Hepatite C: antivirais de ação direta são associados a redução do risco de complicações hepáticas e não hepáticas

Megan Brooks

16 de janeiro de 2023

O uso antivirais de ação direta no tratamento de pacientes com hepatite C crônica está associado a uma redução do risco de complicações hepáticas e não hepáticas, além de uma redução “bastante significativa” (57%) do risco de morte por todas as causas, segundo um grande estudo de mundo real.

A melhora dos desfechos foi observada em pacientes sem cirrose, com cirrose controlada e com descompensação hepática prévia, observaram os autores.

Os achados ressaltaram a "grande necessidade de prescrever antivirais de ação direta para todos os pacientes infectados pelo vírus da hepatite C, independentemente do estágio da doença ou da situação financeira [do paciente]", escreveram a Dra. Mindie Nguyen, médica afiliada ao Stanford University Medical Center nos Estados Unidos, e copesquisadores do estudo.

“São necessários mais esforços para alcançar e tratar grupos populacionais que não têm seguro [saúde] com cobertura total ou não têm seguro, ou que estão encarcerados ou marginalizados de alguma forma, como os usuários de drogas ilícitas, que também têm mais risco de complicações da doença e reinfecção”, afirmaram os autores.

O estudo foi publicado on-line no periódico JAMA Internal Medicine.

A hepatite C crônica e suas complicações estão associadas a altas taxas de morbidade e mortalidade. No entanto, são poucos os dados em larga escala sobre os efeitos hepáticos e não hepáticos em longo prazo relacionados ao tratamento com antivirais de ação direta.

Para o estudo, Dra. Mindie e colaboradores analisaram dados de seguros de saúde, de 2010 a 2021, de 245.596 pacientes com hepatite C crônica, dos quais 40.654 receberam um ou mais antivirais de ação direta (sem associação com interferon) e 204.942 não receberam nenhum tratamento.

Os pacientes tratados com antivirais de ação direta eram um pouco mais velhos do que os controles não tratados (média de idade: 59,9 anos versus 58,5 anos) e tinham mais chances de ser homens (62% vs. 58%), brancos (59% vs. 57%), com diabetes (26% vs. 25%) e cirrose (44% vs. 29%).

Considerando os desfechos hepáticos, o tratamento com antivirais de ação direta foi associado a uma redução na incidência de descompensação (28,2 vs. 40,8 por 1.000 pessoas-ano; P < 0,001) e carcinoma hepatocelular na cirrose compensada (20,1 vs. 41,8; P < 0,001).

Considerando os desfechos não hepáticos, o tratamento com antivirais de ação direta foi associado a redução da incidência de diabetes (30,2 vs. 37,2 por 1.000 pessoas-ano; P < 0,001) e doença renal crônica (31,1 vs. 34,1; P < 0,001).

A taxa de mortalidade por todas as causas por 1.000 pessoas-ano foi de 36,5 no grupo tratado com antivirais de ação direta, em comparação com 64,7 no grupo não tratado (P < 0,001).

Na análise de regressão multivariada, o tratamento com antivirais de ação direta foi associado independentemente a uma diminuição significativa do risco de carcinoma hepatocelular (razão de risco ajustada [RRa] de 0,73), descompensação (RRa: 0,36), diabetes (RRa: 0,74), doença renal crônica (RRa: 0,81), doença cardiovascular (RRa: 0,90), câncer extra-hepático (RRa: 0,89) e mortalidade (RRa: 0,43).

A redução de 57% da taxa de mortalidade observada nos pacientes tratados com antivirais de ação direta, em comparação com os não tratados, coincide com um grande estudo francês de pacientes com hepatite C crônica ─ noticiado pelo Medscape.

"Como o tratamento da hepatite C com um esquema de antivirais de ação direta é bem tolerado por quase todos os indivíduos, acreditamos que esses achados dão ainda mais apoio à cobertura universal do tratamento para todos os pacientes afetados por esse vírus", escreveram a Dra. Mindie e seus colaboradores.

O ponto forte deste estudo é sua grande amostra de pacientes tratados e não tratados com antivirais de ação direta, e o fato de ter sido realizado com indivíduos de diversos grupos raciais e étnicos dos EUA, além de pacientes de diversos cenários clínicos (não apenas de centros terciários).

Uma limitação da pesquisa é que a coorte englobou apenas pacientes cobertos por seguro-saúde privado, portanto os achados podem não ser generalizáveis para indivíduos que não têm um seguro com cobertura total ou não têm seguro. Também existe a possibilidade de erros de codificação e classificação nos grandes bancos de dados das seguradoras de saúde.

O estudo recebeu apoio da Stanford University e do Stanford Center for Population Health Sciences. A Dra. Mindie Nguyen informou já ter recebido doações institucionais e remuneração por atuação no conselho consultivo da Gilead Sciences, sem relação com o estudo publicado.

JAMA Internal Medicine. Publicado on-line em 12 de dezembro de 2022. Abstract

Este conteúdo foi originalmente publicado no Medscape .

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