COMENTÁRIO

Exercícios físicos como parte do tratamento oncológico? Uma possibilidade real

Dr. Rafael Deminice

Notificação

20 de dezembro de 2022

Colaboração Editorial

Medscape &

A American Society of Clinical Oncology (ASCO), uma das mais importantes e tradicionais associações médicas do mundo, afirma em sua nova diretriz [1] que o exercício físico é seguro e deve fazer parte do tratamento oncológico. Segundo o documento, publicado em abril de 2022 a prática de exercícios durante o tratamento oncológico está associada a baixo risco de eventos adversos.

A diretriz é resultado da análise de inúmeros estudos científicos publicados na última década, que ajudaram a ASCO a concluir que “exercícios físicos aeróbicos e de força muscular são recomendados para pessoas em tratamento oncológico para mitigar os efeitos colaterais do tratamento, como fadiga, ansiedade, depressão, e para preservar a aptidão física, como a capacidade cardiorrespiratória e a força muscular”. Apesar dos bons resultados desses estudos, a diretriz alerta que ainda não há evidências suficientes para afirmar que o exercício físico realizado durante o tratamento diminua o risco de recidiva, a taxa de conclusão do tratamento quimioterápico e a sobrevida de pacientes oncológicos.

O material publicado também afirma que o conhecimento sobre a viabilidade, a segurança e potenciais benefícios da prática de exercícios por pacientes com câncer avançado é relativamente limitado.

No Brasil, um trabalho liderado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), com o apoio da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS) do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e de um grupo de pesquisadores, vai além. O documento “Atividade Física e Câncer: Recomendações para Prevenção e Controle” [2] avaliou o efeito da atividade física sobre a mortalidade geral e específica dos tipos de câncer mais comuns do Brasil e concluiu que a prática de atividade física moderada a vigorosa, quando realizada após o diagnóstico, é segura e reduz o risco de mortalidade geral e específica por câncer de mama, cólon e reto, e de mortalidade específica por câncer de próstata.

O documento demonstra ainda que a prática de atividade física reduz o risco de qualquer adulto ter câncer de mama e cólon e, possivelmente, de pulmão. O trabalho também recomenda que, para obter esses benefícios, é importante que todos os adultos e idosos, com ou sem diagnóstico de câncer, pratiquem ao menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada; ao menos 75 minutos semanais de atividade física de intensidade vigorosa; ou uma combinação equilibrada de atividades moderadas e vigorosas.

Os posicionamentos da ASCO e da SBOC ajudam a quebrar o paradigma de que pessoas com câncer deveriam “descansar e evitar esforços físicos”. De fato, o exercício físico é considerado hoje uma ferramenta completa, barata, segura, com efeitos colaterais mínimos e relativamente simples de ser incorporada no contexto do tratamento do oncológico. Assim, profissionais de saúde devem incentivar pessoas que têm ou tiveram câncer a manter-se fisicamente ativas durante seu tratamento e por toda a vida. Esses trabalhos certamente contribuem para a popularização e difusão das informações sobre a segurança e os benefícios do exercício para pessoas com câncer, especialmente entre os profissionais da saúde. Considero este o primeiro passo para inclusão do exercício físico como parte importante do tratamento oncológico.

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