Centros de tratamento ortopédico brasileiros começaram a utilizar o implante vertebral NEMOST, fabricado pela empresa francesa EUROS, para correção da escoliose de início precoce. O dispositivo alonga de forma regular, corrigindo gradualmente a deformidade da coluna vertebral e, ao mesmo tempo, permitindo o crescimento contínuo da criança. Deste modo, pacientes pediátricos com escoliose grave, que antes tinham de se submeter a mais de um procedimento cirúrgico ao longo de seu crescimento, agora poderão passar por apenas uma cirurgia, com menos exposição a anestesias, infecção e dor.
O tempo de recuperação também é menor: a alta geralmente ocorre em torno de 72 horas após a cirurgia. Além de melhorar a qualidade de vida do paciente e da família, o método tem boa relação custo-benefício para os sistemas de saúde, porque evita novas internações. Cabe aos pediatras observarem e detectarem qualquer alteração na coluna das crianças e encaminhá-las logo a um ortopedista, ampliando assim as suas possibilidades de tratamento e impedindo o avanço de deformidades.
O primeiro paciente a receber o implante no Brasil, em 24 de agosto, foi uma menina de nove anos de idade com paralisia cerebral, escoliose neuromuscular e baixo peso. “Ela está bem, e vai ser acompanhada clínica e radiologicamente para observarmos se o dispositivo está alongando de forma automática, que é o objetivo desta técnica”, disse o Dr. Alexander Rossato, ortopedista especialista em coluna e responsável pelo Grupo de Escoliose da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) de São Paulo, onde foi realizado o procedimento.
O implante é definitivo: o dispositivo fica na coluna da criança durante todo o período de crescimento e, após, segue mantendo a correção. De acordo com o Dr. Alexander, até o momento não foi descrito nenhum caso com necessidade de remoção ou troca do dispositivo.
Pioneiro na implantação do NEMOST, o ortopedista francês Dr. Lotfi Miladi, afiliado ao HôpitalNecker-Enfants Malades da Université Paris Descartes, esteve no Brasil para acompanhar as cirurgias realizadas na AACD e no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) do Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro. Os resultados obtidos até agora são promissores. [1]
O Dr. Ricardo Meirelles, chefe do Centro de Doenças da Coluna Vertebral do INTO, que realizou em setembro o implante em uma menina de oito anos de idade com hidrocefalia, disse que a técnica é indicada para escolioses idiopáticas de origem infantil e escolioses neuromusculares. Ele lembrou que, em caso de curvatura acentuada no início da vida, o potencial de aumento da deformidade é muito grande.
Uma das contraindicações de implante do dispositivo automático é o baixo peso do paciente. Devido ao tamanho, o conector pode ficar proeminente na pele de crianças com menos de 17 quilos, e acabar incomodando ou até mesmo lesionando o local, explicou Dr. Ricardo. O implante também não deve ser realizado em pacientes com lesões cutâneas importantes.
O Dr. Ricardo informou que será feito um estudo no INTO no qual 30 pacientes receberão o dispositivo implantável e serão acompanhados ao longo de seu desenvolvimento para avaliar a evolução clínica. “A técnica deve ser incorporada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas como é um material importado e novo, depende de trâmites burocráticos para a sua aquisição”, observou.
A intensivista pediátrica Dra. Fernanda Raquel Oliveira Boedo, coordenadora do Centro de Terapia Intensiva (CTI) do INTO, endossou as vantagens do NEMOST. Segundo a médica, há um benefício imediato, com a alta mais rápida, e um benefício em longo prazo, com menor número de cirurgias e um menor risco de potenciais complicações. Ela reiterou a importância do diagnóstico precoce: os pediatras podem constatar se a criança tem algum problema por meio de uma simples observação no consultório, a partir do Teste de Adams. “Nem sempre é necessário fazer cirurgia. [Dependendo do quadro,] há outros tratamentos menos invasivos”, disse Dra. Fernanda.
Nos casos elegíveis para a cirurgia, a médica ressaltou que os exames pré-operatórios, indicados após a avaliação de uma equipe multidisciplinar, asseguram o sucesso do procedimento. Pacientes com dificuldade respiratória, por exemplo, que apresentam pneumonia recorrente por conta da deformidade vertebral, precisam fazer uma prova de função pulmonar, e o pneumologista poderá indicar medicação ou fisioterapia antes da abordagem cirúrgica. “É preciso ainda fazer o controle das anemias [e verificar] se há alteração laboratorial, para não haver nenhuma surpresa durante a cirurgia”, acrescentou.
A Dra. Fernanda recomendou que seja explicado para a criança como vai ser a cirurgia e o pós-operatório, alertando que ela sentirá dor, mas será tratada, e que precisará ficar internada por um tempo. “Tirar as dúvidas diminui a ansiedade do paciente e permite que ele participe de todo o processo, o que ajuda muito no pós-operatório. Às vezes a gente se preocupa muito em informar os pais e esquece de envolver a criança”, alertou.
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Referência:
One-Way Self-Expanding Rod in Neuromuscular Scoliosis: Preliminary Results of a Prospective Series of 21 Patients. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34934886/ Acesso em: 21 de outubro de 2022
Créditos:
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Citar este artigo: Implante definitivo para correção de escoliose grave na infância começa a ser realizado no Brasil - Medscape - 21 de novembro de 2022.
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