Temas mais buscados em novembro de 2022: Antibióticos para infecção urinária

Ryan Syrek

18 de novembro de 2022

Ao final de cada semana, identificamos o tema mais buscado no site do Medscape, procuramos compreender o que motivou essa tendência e então compartilhamos um breve resumo acompanhado de um infográfico. Dúvidas ou sugestões? Fale conosco pelo  Twitterou Facebook 

Mais da metade de todas as mulheres têm ao menos um episódio de infecção urinária ao longo da vida, portanto, os avanços terapêuticos e as perspectivas de profilaxia costumam ser observados de perto. Notícias sobre um potencial novo medicamento e achados relacionados com a prevenção da infecção urinária recorrente despertaram o interesse dos nossos leitores: “antibióticos para infecção urinária” foi o tema clínico mais buscado dessa semana.

Em 03 de novembro, a GlaxoSmithKlein anunciou que suspenderia o recrutamento para um novo ensaio clínico, de fase 3, em virtude dos significativos resultados positivos, de acordo com a recomendação do Independent Data Monitoring Committee (IDMC).

Há um especial interesse na gepotidacina em vista do aumento da preocupação com a resistência aos antimicrobianos, um problema tão prevalente que a Organização Mundial da Saúde recentemente começou a publicar uma lista dos microrganismos que representam as maiores ameaças. Vários microrganismos incluídos nessa lista (p. ex., Candida auris) são conhecidos por causar infecção urinária. A GlaxoSmithKlein anunciou que irá solicitar a aprovação da gepotidacina e prosseguirá a publicação dos dados do estudo revisados por especialistas no início de 2023.

A infecção urinária recorrente representa um desafio significativo, sendo definida como dois episódios sintomáticos em seis meses ou três episódios em um ano. Os especialistas dizem que a estratégia mais importante é a conversa na consulta, que tem mostrado uma redução na frequência de casos de infecção urinária recorrente por meio do acesso a informações, especificamente sobre as causas e medidas comportamentais, dentre as quais consta a recomendação de beber uma quantidade suficiente de líquidos, mas não excessiva: cerca de 1,5 L por dia.

Somente quando o tratamento sem antibióticos falhar, deve-se considerar a profilaxia antibiótica, tendo como meta de três a seis meses. Antes de iniciar a profilaxia, o agente etiológico deve ser identificado por meio de cultura de urina e a sua sensibilidade aos medicamentos avaliada pelo antibiograma. A prevenção com antibióticos em dose única após a relação sexual pode ser uma alternativa, particularmente para pacientes com suspeita de correlação entre a infecção urinária recorrente e as relações sexuais.

No início deste ano, um estudo descobriu que uma coleção de bactérias inativadas, conhecida como MV140, ajudou a prevenir a infecção urinária recorrente. Em um estudo randomizado com 240 mulheres, três meses de administração diária levaram 56% das mulheres a evitarem a infecção urinária por um ano, em comparação a 25% das mulheres tratadas com placebo. Uma duração mais longa não pareceu gerar um resultado significativamente melhor, pois apenas 58% das mulheres que fizeram seis meses de tratamento não tiveram infecção urinária. O número de eventos adversos registrados foi de 48 com seis meses de profilaxia, 76 com três meses de profilaxia e 81 com placebo.

As preocupações acerca do uso de antimicrobianos para tratar a infecção urinária são comuns. Isto levou infectologistas, como a médica Dra. Roni K. Devlin, a reiterarem que o esquema antimicrobiano para tratar a infecção urinária deve ser adaptado para "assegurar a adequação do medicamento ao agente etiológico", além de seguir as principais recomendações. A Dra. Roni mencionou um estudo recente feito com mais de 670.000 mulheres jovens diagnosticadas com infecção urinária: quase metade recebeu um antibiótico inadequado e mais de 75% receberam antibióticos por mais tempo do que o considerado necessário.

A Dra. Roni defende especificamente as diretrizes de conduta da Infectious Diseases Society of America (IDSA), que está atualmente trabalhando na atualização das orientações para a cistite aguda não complicada e o tratamento da pielonefrite. A Infectious Diseases Society of America já atualizou as informações sobre a conduta na bacteriúria assintomática. Esse é um ponto crucial de ênfase na prevenção do risco de aumento da resistência antimicrobiana, disse a Dra. Roni, que fez uma lista de pacientes que não precisam fazer triagem de urina ou antibioticoterapia para a bacteriúria assintomática:

  • lactentes e crianças

  • mulheres na pré-menopausa saudáveis, não gestantes

  • mulheres na menopausa saudáveis

  • idosas residentes na comunidade com problemas funcionais

  • idosas residentes em instituições de longa permanência

  • pacientes com diabetes

  • pacientes submetidas a transplante renal há mais de um mês

  • pacientes com transplante de órgãos sólidos, exceto rim

  • pacientes com alto risco de neutropenia

  • pacientes com lesão medular

  • pacientes com sonda vesical de demora

  • pacientes que fizeram alguma cirurgia eletiva, exceto urológica

  • pacientes que pretendem ser operadas para implante de esfíncter urinário artificial ou implante de prótese peniana

  • pacientes com implantes de dispositivos urológicos

Encontrar o equilíbrio certo entre o tratamento adequado e evitar mais resistência aos antibióticos é um desafio nos casos de infecção urinária. Isso explica por que as notícias sobre um potencial novo medicamento, e os esclarecimentos sobre estratégias profiláticas foram recebidos com tanto interesse, gerando o tema clínico mais buscado da semana.

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