sobre a psoríase, e esses estudos continham, coletivamente, dados de mais de 13.000 pacientes. Análises agrupadas desses dados poderiam confirmar os achados do estudo atual e teriam um poder estatístico adequado."

Porém, essa abordagem também tem limitações, visto que a artrite psoriásica não foi avaliada como um desfecho nesses estudos, observou a Dra. Alexis. A randomização de pacientes que já têm um aumento do risco de artrite psoriásica devido a diferentes medicamentos biológicos pode ser uma abordagem para tentar responder essas perguntas sem a necessidade de uma população tão grande de pacientes.

O estudo foi realizado sem financiamento externo ou privado. O Dr. Shikha Singla informou não ter vínculos financeiros relevantes com empresas farmacêuticas, no entanto, vários coautores informaram vínculos financeiros com empresas farmacêuticas que comercializam medicamentos biológicos para psoríase e artrite psoriásica. A Dra. Alexis Ogdie-Beatty informou vínculos financeiros com as seguintes empresas: AbbVie, Amgen, Bristol-Myers Squibb, Celgene, CorEvitas, Gilead, Happify Health, Janssen, Lilly, Novartis, Pfizer e UCB.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com ─ Medscape Professional Network.

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