Nota da editora: A série Casos Clínicos aborda doenças difíceis de diagnosticar, algumas das quais não são vistas com frequência pela maioria dos médicos, mas é importante poder reconhecer com precisão. Teste a sua capacidade diagnóstica e terapêutica com o caso deste paciente e as perguntas correspondentes.
Contexto
Mulher de 42 anos chega ao pronto-socorro com história de sangramento gengival há dois dias. No mês anterior, ela apresentou fraqueza progressiva e hematomas ocasionais na região glútea, nas coxas e nos ombros, sem trauma significativo. No ano passado, a paciente utilizou, de forma intermitente, analgésicos orais para lombalgia.
A paciente não tem história de hematêmese, melena, hemoptise, epistaxe, febre ou exantema. Não fuma nem usa drogas ilícitas, porém consome diariamente uma a duas latas de cerveja. Nega uso regular de medicamentos, inclusive contraceptivos orais. Nega história de doença gastrointestinal ou geniturinária. É solteira, mora sozinha e trabalha em um escritório.
Exame físico e propedêutica
Á ectoscopia, a paciente é uma mulher de meia-idade, alerta, sem sofrimento aparente. Apresenta temperatura oral de 36,7 °C, frequência cardíaca de 92 batimentos por minuto (bpm), pressão arterial de 110 × 68 mmHg, frequência respiratória de 12 incursões respiratórias por minuto (irpm) e saturação de oxigênio de 97% em ar ambiente. O exame de cabeça e pescoço revela palidez mucosa, mas sem evidências de icterícia. Ausculta pulmonar com murmúrio vesicular universal, sem adventícios, e ausculta cardíaca com bulhas normofonéticas e ritmo regular em dois tempos. Abdome flácido indolor e peristáltico, sem visceromegalias. Não há indícios de linfadenopatia cervical, axilar ou inguinal. O exame retal apresenta tônus esfincteriano normal, sem sinais de sangue. O exame da pele da região glútea, coxas e ombros mostra algumas equimoses, que variam de dois a quatro centímetros de diâmetro. Algumas pequenas petéquias também são visíveis na pele nas regiões escapular e abdominal.
Os exames laboratoriais revelam anemia moderada normocítica e normocrômica, hemoglobina de 6,7 g/dL (referência: 12,1 a 15,1 g/dL) e trombocitopenia, com contagem plaquetária de 22 × 109/L (referência: 150 a 400 × 109/L). A leucometria está dentro do intervalo normal. A lâmina de sangue periférico revela leucoeritroblastos com muitos bastões, ocasionais metamielócitos e hemácias nucleadas no sangue. Alguns linfócitos plasmacitoides também podem ser vistos. A velocidade de hemossedimentação é de 42 mm/h (referência: 0 a < 20 mm/h). Seu coagulograma está normal. Os resultados do exame direto de antiglobulina são negativos, e uma amostra de urina de 24 horas é negativa para proteína. A bioquímica sérica revela função renal e eletrólitos normais. As provas de função hepática são normais, exceto para a desidrogenase láctica, que está aumentada de 1341 UI/L (referência: 105 a 333 UI/L), e um nível ligeiramente elevado da fosfatase alcalina de 161 UI/L (referência: 20 a 140 UI/L).
A microglobulina sérica β-2 da paciente está aumentada para 3,5 µg/mL (referência: 0,7 a 1,80 µg/mL). Ferro sérico, saturação de transferrina, ferritina, B12, ácido fólico e níveis de folato da série vermelha estão todos normais. Os níveis de haptoglobina sérica também estão dentro dos limites normais. Os níveis séricos de imunoglobulina estão normais e a eletroforese de proteínas séricas não demonstra pico de proteína M. É solicitada uma pesquisa óssea com uma radiografia do crânio (Figura).

Figura 1.
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Citar este artigo: Hematomas, lombalgia e sangramento em uma mulher de 42 anos - Medscape - 25 de novembro de 2022.
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