O início do rastreamento do câncer colorretal (CCR) antes dos 50 anos parece ser custo-efetivo em homens e mulheres com qualquer valor de índice de massa corporal (IMC), de acordo com um estudo publicado no periódico Clinical Gastroenterology and Hepatology.
Mais especificamente, a colonoscopia foi custo-efetiva a partir dos 45 anos para todos os níveis de IMC e a partir dos 40 anos para homens com obesidade. Além disso, o teste imunoquímico fecal (TIF) foi altamente custo-efetivo a partir dos 40 ou 45 anos para todos os valores de IMC, escreveram o Dr. Aaron Yeoh, gastroenterologista da Stanford University, nos EUA, e colaboradores.
O excesso de gordura corporal, definido por um IMC elevado, aumentou drasticamente nas últimas décadas e tem sido associado ao aumento do risco de câncer colorretal. Considerando a incidência crescente de CCR em indivíduos mais jovens, a American Cancer Society e a U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF) atualmente recomendam o rastreamento a partir dos 45 anos. Em análises anteriores, o Dr. Aaron e seus colaboradores sugeriram que essa diretriz provavelmente seria custo-efetiva, porém, não exploraram as possíveis diferenças conforme o IMC.
“Nossos resultados sugerem que seria razoável iniciar o rastreamento de mulheres e homens com IMC normal e alterado a partir dos 45 anos”, escreveram os autores. “Antes de mudar as diretrizes de rastreamento [populacional], seriam necessários dados de estudos clínicos que apoiassem essa mudança. Nossa abordagem pode ser aplicada a esforços futuros para estratificar o risco obtido pelo rastreamento de CCR com base em múltiplos fatores clínicos ou biomarcadores.”
A equipe de pesquisadores analisou a potencial efetividade e a relação custo-efetividade do rastreamento adaptado ao IMC, com início a partir de 40 anos e término aos 75 anos, em dez coortes separadas de homens e mulheres com peso normal (IMC de 18,5 a 24,9 kg/m2), sobrepeso (IMC de 25 a 29,9 kg/m2) e obesidade grau 1 (IMC de 30 a 34,9 kg/m2), grau 2 (IMC de 35 a 39,9 kg/m2) e grau 3 (IMC ≥ 40 kg/m2).
Em cada coorte, os pesquisadores estimaram os custos incrementais por ano de vida ajustado pela qualidade (QALY, sigla do inglês quality-adjusted life year) ganho ao iniciar o rastreamento a partir de 40, 45 e 50 anos, ou ao encurtar os intervalos entre colonoscopias. Eles criaram modelos de rastreamento com colonoscopias a cada dez anos ou a cada cinco anos, além de um modelo com um teste imunoquímico fecal anual. Esses modelos foram oferecidos a partir dos 40, 45 e 50 anos até os 75 anos, com 100% de adesão, e com vigilância pós-polipectomia até os 80 anos.
Para alimentar os modelos, a equipe de pesquisadores utilizou preferencialmente dados de alta qualidade provenientes de metanálises ou grandes estudos prospectivos. Os custos de rastreamento, tratamento e complicações foram definidos segundo os valores praticados pelos Centers for Medicare & Medicaid Services (seguros-saúde financiados pelo governo dos EUA) em 2018 para pacientes maiores de 65 anos, modificados para refletir os custos financeiros para menores de 65 anos. Os autores presumiram o uso de sedação moderada e as análises de sensibilidade contemplaram possíveis aumentos nos custos e complicações da colonoscopia realizada sob sedação com propofol.
O número total de mortes por CCR específicas por sexo, sem o rastreamento, foi semelhante entre indivíduos com sobrepeso ou obesidade do grau 1 ao 3, e discretamente maior em relação aos indivíduos com IMC normal. Os modelos de colonoscopia a cada dez anos e TIF anual, quando realizados a partir dos 50 anos, diminuíram substancialmente a incidência e mortalidade do CCR em homens e mulheres em todos os níveis de IMC, em comparação com nenhum rastreamento, e a magnitude do impacto clínico foi comparável em todos os níveis de IMC.
Os modelos de colonoscopia a cada dez anos e TIF anual a partir dos 50 anos foram altamente custo-efetivos em ambos os sexos e em todos os níveis de IMC. O custo por QALY ganho com a colonoscopia a cada dez anos, em comparação com nenhum rastreamento, tornou-se mais favorável à medida que o IMC aumentou, desde o normal até a obesidade grau 3. O TIF anual foi mais econômico em comparação com nenhum rastreamento em todas as coortes, além de ser econômico ou altamente custo-efetivo quando comparado com a colonoscopia a cada dez anos em cada uma das coortes.
O início do rastreamento com uma colonoscopia a cada dez anos a partir dos 45 anos demonstrou reduções incrementais na incidência e mortalidade relacionadas ao CCR, sendo estas razoáveis em comparação com os ganhos obtidos com a colonoscopia a cada dez anos a partir dos 50 anos versus nenhum rastreamento. No entanto, esses ganhos incrementais foram obtidos com custos incrementais aceitáveis, variando entre US$ 64.500 e US$ 85.900 por QALY ganho em mulheres, e entre US$ 33.400 e US$ 64.200 por QALY ganho em homens.
O início do rastreamento com uma colonoscopia a cada dez anos a partir dos 40 anos em mulheres e homens nos três níveis de IMC mais baixos foi associado a altos custos incrementais por QALY ganho. Por outro lado, o início desse tipo de rastreamento a partir dos 40 anos custou $80.400 por cada QALY ganho em homens com obesidade grau 3 e $93.300 por QALY ganho em homens com obesidade grau 2.
A realização do TIF anual a partir dos 40 ou 45 anos produziu reduções progressivamente maiores na incidência e mortalidade relacionadas ao CCR em homens e mulheres em todos os níveis de IMC, e o método foi altamente custo-efetivo em comparação com o início do rastreamento em idades mais avançadas. Quando comparado com o rastreamento com colonoscopia a cada dez anos, em todas as idades de início, o TIF anual foi mais econômico ou preferível, com base em custos incrementais muito altos por QALY, além de exigir um número consideravelmente menor de colonoscopias por pessoa.
Intensificar o rastreamento, encurtando o intervalo entre colonoscopias para cinco anos, não foi preferível a iniciar o rastreamento com colonoscopia a cada dez anos em idades mais precoces. Em todas as coortes, a colonoscopia a cada cinco anos foi menos eficaz e mais cara do que a colonoscopia a cada dez anos em idades mais precoces. Além disso, quando o intervalo de cinco anos foi mais efetivo, o custo por QALY ganho foi consideravelmente maior do que US$ 100.000.
São necessários mais estudos para entender os riscos e os custos da colonoscopia relacionados especificamente à obesidade, escreveram os autores. Além disso, a obesidade é apenas um dos vários fatores que devem ser considerados ao adaptar o rastreamento do CCR ao nível de risco desse tipo de câncer, escreveram eles.
“À medida que prossegue a busca por uma ferramenta preditora multifatorial que esteja pronta para aplicação clínica, enfrentamos o problema de como abordar fatores de risco individuais para o CCR, como a obesidade”, escreveram os pesquisadores.
“Embora as diretrizes de rastreamento baseadas no IMC possam ser elaboradas se mais dados clínicos comprobatórios se tornarem disponíveis, a implementação clínica deve superar os desafios operacionais.”
Não foi informado nenhum financiamento para o estudo. Um dos autores relatou atuar como conselheiro e consultor para várias empresas médicas. Os demais autores informaram não ter conflitos de interesses.
Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com ─ Medscape Professional Network.
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Citar este artigo: Rastreamento precoce do câncer colorretal pode ser custo-efetivo em pacientes com sobrepeso e obesidade - Medscape - 17 de janeiro de 2023.