Pesquisadores validam pontuação do ONKOTEV para prever a trombose associada ao câncer em pacientes ambulatoriais.
Com base nos resultados de sua análise recente, os autores defendem a utilidade do modelo na rotina e nos ensaios clínicos para a seleção de pacientes com alto risco de tromboembolia venosa que podem se beneficiar da profilaxia primária.
A pontuação do ONKOTEV fornece “boa estratificação” do risco de tromboembolia venosa nesse contexto e, diante da facilidade de uso, pode representar um “progresso no estudo da trombose associada ao câncer e uma justificativa para a escolha da pontuação do ONKOTEV para avaliação de risco”, disseram os autores do estudo, liderados pela médica Dra. Chiara Cella, Ph.D., do European Institute of Oncology, na Itália.
O estudo foi publicado on-line em fevereiro de 2022 no periódico Jama Network Open.
A tromboembolia venosa continua sendo uma complicação comum entre pacientes com câncer, mas a avaliação do risco de trombose associada ao câncer continua sendo “um tópico em evolução”, explicaram os pesquisadores.
As diretrizes internacionais atuais recomendam a profilaxia primária para pacientes com risco intermediário a alto de tromboembolia venosa, indicado por uma pontuação de Khorana ≥ 2.
A pontuação do ONKOTEV consiste em quatro variáveis – uma pontuação de Khorana maior que dois, doença metastática, compressão vascular ou linfática e um evento anterior de tromboembolia venosa – com um ponto atribuído a cada uma delas e uma pontuação total de dois ou mais definida como alto risco de tromboembolia venosa.
O estudo de validação do ONKOTEV-2 foi realizado em três centros na Itália, Alemanha e Reino Unido com uma coorte prospectiva de 425 pacientes ambulatoriais (57% mulheres; média de idade de 61 anos) com tumores sólidos, que estavam recebendo tratamento ativo.
Os tumores mais representados foram de mama, adenocarcinoma gastroesofágico, cólon, pulmão, reto e pancreático, e a quimioterapia foi o tratamento mais comum.
A pontuação do ONKOTEV foi calculada para cada paciente no início do estudo antes de iniciar qualquer tratamento oncológico e, em seguida, os pacientes foram monitorados por pelo menos oito meses, com um período de acompanhamento geral de 24 meses, para detectar qualquer evento tromboembólico. Nenhum paciente estava em uso de anticoagulante.
Quando surgia uma suspeita clínica de tromboembolia venosa, os pacientes eram imediatamente submetidos a uma avaliação objetiva com exame de imagem para confirmar ou descartar o evento. Os eventos de tromboembolia venosa foram diagnosticados por uma equipe de radiologistas experientes.
A maioria dos pacientes teve uma pontuação igual a 0 (27%) ou 1 (55%), enquanto 15% tiveram uma pontuação igual a 2, e 2,4% tiveram uma pontuação igual a 3. Apenas um paciente (0,2%) teve uma pontuação igual a 4.
Durante o período do estudo, a incidência cumulativa de tromboembolia venosa foi de 12,7% (54 eventos).
Aos seis meses, a incidência cumulativa de tromboembolia venosa foi de 2,6% em pacientes com uma pontuação no ONKOTEV igual a 0 versus 9,1% para aqueles com uma pontuação igual a 1, 32,3% para uma pontuação igual a 2 e 19,3% para uma pontuação maior que 2. A área sob a curva proporcional ao tempo aos 3, 6 e 12 meses foi de 70,1%, 72,9% e 72,2%, respectivamente.
Os pesquisadores observaram que, entre as variáveis individuais no modelo de previsão de risco ONKOTEV, doença metastática e compressão vascular ou linfática macroscópica foram altamente associadas à tromboembolia venosa (razão de risco [RR] de 4,22 e 3,25, respectivamente).
Pacientes com pontuação de Khorana > 2 pareciam ter um risco maior de tromboembolia venosa, embora a diferença não tenha sido estatisticamente significativa (RR de 1,81; p = 0,14). A história de tromboembolia venosa não pareceu estar associada independentemente ao risco de tromboembolia venosa (RR de 0,84; p = 0,76).
Pronto para o uso na rotina?
Convidado a comentar a pesquisa, o Dr. Alok Khorana, médico oncologista da Cleveland Clinic, nos EUA, criador da pontuação de Khorana, observou que “a literatura sobre a previsão de tromboembolia venosa em pacientes com câncer está crescendo” com a publicação de dois modelos recentes de avaliação de risco: ONKOTEV, que adiciona mais variáveis clínicas à pontuação de Khorana existente, e ONCOTHROMB, que utiliza variáveis genéticas, além de fatores de risco clínicos.
Esses modelos se somam a “várias pontuações de risco existentes”, disse o Dr. Alok, entre elas o escore de câncer e trombose de Viena, a pontuação da PROTECHT, a pontuação do CONKO e, mais recentemente, o modelo COMPASS-CAT.
O estudo de validação atual se concentrou em saber se a ferramenta ONKOTEV poderia prever com sucesso o risco de tromboembolia venosa. O estudo é “bem feito e os resultados mostram uma melhora substancial no valor preditivo positivo, o que é importante para a identificação dos pacientes de maior risco”, disse o Dr. Alok ao Medscape.
As principais limitações do estudo foram “desequilíbrios entre as coortes de derivação e validação, como apontam os autores, e a necessidade de validação externa”, observou o Dr. Alok, que não participou da pesquisa.
O comentarista achou surpreendente que a história de tromboembolia venosa não fosse um fator de risco significativo, pois anteriormente demonstrou estar associada a um novo risco de tromboembolia venosa. Também não está claro como o ONCOTROMB e o ONKOTEV se comparam, disse ele.
Mas, no geral, o Dr. Alok concordou que a pontuação do ONKOTEV pode ser usada na conduta clínica de rotina para identificar pacientes de alto risco.
A Dra. Chiara Cella informou receber honorários da Bristol-Myers Squibb e Leo Pharma e um fundo de pesquisa da Ipsen (institucional). Uma lista completa das declarações de conflitos de interesses dos coautores está disponível no artigo original. O Dr. Alok Khorana recebeu honorários para consultoria da Janssen, Bayer, Pfizer, Sanofi, BMS, Anthos e Medscape/WebMD.
JAMA Netw Open. Publicado on-line em 16 de fevereiro de 2023. Texto completo
Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape
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Créditos: Imagem principal: iStock/Getty Images
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Citar este artigo: Novo modelo de previsão de risco de tromboembolia venosa relacionada ao câncer - Medscape - 15 de março de 2023.
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