Parte da frustração associada às doenças gastrointestinais (além das frequentes idas ao banheiro) reside na invasividade e no desconforto dos exames necessários para o diagnóstico, tais como a endoscopia ou alguns exames radiológicos.
Mas uma opção nova e revolucionária promete trazer mais conforto e conveniência ao diagnóstico dessas doenças e pode estar disponível nos próximos anos.
Um grupo de pesquisadores desenvolveu um pequeno dispositivo semelhante a um comprimido que, após ingerido, pode fornecer dados precisos e em tempo real, à medida que se move pelo sistema gastrointestinal do paciente. A tecnologia do dispositivo foi descrita em uma publicação no periódico Nature Electronics, junto com os resultados de testes in vitro e in vivo que avaliaram o seu funcionamento.
"É possível pensar nesse dispositivo como se fosse um GPS, que pode ser acompanhado pelo telefone assim como [acompanhamos o percurso de] um motorista de aplicativo", disse a autora do estudo Dra. Azita Emami, Ph.D., professora de engenharia elétrica e engenharia médica no California Institute of Technology nos Estados Unidos. "Podemos acompanhar um motorista se deslocando pelas ruas e rastreá-lo em tempo real, mas imagine fazer isso com uma precisão muito maior e com um dispositivo muito menor, dentro do corpo [do paciente]."
Claro, essa não é a primeira opção de exame diagnóstico do trato gastrointestinal que se dá por ingestão. A cápsula endoscópica carrega uma câmera que registra imagens do trato digestivo. Além dela, também existe a cápsula de motilidade sem fio, que usa sensores para registrar variáveis como pH, temperatura e pressão. Porém, essas tecnologias podem não funcionar durante o período de um a três dias que é necessário para que a cápsula passe por todo o trato gastrointestinal. Além disso, enquanto o dispositivo coleta as informações, você não consegue rastrear a sua localização com precisão em tempo real. É possível aprender muito com esse nível de detalhe.
"Se um paciente tem alterações de motilidade gastrointestinal, o dispositivo pode informar ao médico em qual local esse problema está acontecendo e onde [exatamente] está ocorrendo a desaceleração, o que é muito mais útil", disse a Dra. Azita. Isso pode ser especialmente valioso em doenças gastrointestinais famosas por serem de difícil diagnóstico, como a síndrome do intestino irritável e a doença inflamatória intestinal.
Para desenvolver essa tecnologia, a equipe de pesquisadores se inspirou no exame de ressonância magnética. Campos magnéticos transmitem os dados do dispositivo para um smartphone via Bluetooth. O componente externo, um gerador de campo magnético semelhante a um tapete, alimenta o dispositivo e é pequeno o suficiente para ser carregado em uma mochila, colocado debaixo da cama ou em qualquer outro lugar. A parte que pode ser engolida é composta de pequenos chips embutidos em uma embalagem com formato de comprimido.
São necessários mais testes antes que essa tecnologia chegue ao mercado, incluindo ensaios clínicos em humanos, disse a Dra. Azita. Isso provavelmente levará alguns anos.
A equipe também planeja tornar o dispositivo menor (atualmente ele mede 8 mm de largura e 20 mm de comprimento) e mais barato, e também deseja que ele tenha mais funções, como, por exemplo, administrar medicamentos diretamente no trato gastrointestinal. Essas inovações podem levar mais alguns anos para estarem disponíveis.
Fontes
Dra. Azita Emami, Ph.D., professora do departamento “Andrew e Peggy Cherng” de engenharia elétrica e engenharia médica no California Institute of Technology, nos EUA.
Nature Electronics. (2023). Location-aware ingestible microdevices for wireless monitoring of gastrointestinal dynamics.
Este conteúdo foi originalmente publicado na WebMD ─ Medscape Professional Network
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Créditos: Imagem principal: NYU TANDON SCHOOL OF ENGINEERING RESEARCHERS
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Citar este artigo: Engula essa: cápsula endoscópica avalia trato gastrointestinal 'ao vivo' - Medscape - 15 de março de 2023.
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