Seus pacientes estão usando essa arma secreta contra a covid-19?

Lisa Jhung

20 de janeiro de 2023

Se os seus pacientes prometeram começar a se exercitar este ano, eis aqui outro incentivo para ajudá-los a cumprir suas metas: isso pode ajudá-los a se proteger dos resultados potencialmente devastadores da covid-19, como a hospitalização e até mesmo a morte.

Cada vez mais pesquisas mostram que a atividade física pode diminuir o risco de apresentar as formas graves da covid-19. Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC), embasados em uma revisão sistemática das evidências, informou que "a atividade física está associada à diminuição das internações e das mortes por covid-19, enquanto a inatividade aumenta esse risco". Outras pesquisas relacionaram a atividade física regular com menor risco de infecção, hospitalização e morte por covid-19.

O último estudo deste tipo, da Kaiser Permanente, sugeriu que os exercícios em quase qualquer quantidade podem diminuir o risco de covid-19 grave ou fatal, mesmo entre pacientes de alto risco, como aqueles com hipertensão arterial sistêmica ou doença cardiovascular.

"Descobrimos que todos os níveis de atividade física conferiram alguma proteção", disse a primeira autora do estudo, Dra. Deborah Rohm Young, diretora na Division of Behavioral Research do Kaiser's Southern California Department of Research and Evaluation. "Mesmo uma caminhada de 10 minutos por semana está associada a melhores desfechos na covid-19."

Os melhores resultados foram vistos entre "as pessoas que cumprem regularmente as diretrizes nacionais dos Estados Unidos de mais de 150 minutos por semana de ao menos caminhada rápida", disse a Dra. Deborah. Isso representa 30 minutos de exercício cinco dias por semana. No entanto, "qualquer atividade é benéfica".

No entanto, um a cada quatro adultos não faz nenhuma atividade física fora do trabalho, de acordo com os CDC dos EUA. Isso importa porque é inverno no hemisfério norte e os números da covid-19 aumentaram nos Estados Unidos. Segundo a imprensa, os CDC estão informando mais de 470 mil casos por semana, em comparação a cerca de 265 mil na semana que terminou em 12 de outubro. Em média, mais de seis mil pessoas foram hospitalizadas por dia de 31 de dezembro a 06 de janeiro, e o total de mortes chegou a 2.731 por semana em 04 de janeiro.

"O que tem faltado na nossa resposta ao desafio de saúde pública da covid-19 é [atender] a necessidades crescentes de saúde pessoal e comunitária", disse o Dr. Gene Olinger, Ph.D., assessor científico chefe na empresa de pesquisa MRI Global e professor associado adjunto na Boston University School of Medicine. "A medicina proativa — na qual as pessoas otimizam a nutrição, o exercício, o sono e a meditação — não é uma prioridade no atual ecossistema de saúde. As coisas estão mudando, e isso é uma boa notícia."

É claro que todos ainda devem se vacinar, alertou a Dra. Deborah, e não confiar apenas na prática de exercícios e na vida saudável para evitar as formas graves da doença. "Quanto mais pudermos fazer para nos proteger das formas graves da covid-19, [mais] devemos fazer."

Quanto mais atividade física antes da infecção, melhor

No estudo da Kaiser Permanente, os pesquisadores analisaram os prontuários de 194.191 pacientes adultos da instituição que tiveram resultados positivos para o teste de SARS-CoV-2 entre janeiro de 2020 e maio de 2021.

Os níveis de atividade dos pacientes foram avaliados por meio de um sistema de informações dadas pelos próprios pacientes que a Kaiser utiliza desde 2009, composto de duas perguntas: "Em média, quantos dias por semana você faz exercícios moderados a intensos (como uma caminhada rápida)?" e "Em média, por quantos minutos você faz estes tipos de exercício?". Para poder participar do estudo, os indivíduos precisavam ter completado pelo menos três dessas avaliações nos dois anos que antecederam a infecção.

Quanto mais ativo um paciente era, melhores os desfechos tendiam a ser, descobriram os pesquisadores. Da mesma forma, os pacientes menos ativos tiveram piores desfechos.

A diferença mais dramática mostrou que os pacientes que eram regularmente inativos antes de ter covid-19 (faziam menos de 10 minutos de atividade por semana) tinham 91% mais probabilidade de ser hospitalizados e 291% mais probabilidade de morrer pela doença do que os pacientes ativos.

Como todos os estudos, este teve suas limitações. Por ter sido feito antes de as vacinas serem mais acessíveis, não foi possível avaliar se a atividade física melhorou os desfechos entre os vacinados. Também não avaliou a repercussão do exercício entre os pacientes com repetidos contágios de covid-19. Ainda assim, o estudo sugere que as pessoas inativas devem melhorar os níveis de atividade física para ajudar a evitar as formas graves da doença.

Os benefícios dos exercícios não surpreenderam o Dr. Kwadwo Kyeremanteng, médico e chefe no centro de tratamento intensivo do Ottawa Hospital, no Canadá, e professor associado na University of Ottawa.

"Como médico intensivista que vem tratando de pacientes com covid-19 desde o primeiro dia [da pandemia], vejo regularmente que as pessoas com saúde metabólica precária evoluem mal", disse o Dr. Kwadwo, que não participou do estudo. "Ficou claro desde o início que a obesidade, o diabetes mellitus e as doenças metabólicas eram fatores de risco de formas graves da doença e da evolução para o óbito. Basicamente, os resultados do estudo se correlacionam com o que encontramos nas linhas de frente."

Bom condicionamento físico não é garantia

É importante notar que todas as tendências têm suas exceções. Mesmo atletas extremamente bem condicionados que se exercitam frequentemente e com muita intensidade podem ficar gravemente doentes com a covid-19 — de fato acontece — e até ficar com sintomas persistentes, como dispneia, fadiga grave e embotamento mental.

"Entre os atletas mais jovens e os que estão na sua forma ideal, há evidências de que a covid-19 pode causar inflamação miocárdica com lesão cardíaca em um em cada 100 casos", disse o Dr. Gene. "Felizmente, é quase sempre reversível."

Embora controverso, o “excesso de exercício” (também conhecido como síndrome do treino excessivo) tem sido associado à supressão da função imunitária e a mais casos de infecção do trato respiratório superior, disse o intensivista.

"No entanto, o nível de atividade física que se consegue praticar varia muito entre as pessoas", disse o Dr. Gene. "Os dados são claros [em apontar] que as vacinas anticovídicas e o exercício regular são fundamentais para ter resistência duradoura à doença e ao contágio."

E quanto ao exercício depois de ter covid-19?

Outro alerta: embora as evidências mostrem que a prática de exercícios antes de ter covid-19 pode ajudar a melhorar a evolução da doença, outras pesquisas descobriram que retomar os exercícios muito cedo após ter contraído o vírus pode ser perigoso, independentemente do nível de condicionamento físico. Na verdade, o exercício pode piorar os sintomas da covid longa.

“Depois de lutar contra a covid-19, retome os exercícios gradualmente”, disse o Dr. Kwadwo. “Deixe os sintomas serem seu guia.”

Um estudo no Journal of Science and Medicine in Sport sugere que os atletas sem sintomas ou com pouquíssimos sintomas devem retomar “gradualmente” os seus hábitos de exercício anteriores à doença ao longo de sete a 14 dias. "As pessoas com comorbidades preexistentes devem adotar uma abordagem ainda mais cautelosa", disse o estudo.

"Ouça o seu corpo", disse o Dr. Gene. "Você é o único que sabe o que faz você se sentir bem."

Este conteúdo foi originalmente publicado na WebMD ─ Medscape Professional Network.

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