Contexto
Um jovem de 19 anos que recebeu o diagnóstico da doença de Crohn ileocolônica aos cinco anos de idade é encaminhado pelo seu pediatra após exames laboratoriais feitos anualmente revelarem dislipidemia e aumento das enzimas hepáticas.
O lipidograma em jejum revelou níveis de colesterol total alto de 232 mg/dL (referência < 170 mg/dL), triglicerídeos de 125 mg/dL (referência: 40 a 163 mg/dL) e lipoproteína de baixa densidade do colesterol (LDL) de 114 mg/dL (referência < 100 mg/dL). A dosagem da aminotransferase aspartato foi de 192 U/L (referência: 0 a 35 U/L), da aminotransferase alanina foi de 149 U/L (referência: 7 a 56 U/L), o nível de bilirrubina total foi de 0,9 mg/dL (referência: 0,3 a 1,0 mg/dL) e de fosfatase alcalina de 534 U/L (referência: 44 a 147 U/L).
O paciente refere estar inteiramente assintomático. Na época da pandemia de covid-19, não fazia acompanhamento médico já há quatro anos e tinha parado de tomar todos os seus medicamentos.
Sua consulta mais recente com um gastroenterologista antes da atual foi há cinco anos. Naquele momento, decidiu parar de tomar a 6-mercaptourina e a mesalazina por cerca de um ano. Exames laboratoriais feitos na época desta visita revelaram que seus níveis de aminotransferases estavam ligeiramente acima dos limites superiores do normal, e o plano era repeti-los para a próxima consulta.
Durante a consulta atual, ele mais uma vez informou que não teve nenhum sinal ou sintoma, como evacuações noturnas, diarreia, hematoquezia, tenesmo, dor abdominal, icterícia, exantema, úlceras orais e prurido generalizado. Sua evacuação é diária, indolor, com fezes moldadas e sem sangue.
O paciente frequenta a faculdade em tempo integral e trabalha em meio período. Ele é sexualmente ativo e tem uma parceira com a qual sempre usa preservativos. Nega uso de bebidas alcoólicas, tabagismo (inclusive cigarros eletrônicos), uso de drogas ilícitas e de fármacos prescritos, inclusive medicamentos controlados ou de venda livre pela internet e nas lojas de produtos naturais.
Exame físico e propedêutica
À ectoscopia, o paciente está bem desenvolvido e bem nutrido e não está em sofrimento agudo. Sinais vitais revelam temperatura de 36,9 °C, frequência cardíaca de 88 batimentos por minuto, 16 incursões respiratórias por minuto, pressão arterial de 102/63 mmHg e saturação de oxigênio de 98% em ar ambiente. Seu peso é de 65 kg, sua altura é 165 cm e seu índice de massa corporal é 23,9 kg/m2.
Normocefálico, sem indícios de trauma encefálico. Escleras anictéricas. Mucosas rosadas e úmidas, sem úlceras orais. Sem lesões dermatológicas, eritema ou icterícia. O paciente tem boa entrada bilateral nas vias respiratórias e não tem aumento do trabalho respiratório. Frequência e ritmo cardíacos são regulares, bulhas normofonéticas sem sopros e os pulsos periféricos são simétricos.
Abdome flácido e indolor, sem distensão; peristalse presente. Não são detectadas massas palpáveis. O baço não é palpável. Fígado ligeiramente aumentado com borda lisa, que não é macia nem firme. Não é observada nenhuma sensibilidade do ângulo costovertebral e nenhuma lesão perianal é encontrada. Os resultados do exame neurológico são normais.
Os marcadores inflamatórios do paciente estão aumentados. A velocidade de hemossedimentação é de 41 mm/h (referência: 0 a 15 mm/h), proteína C reativa de 8 mg/L (referência < 10,0 mg/L) e a calprotectina fecal é > 2.000 µg/g (referência: 50 a 120 µg/g). A repetição da bioquímica ampliada com lipidograma confirma os resultados anteriores obtidos na consulta ao pediatra.
A colonoscopia mostra colite ativa crônica do ceco ao cólon descendente, sem indícios de inflamação significativa no sigmoide ou no reto. Os resultados da enterografia por ressonância magnética de abdome e pelve revelam sinais normais do intestino delgado e intestino grosso, sem dilatação ou estenose focal. O fígado está aumentado, com 18,8 cm, fundo normal e sem lesões focais. O sistema de ductos biliares extra-hepáticos não revela nada digno de nota.
Resultados sorológicos de hepatite pelos vírus A, B e C; ceruloplasmina; α-1 antitripsina; anticorpo antimúsculo liso; anticorpo antinuclear e anticorpo antimitocondrial são todos negativos. A atividade da lipase ácida lisossomal é limítrofe baixa, mas superior à observada na verdadeira deficiência desta enzima.
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Citar este artigo: Caso clínico: Jovem com hipercolesterolemia, aumento das aminotransferases e doença inflamatória intestinal - Medscape - 30 de janeiro de 2023.
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