A hipertensão intracraniana idiopática é uma síndrome em que há elevação da pressão intracraniana de etiologia desconhecida. [1] Os sintomas mais comuns são cefaleia, alterações visuais e zumbido pulsátil. As alterações visuais incluem visão turva, defeitos do campo visual, diplopia binocular e perda da acuidade visual. A perda permanente da visão pode ocorrer em até 10% dos pacientes.
A maioria dos casos de hipertensão intracraniana idiopática ocorre em mulheres em idade reprodutiva com obesidade. O diagnóstico é baseado na presença de papiledema e pressão de abertura elevada na punção lombar. Podem ser detectadas alterações em exames de ressonância magnética, como sela turca vazia, achatamento posterior do globo ocular, alargamento do espaço subaracnóideo perióptico, espessamento da bainha e tortuosidade do nervo óptico, alargamento do cavum de Meckel e estenose do seio venoso transverso.
O tratamento de escolha da doença envolve a normalização do peso corporal, o uso de acetazolamida e procedimentos cirúrgicos, seja com técnicas de derivação ou a fenestração da bainha do nervo óptico. Os objetivos do tratamento são prevenir a perda visual permanente e aliviar a cefaleia.
Alguns fatores foram identificados como agravantes do risco de deficiência visual permanente em pacientes diagnosticados com hipertensão intracraniana idiopática. [2] A pressão elevada de abertura do líquor no momento do diagnóstico aumenta o risco de sintomas visuais permanentes relacionados à patologia. Nosso grupo publicou recentemente um estudo identificando esta associação. [3] Este nosso achado está de acordo com estudos anteriores, que também encontraram tal correlação. O tratamento eficaz da hipertensão intracraniana idiopática com acetazolamida reduz a pressão de abertura do líquor e melhora o prognóstico visual. [4]Tal associação se justifica, pois um aumento da pressão intracraniana interfere na integridade do nervo óptico, visto que pode causar compressão e isquemia, alterando o diâmetro da bainha deste nervo.
Alguns estudos identificaram correlação do grau de obesidade com maior risco de perda visual grave em pacientes com hipertensão intracraniana idiopática. Alguns destes estudos sugeriram que seria o ganho de peso recente, e não o grau de obesidade em si, o fator determinante da deficiência visual. Embora haja ainda controvérsias a esse respeito, é indiscutível que a redução de peso visando atingir um índice de massa corporal dentro dos limites da normalidade é uma estratégia importante para melhorar o prognóstico visual desses pacientes.
Um estudo encontrou associação da estenose bilateral do seio venoso transverso com o prognóstico visual em seis meses; [5]contudo, este achado não foi reproduzido em um estudo posterior. Ainda não está definido se a evolução das alterações observadas na ressonância magnética ao longo do tratamento têm um significado prognóstico. Portanto, a ressonância magnética é um método útil para auxiliar no diagnóstico desse quadro, porém seu papel na avaliação prognóstica da hipertensão intracraniana idiopática permanece indefinido.
Um estudo brasileiro avaliou o impacto de diversas variáveis sobre o prognóstico visual do quadro: idade, gênero, peso, índice de massa corporal, história de hipertensão sistêmica, pressão de abertura do líquor, aumento da quantidade de sintomas, presença de queixas visuais — como visão turva e obscurecimentos visuais transitórios —, tempo transcorrido desde o início dos sintomas até o diagnóstico da doença, presença e gravidade de papiledema e modalidades de tratamento. O tempo de apresentação de sintomas acima de seis meses, a pressão de abertura do líquor e a hipertensão arterial sistêmica foram associados a pior prognóstico visual, sendo que a presença de sintomas por mais de seis meses após o diagnóstico foi o fator com maior associação com perda visual grave.
Conclui-se que não diagnosticar e não tratar precocemente a hipertensão intracraniana idiopática, permitindo que níveis mais elevados de pressão intracraniana sejam atingidos — especialmente em pacientes com maior grau de obesidade [6] e hipertensão arterial sistêmica —, resulta em maior risco de déficits visuais permanentes. Identificar precocemente pacientes com a doença dentre os que apresentam cefaleia, seja em nível ambulatorial ou em serviços de emergência, é altamente relevante, visto que esta é uma patologia potencialmente curável, desde que tratamentos adequados sejam implementados a tempo.
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Citar este artigo: Hipertensão intracraniana idiopática: fatores prognósticos visuais - Medscape - 14 de março de 2023.
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