Entre os dias 13 e 16 de novembro, ocorreu em Las Vegas, Estados Unidos, o HLTH 2022. Em pouco tempo, o evento já se tornou um dos maiores do setor de saúde em todo o mundo, reunindo algumas das empresas mais importantes e grandes profissionais da área.
Os painéis do HLTH 2022 foram bastante variados, mas alguns temas marcaram o evento: questões como diversidade e equidade foram transversais a uma série de pautas. Outros assuntos marcantes foram a saúde baseada em valor, a falta de profissionais de saúde, a inteligência artificial, entre outros.
A seguir, destaco os seis temas mais comentados no evento.
1. Equidade e diversidade
Na palestra “The Spectrum of Primary Care Colors”, no primeiro dia do HLTH 2022, a importância que os temas equidade e diversidade teriam no HLTH 2022 ficou muito clara. Um dado interessante trazido pelos palestrantes foi que o resultado de desfecho de diversas comunidades com características parecidas é muito melhor quando a equipe que atende essa população pertence à mesma comunidade. Isso pode parecer óbvio, mas sabemos a importância de comprovar esse tipo de hipótese com estudos estatísticos fundamentados.
No segundo dia, o painel "Pioneering Founders on Digital Health's Next Frontier" contou com a participação de quatro mulheres pioneiras na saúde digital. Um dado relevante: a porcentagem de investimentos em saúde digital que chega a empresas fundadas por mulheres ainda é pequena. Ainda há muito trabalho a fazer na busca por um equilíbrio maior na saúde. Os cases apresentados, como os das empresas Lux Capital, Maven, 23andMe e Cityblock Health, revelaram os desafios que ainda precisam ser superados, inclusive associados a questões de gênero.
Um dos últimos painéis do evento, o "Clinical Trials and Tribulations", destacou a importância de realizar estudos clínicos de forma mais rápida, barata e com mais qualidade. Entre os diversos pontos abordados, a questão da falta de diversidade nesse tipo de estudo também foi citada. Um dos anseios dos profissionais que atuam na área é ter tecnologia capaz de aumentar a conveniência e qualificar o acesso. E isso inclui mais diversidade de grupos étnicos e socioeconômicos — sabe-se que a maior parte dos estudos é realizada com pacientes brancos.
2. Saúde baseada em valor
A saúde baseada em valor também foi um tema tratado com bastante atenção durante o HLTH 2022. Na palestra “HCA's Transformation Journey: The Power of Partnership”, que ocorreu no primeiro dia, foi falado que a saúde baseada em valor não teve grande impacto no mercado até o momento. Os palestrantes destacaram a necessidade de fazer com que esse conceito se torne mais amplo e abarque mais pontos — afinal, há muitas nuances a serem consideradas.
3. Falta de profissionais de saúde no mercado
Outro assunto que chamou a atenção durante o HLTH 2022 foi a questão da falta de profissionais de saúde no mercado. No próprio painel da HCA Healthcare, como também na palestra a respeito de um aplicativo de saúde mental chamado Calm, entre outras falas, os palestrantes bateram bastante nessa tecla. Nos Estados Unidos, são formados aproximadamente 28 mil médicos por ano. No Brasil, são cerca de 25 mil profissionais formados anualmente.
Seja por questões relacionadas a burnout — já abordada pelo Medscape em um estudo aprofundado em 2020 —, seja por outros motivos, uma coisa ficou clara: a tecnologia pode e deve apoiar a saúde, mas ela ainda não está madura o suficiente para resolver todos os problemas. A presença de profissionais de qualidade é cada vez mais importante, e sua falta vem sendo sentida.
Quando o tema é saúde mental, isso fica bastante evidente. De acordo com o CEO do Calm, David Ko, e também com Jay Shetty, life coach e autor britânico, a transformação pela qual a saúde mental vem passando ainda está apenas no começo. Quando o grande salto for dado, essa necessidade por profissionais de qualidade — que já estão em falta hoje — será ainda maior, acreditam.
A saúde comportamental (behavioral health), que trata da conexão entre os comportamentos do indivíduo e a saúde e bem-estar do corpo, mente e espírito (o que inclui a forma como hábitos alimentares, bebidas ou exercícios afetam a saúde física ou mental) também vem sendo muito discutida nos EUA e foi comentada durante o painel. Ou seja, a saúde mental faz parte da saúde comportamental, uma área que depende de mais profissionais de saúde, como nutricionistas, por exemplo — o que torna essa falta de profissionais ainda mais preocupante. Vale destacar que esse termo vem sendo muito usado para diferentes assuntos, como por exemplo a importância da telessaúde em consultas de saúde comportamental.
4. Paciente como cliente
A consumerização da saúde foi mais um tema bastante debatido em diversos painéis do HLTH 2022. A palestra "Reimagining Local Healthcare", com a CEO da rede de farmácias Walgreens, Rosalind Brewer, foi uma das que abordou o tema. Entender o paciente como consumidor é uma percepção que deve crescer no mercado de saúde dos Estados Unidos nos próximos anos.
A palavra “paciente” é um tanto depreciativa na visão dos gestores de saúde locais. Entender o paciente como um consumidor — alguém que tem poder de escolha e que deve ser tratado como um cliente — é, cada vez mais, a tônica tanto nas farmácias quanto em outras áreas da saúde.
5. Telessaúde
Um debate que esquentou o clima foi a respeito da suposta queda no uso de tecnologias de telessaúde com a redução dos casos de covid-19 em todo o mundo. No painel “Is Virtual Care Still on the A List?”, a grande questão foi “os cuidados virtuais estão despencando com a redução dos casos de covid-19?”. Painelistas como o CEO da AmWell, Roy Schoenberg, a diretora de pesquisa da Trilliant Health, Sanjula Jain, e o CEO da Zocdoc, Oliver Kharraz, demonstraram visões bastante diversas a respeito do tema.
Em resumo, enquanto alguns setores dentro da saúde demonstram um certo desapontamento pela queda no uso de recursos como a telemedicina nos últimos meses, outros entendem que a revolução pela qual a área passou durante o período da pandemia é maior que isso — e mais novidades virão nos próximos anos.
Também se falou bastante a respeito da importância da telessaúde no contexto da saúde comportamental, tema que está muito quente lá fora. Se, por um lado, pode-se ter a percepção de que a telemedicina não é adequada para especialidades em que é necessário fazer um exame físico mais detalhado — como uma audiometria ou aferição de pressão arterial —, quando se fala em consultas com nutricionistas, profissional de saúde mental ou outro relacionado à saúde comportamental, a tecnologia pode ser uma grande aliada.
6. Inteligência Artificial
A palestra de John Halamka, da Mayo Clinic, "Chasing the AI Storm", foi um dos destaques do último dia do HLTH 2022. Com foco em inteligência artificial (IA), a fala de John [CST1] destacou a importância de se desenvolver algoritmos capazes de atender as necessidades de pessoas e instituições.
Uma das iniciativas em desenvolvimento é a criação de um banco de dados clínicos que possa ser usado por várias instituições de saúde. Esse banco pode ser criado a partir de algoritmos baseados nos dados reais — e anonimizados — de pacientes. Isso poderia proporcionar melhores respostas durante momentos de dúvida em tratamentos — desde questões relacionadas a interações medicamentosas, a tratamentos eficazes em situações de vários diagnósticos simultâneos, entre outras situações.
Enfim, muitos outros temas foram abordados ao longo do evento, que contou com mais de 300 palestrantes do mais alto nível. Destaquei mais alguns deles em artigos publicados no LinkedIn . Porém, esses seis estiveram presentes de forma bastante destacada nos painéis.
Para finalizar, fica mais um highlight importante: apesar do grande conhecimento adquirido ao ouvir as palestras e ao conversar com painelistas do HLTH 2022, conseguimos perceber que o Brasil tem muito a contribuir com as discussões de saúde. Muito do que já vem sendo feito aqui está alinhado ao que ocorre lá fora, e podemos colaborar ainda mais com o setor nos próximos anos. A Prontmed está dedicada a espalhar essa mensagem e está sempre aberta a envolver profissionais de saúde que estejam com o mesmo interesse.
Lasse Koivisto é CEO e sócio da Prontmed, uma das principais healthtechs do país com foco na inteligência de dados para o mercado de saúde. Ele também é Diretor e membro do Conselho da Aliança para Saúde Populacional (Asap).
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Citar este artigo: HLTH 2022: 6 temas que dominaram os debates no evento - Medscape - 30 de novembro de 2022.
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