Alopecia: minoxidil oral em baixa dose é eficaz, seguro e barato

Alicia Ault

Notificação

23 de novembro de 2022

Não é uma substância nova, pois está disponível em apresentação tópica para o tratamento da alopecia desde 1988, e foi aprovada como anti-hipertensivo em 1979. Mas a formulação oral de baixa dose do minoxidil tem ganhado espaço e visibilidade como tratamento adjuvante da alopecia.

O número de publicações acadêmicas avaliando seu uso no tratamento da alopecia cresceu drasticamente nos últimos dois anos: saltou de dois em 2019 para 17 em 2020 e para 20 em 2021, com outros 16 estudos já publicados em 2022, de acordo com uma busca na PubMed. Um artigo veiculado em agosto no New York Times promove u o medicamento a potencial pílula milagrosa, e deve gerar ainda mais interesse no fármaco, disseram dermatologistas.

A apresentação em baixa dose é especialmente animadora para as mulheres, visto que há poucas boas opções orais para elas, disseram os médicos.

Dra. Lily Talakoub

A perda de cabelo "é devastadora" para as mulheres, disse a Dra. Lily Talakoub, acrescentando que o minoxidil tópico, os cremes tópicos e os suplementos "realmente não oferecem o crescimento considerável que as mulheres querem ver". O minoxidil oral não foi aprovado para tratamento de alopecia pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, mas "foi demonstrado em estudos que faz os cabelos crescerem" e tornou-se um "colete salva-vidas" para as mulheres, disse a Dra. Lily, dermatologista que atende em consultório particular nos EUA.

Dra. Lynne Goldberg

"Por muitos anos não tivemos nada de novo para dizer aos pacientes em termos clínicos", disse a Dra. Lynne J. Goldberg, médica e professora de dermatologia e patologia na Boston University School of Medicine. "Agora, de repente, há um medicamento barato, eficaz e amplamente disponível. Isso é um enorme achado para a alopecia feminina", disse a Dra. Lynne, que também é diretora na Clínica Capilar do Boston Medical Center.

Dra. Eva Simmons-O'Brien

"Eu tenho usado o minoxidil oral há cerca de quatro anos, com grande sucesso", disse a médica dermatologista Dra. Eva Simmons-O'Brien, que atende no seu consultório particular nos EUA. A Dra. Eva prescreve o medicamento principalmente para mulheres, pois é o público que ela mais atende com queixa de alopecia.

Ela disse que a animação com o minoxidil oral em baixa dose acompanha um reconhecimento crescente da comunidade médica e científica de que a queda de cabelo é mais do que um problema estético.

O mecanismo ainda não está totalmente claro

Inicialmente, quando o minoxidil chegou ao mercado como anti-hipertensivo, os médicos observaram o crescimento capilar nos pacientes que estavam ficando calvos, o que levou à criação de sua apresentação tópica. Embora seja usado para o crescimento de cabelo há décadas, seu mecanismo de ação não é inteiramente compreendido. Sabe-se que o minoxidil é um vasodilatador, podendo também aumentar a síntese de ADN e a proliferação celular, segundo uma revisão publicada em 2019.

"O efeito positivo do minoxidil no crescimento capilar se deve principalmente ao seu metabólito, o sulfato de Minoxidil. E a enzima responsável por esta conversão é a sulfotransferase, localizada nos folículos pilosos, cuja produção varia entre as pessoas", escreveram os autores, todos afiliados à Mahidol University na Tailândia.

Em publicação de janeiro no periódico Dermatology World Insights and Inquiries da American Academy of Dermatology o Dr. Warren R. Heymann observou que, "mesmo após décadas de uso", a maneira como o minoxidil age contra a alopecia ainda não foi inteiramente compreendida. O Dr. Warren observou que uma revisão científica de 2020 descobriu que os efeitos vasodilatadores do minoxidil "são propagados pela modulação positiva do fator de crescimento endotelial vascular, o que aumenta o fluxo sanguíneo cutâneo e resulta no aumento do aporte de oxigênio e do fator de crescimento no folículo piloso". O medicamento prolonga a fase anágena e encurta a fase telógena, acrescentou o Dr. Warren, chefe de dermatologia na Rowan University nos Estados Unidos.

Como anti-hipertensivo, a dose do minoxidil é de 5 mg a 40 mg por dia. Essas doses têm causado efeitos colaterais graves, como retenção de sódio e de líquidos, cardiopatia isquêmica, derrame pericárdico e hipertensão pulmonar, segundo os pesquisadores tailandeses.

Esses efeitos colaterais parecem raros com minoxidil oral em baixa dose. No entanto, na edição de outubro do periódico JAAD Case Reports, pesquisadores sul-africanos relataram um caso em que o minoxidil oral em baixa dose pode ter causado efeitos secundários cardíacos. A paciente era uma mulher saudável de 40 anos que, após três semanas de tratamento com minoxidil tópico a 5%, pomada de tacrolimo a 0,1%, pomada de propionato de clobetasol, 100 mg de doxiciclina duas vezes por dia e 0,25 mg de minoxidil oral diariamente, foi hospitalizada em anasarca. A ultrassonografia mostrou líquido no pericárdio, no espaço pleural e no abdome. Ela também teve derrame pleural. A paciente recebeu 40 mg de furosemida por via venosa por quatro dias, e o edema foi resolvido.

"Excluindo outras causas de derrame pericárdico e anasarca nesta mulher jovem e previamente saudável, concluímos que o minoxidil oral em baixa dose foi o responsável pelo quadro clínico", escreveram os autores.

Uma revisão de 17 estudos , publicada em 2020 no Journal of the American Academy of Dermatology (JAAD), constatou que o minoxidil em baixa dose é seguro e eficaz. O tratamento da alopecia androgenética foi o mais estudado, e doses entre 0,25 mg e 1,25 mg tiveram segurança e eficácia comprovadas. Essas doses também foram consideradas seguras e eficazes para o tratamento de alopecia de padrão feminino, alopecia de tração, eflúvio telógeno crônico, líquen plano pilar, alopecia areata e alopecia permanente induzida por quimioterapia.

O efeito adverso mais comum foi a hipertricose. Outros eventos adversos foram hipotensão postural e tontura, edema de membros inferiores e alterações leves da pressão arterial.

Em outro estudo de segurança multicêntrico, feito com 1.404 pacientes e publicado em 2021 no periódico JAAD, os autores constataram que a hipertricose foi o evento adverso mais comum, descrito por 15% dos pacientes. Os eventos adversos sistêmicos incluíram: tontura (1,7%), retenção de líquidos (1,3%), taquicardia (0,9%), cefaleia (0,4%), edema periorbital (0,3%) e insônia (0,2%). Apenas 29 pacientes (1,2%) suspenderam o medicamento por causa desses efeitos colaterais.

Dr. Adam Friedman

"O medicamento realmente funciona, e é relativamente seguro", afirmou o Dr. Adam Friedman, médico, professor e diretor de dermatologia na Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da George Washington University nos EUA. "Mas eu não diria que é um divisor de águas", disse o Dr. Adam, acrescentando que o minoxidil funciona melhor quando usado em combinação com outras substâncias. O Dr. Adam costuma prescrevê-lo em conjunto com um inibidor da 5 α-redutase, a finasterida ou a dutasterida, em vez de em monoterapia.

Da Austrália para o mundo

A primeira publicação sobre o uso de minoxidil oral em baixa dose contra alopecia é de dezembro de 2017. O estudo piloto da alopecia de padrão feminino foi publicado no periódico International Journal of Dermatology pelo Dr. Rodney Sinclair, dermatologista australiano.

A Dra. Amy McMichael, médica e professora de dermatologia na Faculdade de Medicina da Wake Forest University, disse ter visto a apresentação dos achados do Dr. Rodney pela primeira vez em um encontro científico sobre alopecia, no Japão, pouco antes da publicação inicial sobre o tema assinada pelo dermatologista.

"Depois disso, acho que todos nós dissemos: 'Isso é interessante; vamos tentar, visto que estamos sempre procurando algo a mais para ajudar nossos pacientes'", disse a Dra. Amy, acrescentando que já prescreve minoxidil em baixa dose para seus pacientes há cinco anos.

Dra. Amy McMichael

A Dra. Amy e seus colaboradores da Wake Forest University, junto com o Dr. Jerry Cooley, dermatologista que faz consultório particular nos EUA, publicaram uma casuística retrospectiva em março, avaliando 105 pacientes adultos — 80 mulheres (24 a 80 anos) e 25 homens (19 a 63 anos) — que receberam tratamento para alopecia androgenética e/ou eflúvio telógeno com minoxidil oral (dose de 0,625 mg a 2,5 mg) uma vez por dia durante um ano, comparados com 105 indivíduos no grupo de controle.

A eficácia foi verificada a partir da avaliação médica da resposta clínica e das fotografias, utilizando uma escala de três pontos (piora, estabilização e melhora). Metade dos pacientes tratados apresentou melhora clínica e 43% demonstraram estabilização. Houve diferença significativa (< 0,001) na resposta clínica entre os que receberam minoxidil e o grupo de controle.

Pacientes ideais?

Diante da facilidade de uso e do baixo preço (20 a 60 reais para 30 dias de tratamento com comprimidos de 2,5 mg, segundo a plataforma GoodRX ), o minoxidil em baixa dose é adequado para muitos pacientes, afirmaram os dermatologistas.

O tipo de paciente ideal é "uma mulher na perimenopausa ou na menopausa com o que consideramos alopecia moderada a grave inicial", disse a Dra. Eva. Entretanto, o medicamento provavelmente não fará crescer cabelo onde já existem cicatrizes, disse a especialista.

"Tendo a prescrevê-lo para quem não quer mais usar o minoxidil tópico ou teve muitos de seus potenciais efeitos colaterais", como prurido e irritação, disse a Dra. Amy. A médica acrescentou que o minoxidil oral também pode ser útil como adjuvante em pacientes com alopecia areata e que pode ser usado após tratamentos anti-inflamatórios para alopecia cicatricial centrífuga central.

A Dra. Lynne disse que o minoxidil em baixa dose não seria sua primeira escolha para a alopecia de padrão feminino, mas que é "uma excelente alternativa" para as pessoas intolerantes ao uso tópico. A maioria das mulheres para as quais ela prescreveu o medicamento "está muito feliz", acrescentou.

"Eu seria cautelosa com as pacientes que usam vários outros medicamentos", disse a Dra. Lynne, ressaltando os potenciais efeitos colaterais sistêmicos do minoxidil.

Os médicos afirmaram que costumam pedir o parecer do médico assistente antes de iniciar o minoxidil oral. "Sempre entro em contato com o médico do atendimento primário antes de iniciar o tratamento", disse o Dr. Adam.

"Se os pacientes já usam anti-hipertensivos, peço que falem com o médico do atendimento primário ou com seu cardiologista para se certificarem de que podem tomar essa baixa dose", disse Dra. Amy.

Em baixas doses, o minoxidil raramente tem efeitos de diminuição da pressão arterial, disseram os dermatologistas.

As mulheres costumam começar o tratamento com doses de 1,25 mg, enquanto os homens podem começar com 2,5 mg, disseram os médicos.

As Dras. Lynne e Eva disseram que os recentes alertas adicionais para a finasterida sobre efeitos colaterais sexuais e a chance de suicídio mudaram a forma de usar o medicamento em homens jovens, e isso deu destaque ao potencial do minoxidil oral como uma alternativa.

O minoxidil oral é raramente usado em monoterapia. "É necessária uma equipe multidisciplinar" para resolver a alopecia, disse a Dra. Eva, observando que ela avalia a nutrição, os níveis de vitamina D, e se o paciente está anêmico ou tem doença tireoidiana ao determinar sua abordagem.

Dermatologistas disseram que usam minoxidil oral em combinação com espironolactona, minoxidil tópico, finasterida ou dutasterida. Se os pacientes já estão usando anti-hipertensivos ou têm risco de diminuição excessiva da pressão arterial causada por uma combinação contendo espironolactona, os dermatologistas reafirmaram que conversam com o médico do atendimento primário.

Para as mulheres, o principal fator limitante do minoxidil oral pode ser o crescimento indesejado de pelos, geralmente na face. A maioria dos médicos entrevistados para esta matéria disse que não utilizava a espironolactona para neutralizar a hipertricose.

A Dra. Amy afirmou que adverte as mulheres afro-americanas ou com ascendência africana — que já tendem a ter mais pelos no corpo — sobre o potencial de crescimento excessivo de pelos associado ao minoxidil em baixa dose. Ela e outros dermatologistas entrevistados para essa matéria disseram que insistem para que as pacientes incomodadas com o excesso de pelos se depilem ou usem outros métodos não farmacológicos.

O excesso de crescimento de pelos é menos incômodo para os homens, segundo eles.

O tratamento não é um passe de mágica

Apesar do crescimento no interesse pelo medicamento, o minoxidil oral não é uma panaceia, disseram os médicos.

"É importante que os pacientes saibam que a alopecia pode ser difícil de tratar e não conseguimos resolver o problema num passe de mágica", disse a Dra. Eva. Os médicos em geral estão "usando vários recursos para incentivar as unidades foliculares para que não miniaturizem, desapareçam ou desenvolvam cicatrizes", disse.

O Dr. Adam acredita que os pacientes sofram ao ouvir que, para manter o crescimento do cabelo, precisam tomar um medicamento pelo resto da vida. "Se parar, terá que começar novamente", disse o especialista. 

Quando usado junto com outros tratamentos, o minoxidil oral melhora o crescimento do cabelo, segundo a Dra. Lynne. Mas não faz as pessoas voltarem no tempo, disse ela. "Tento diminuir as expectativas — prometa pouco e alcance mais", disse a Dra. Lynne.

O estudo teve apoio independente. A Dra. Eva Simmons-O'Brien informa ter recebido honorários por palestras da empresa Isdin. A Dra. Amy McMichael informou ter relações comerciais com as empresas Eli Lilly, Pfizer, Nutrafol, Revian e UCB Pharma. O Dr. Adam Friedman, a Dra. Lynne Goldberg e a Dra. Lily Talakoub informaram não ter conflitos de interesse.

Alicia Ault é jornalista freelancer em Lutherville, Estados Unidos. Assina artigos em veículos como o JAMA e o Smithsonian.com. Twitter: @aliciaault.

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