COMENTÁRIO

Mitos comuns sobre a obesidade na prática clínica

Dr. Fabiano M. Serfaty

Notificação

7 de setembro de 2022

Uma publicação recente e de importante aplicação prática da Obesity Medicine Association (OMA) traz aos médicos uma visão geral de 30 mitos, mal-entendidos e/ou simplificações excessivas comuns sobre a obesidade. O intuito é educar e auxiliar os médicos no cuidado de pacientes com a doença.

Destaco aqui alguns dos mitos com explicações baseadas em evidências para que possam ser esclarecidos para nós médicos e, obviamente, para nossos pacientes.

Um dos pontos importantes colocados na publicação que merece destaque e explicação é do mito de que "a obesidade é uma escolha de estilo de vida, e não uma doença".

A obesidade é uma pandemia global e definitivamente é uma doença crônica progressiva, recidivante e tratável, com graves consequências à saúde dos pacientes.

Outro mito interessante que merece destaque é o de que a "a redução de peso é difícil, mas manter a redução de peso é fácil quando o peso é perdido".

Existe um corpo de evidências robusto sobre as diversas intervenções bem-sucedidas na redução do peso nos pacientes com obesidade.

Embora altamente variáveis entre os pacientes, muitas intervenções atuais de redução de peso induzem uma redução de peso inicial média de aproximadamente 10% a 15% em relação ao peso corporal inicial, muitas vezes com apenas cerca de 50% da redução de peso mantida após um ano.  A manutenção bem-sucedida da redução de peso geralmente requer uma combinação semelhante de intervenções necessárias para a redução inicial de peso e costuma ser a parte mais difícil do tratamento da obesidade.

Quando apropriado, é imperativo que o médico continue o tratamento farmacológico e, obviamente, mantenha a mudança do estilo de vida dos pacientes com dieta e exercícios.

Isso porque ocorre o que chamamos de adaptação metabólica, que se refere à redução da taxa metabólica de repouso com a redução de peso além do previsto a partir da perda de peso corporal e das alterações correspondentes nos tecidos gordurosos e magros. Esse efeito pode ocorrer principalmente durante períodos de balanço energético negativo ativo, com a taxa metabólica de repouso pós-redução de peso potencialmente mais dependente do balanço energético do paciente.

Portanto, a experiência da prática clínica demonstra que a redução de peso entre pacientes com obesidade é frequentemente bem-sucedida. O que é menos bem-sucedida e mais difícil na prática clínica é a manutenção da redução de peso.

Outro mito citado e muito discutido na prática clínica é que "o aumento do tecido adiposo subcutâneo é saudável e o aumento do tecido adiposo visceral não é saudável".

O tecido adiposo subcutâneo pode ser saudável quando fornece preenchimento físico, isolamento térmico e energia armazenada no tecido subcutâneo periférico durante o balanço calórico positivo, mitigando o transbordamento de energia para outros depósitos de gordura como a gordura visceral, epicárdica, hepática, pancreática e muscular. O tecido adiposo subcutâneo é muitas vezes composto de 80% ou mais de massa gorda corporal, com a maioria dos ácidos graxos livres derivados do tecido adiposo potencialmente patogênico, tanto na circulação sistêmica quanto na circulação portal, originária do tecido adiposo subcutâneo.

Entretanto, quando ocorrem a proliferação e a diferenciação dos adipócitos, elas são prejudicadas no tecido adiposo subcutâneo periférico. Quando a proliferação e a diferenciação dos adipócitos são prejudicadas no tecido adiposo subcutâneo, isso pode resultar em transbordamento de energia para outros depósitos de gordura e outros órgãos do corpo, o que contribui para doenças metabólicas e cardiovasculares.

Em vez de focarmos, na prática clínica, na distinção entre o tecido adiposo visceral e o tecido adiposo subcutâneo como entidades separadas nos pacientes com obesidade, é fundamental considerar o potencial patogênico interconectado de ambos. As funções interdependentes do tecido adiposo visceral e tecido adiposo subcutâneo apoiam a justificativa para considerar a função global do tecido adiposo ao avaliar as consequências negativas da obesidade para a saúde.

A publicação explica detalhadamente, com base em medicina baseada em evidências, cada um dos 30 pontos nela listados. O conhecimento da ciência subjacente a todos esses pontos vai ajudar os médicos a entender, tratar e enfrentar melhor a obesidade em seus consultórios na prática clínica, melhorando assim o nosso atendimento e a abordagem com nossos pacientes com obesidade.

Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....