Engula essa: cápsula endoscópica avalia trato gastrointestinal 'ao vivo'

Julie Stewart

15 de março de 2023

Parte da frustração associada às doenças gastrointestinais (além das frequentes idas ao banheiro) reside na invasividade e no desconforto dos exames necessários para o diagnóstico, tais como a endoscopia ou alguns exames radiológicos.

Mas uma opção nova e revolucionária promete trazer mais conforto e conveniência ao diagnóstico dessas doenças e pode estar disponível nos próximos anos.

Um grupo de pesquisadores desenvolveu um pequeno dispositivo semelhante a um comprimido que, após ingerido, pode fornecer dados precisos e em tempo real, à medida que se move pelo sistema gastrointestinal do paciente. A tecnologia do dispositivo foi descrita em uma publicação no periódico Nature Electronics, junto com os resultados de testes in vitro e in vivo que avaliaram o seu funcionamento.

"É possível pensar nesse dispositivo como se fosse um GPS, que pode ser acompanhado pelo telefone assim como [acompanhamos o percurso de] um motorista de aplicativo", disse a autora do estudo Dra. Azita Emami, Ph.D., professora de engenharia elétrica e engenharia médica no California Institute of Technology nos Estados Unidos. "Podemos acompanhar um motorista se deslocando pelas ruas e rastreá-lo em tempo real, mas imagine fazer isso com uma precisão muito maior e com um dispositivo muito menor, dentro do corpo [do paciente]."

Claro, essa não é a primeira opção de exame diagnóstico do trato gastrointestinal que se dá por ingestão. A cápsula endoscópica carrega uma câmera que registra imagens do trato digestivo. Além dela, também existe a cápsula de motilidade sem fio, que usa sensores para registrar variáveis como pH, temperatura e pressão. Porém, essas tecnologias podem não funcionar durante o período de um a três dias que é necessário para que a cápsula passe por todo o trato gastrointestinal. Além disso, enquanto o dispositivo coleta as informações, você não consegue rastrear a sua localização com precisão em tempo real. É possível aprender muito com esse nível de detalhe.

"Se um paciente tem alterações de motilidade gastrointestinal, o dispositivo pode informar ao médico em qual local esse problema está acontecendo e onde [exatamente] está ocorrendo a desaceleração, o que é muito mais útil", disse a Dra. Azita. Isso pode ser especialmente valioso em doenças gastrointestinais famosas por serem de difícil diagnóstico, como a síndrome do intestino irritável e a doença inflamatória intestinal.

Para desenvolver essa tecnologia, a equipe de pesquisadores se inspirou no exame de ressonância magnética. Campos magnéticos transmitem os dados do dispositivo para um smartphone via Bluetooth. O componente externo, um gerador de campo magnético semelhante a um tapete, alimenta o dispositivo e é pequeno o suficiente para ser carregado em uma mochila, colocado debaixo da cama ou em qualquer outro lugar. A parte que pode ser engolida é composta de pequenos chips embutidos em uma embalagem com formato de comprimido.

São necessários mais testes antes que essa tecnologia chegue ao mercado, incluindo ensaios clínicos em humanos, disse a Dra. Azita. Isso provavelmente levará alguns anos.

A equipe também planeja tornar o dispositivo menor (atualmente ele mede 8 mm de largura e 20 mm de comprimento) e mais barato, e também deseja que ele tenha mais funções, como, por exemplo, administrar medicamentos diretamente no trato gastrointestinal. Essas inovações podem levar mais alguns anos para estarem disponíveis.

Fontes

  • Dra. Azita Emami, Ph.D., professora do departamento “Andrew e Peggy Cherng” de engenharia elétrica e engenharia médica no California Institute of Technology, nos EUA.

  • Nature Electronics. (2023). Location-aware ingestible microdevices for wireless monitoring of gastrointestinal dynamics.

Este conteúdo foi originalmente publicado na WebMD ─ Medscape Professional Network

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