Tema mais buscado: Pesadelos e demência

Ryan Syrek

17 de março de 2023

Pesadelos são comuns e raramente causam preocupações importantes com a saúde. No entanto, vários estudos recentes identificaram associações potencialmente preocupantes entre a ocorrência de pesadelos frequentes ou persistentes e a cognição no futuro. Esses achados, junto com a descoberta de uma possível intervenção, motivaram o tema clínico mais buscado da semana.

Pesquisas anteriores já tinham identificado uma relação entre problemas de sono na idade adulta, como os pesadelos, e doenças neurodegenerativas. Uma análise recente indicou uma possível associação entre os sonhos angustiantes na infância e comprometimento cognitivo no futuro (ver infográfico).

Uma análise prospectiva longitudinal utilizou dados de todas as pessoas nascidas na Grã-Bretanha durante uma única semana em 1958. Aos sete anos e aos 11 anos de idade (em 1965 e 1969, respectivamente), as mães foram convidadas a dizer se seus filhos tinham tido pesadelos, especificados como "sonhos ruins ou terror noturno", nos últimos três meses. Dentre 6.991 crianças (51% meninas), 78,2% nunca tiveram sonhos ruins, 17,9% tiveram sonhos ruins esporádicos e 3,8% tiveram sonhos ruins persistentes. Aos 50 anos de idade (em 2008), 262 participantes apresentavam comprometimento cognitivo e cinco foram diagnosticados com doença de Parkinson.

Após o ajuste por todas as covariáveis, o fato de ter pesadelos com mais regularidade durante a infância teve uma associação "linear e estatisticamente significativa" com maior risco de comprometimento cognitivo ou doença de Parkinson (p = 0,037) entre os homens e as mulheres. Em comparação às crianças que nunca tiveram sonhos ruins, as que tinham sonhos ruins persistentes tiveram um aumento de 85% do risco de comprometimento cognitivo ou doença de Parkinson aos 50 anos de idade (razão de chances ajustada [RCa] de 1,85; intervalo de confiança [IC] de 95% de 1,10 a 3,11; p = 0,019).

Esses achados reforçam resultados semelhantes entre as pessoas de meia-idade e os idosos. Os resultados de um grande estudo de coorte recente revelaram que as pessoas saudáveis de meia-idade que tinham pesadelos pelo menos uma vez por semana tinham quatro vezes mais chances de sofrer declínio cognitivo na próxima década. Os idosos com a mesma frequência de pesadelos tiveram duas vezes mais probabilidade de terem o diagnóstico de demência, em comparação aos seus pares que nunca tiveram sonhos ruins. A análise foi feita com 605 pessoas de meia-idade (35 a 64 anos), acompanhadas durante até 13 anos, e 2.600 idosos (com 79 anos de idade ou mais), acompanhados por até sete anos. Após o ajuste por todas as covariáveis, a maior frequência de sonhos ruins foi significativamente associada a maior risco de declínio cognitivo entre as pessoas de meia idade (p = 0,016) e a maior risco de demência entre os idosos (p = 0,001). No modelo inteiramente ajustado, os participantes que informaram ter um ou mais sonhos ruins por semana tiveram o quádruplo do risco de declínio cognitivo (RCa de 3,99; IC 95% de 1,07 a 14,85) em comparação aos que não tinham pesadelos. Os idosos com um ou mais pesadelos por semana tiveram mais do que o dobro do risco de ter demência (RCa de 2,21; IC de 95% de 1,35 a 3,62).

Entre os participantes com diagnóstico de transtorno de pesadelo, um novo estudo sugere que ouvir sons positivos durante o sono pode ser uma intervenção efetiva. Foi feito um estudo na Suíça com 36 participantes em uma aula diurna de terapia de ensaio de imagens, na qual os participantes aprenderam a redirecionar seus pesadelos para sonhos positivos. Os participantes foram ensinados a lembrar o pesadelo, transformá-lo mentalmente em algo positivo, e depois treinar o "sonho reescrito" durante o dia. Metade dos participantes também colocou um som especial para tocar enquanto treinava os sonhos positivos. Durante duas semanas, esse som foi reproduzido durante os seus ciclos de sono com movimentos oculares rápidos. Os que escutaram o som tiveram significativamente menos pesadelos. "Essa diferença teve um tamanho de efeito de médio a grande e se manteve durante os três meses de acompanhamento", informaram os autores.

Embora os sonhos angustiantes pouco frequentes costumam ser inofensivos, as preocupações sobre as implicações para a saúde associadas aos pesadelos frequentes e as intervenções necessárias para impedi-los são suficientemente importantes a ponto de ter motivado o interesse no tema mais buscado desta semana.

Faça um teste rápido sobre o sono e o risco de demência.

Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....