Aprovações da Anvisa: quatro novidades para o mieloma múltiplo recidivado refratário

Equipe Medscape Professional Network

30 de agosto de 2022

O mieloma múltiplo corresponde a cerca de 10% das neoplasias hematológicas e a 1% de todos os tipos de câncer. Por não fazer parte das estimativas anuais do Instituto Nacional de Câncer (Inca), os dados sobre a incidência do mieloma múltiplo na população brasileira são escassos. Mas, de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, foram registrados 3.064 mortes pela doença no Brasil em 2016 – a maioria na região Sudeste.

O tratamento do mieloma múltiplo recidivado e refratário (MMRR) é desafiador, portanto, cada nova indicação terapêutica é motivo de destaque. Confira a seguir um resumo das mais recentes aprovações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento do MMRR.

Novo registro: Pomalyst® (pomalidomida) [1]  

No final de julho, o uso da combinação de pomalidomida (Pomalyst® da Bristol-Meyers Squibb) + bortezomibe + dexametasona foi aprovado pela Anvisa como segunda linha terapêutica para pacientes com MMRR. E a combinação de pomalidomida + dexametasona passou a ser indicada para pacientes que receberam pelo menos dois esquemas terapêuticos anteriores (p. ex., lenalidomida e bortezomibe) e apresentam indícios de progressão da doença na última terapia.

Assim como a lenalidomida, a pomalidomida é um agente imunomodulador com dois principais mecanismos de ação: induz a parada do ciclo celular e a apoptose em células de mieloma múltiplo e a atividade imunomoduladora com efeitos na imunidade celular em células T e células natural killer.

Nos ensaios clínicos, a administração de 4 mg de pomalidomida + 40 mg de dexametasona (dose baixa) uma vez por semana por 21 dias de um ciclo de 28 dias em pacientes com MMRR e história de tratamento de primeira e segunda linhas com lenalidomida e bortezomibe foi eficaz. Foi observada uma sobrevida livre de progressão da doença significativamente maior entre os pacientes que receberam a combinação de pomalidomida + dexametasona (15,7 semanas), em comparação com os pacientes que receberam altas doses de dexametasona (8,0 semanas).

Como segunda linha terapêutica, o tratamento com pomalidomida + bortezomibe + dexametasona em baixas doses reduziu o risco de progressão da doença e de morte em 39%, em comparação com o tratamento com bortezomibe + dexametasona em baixas doses (sobrevida livre de progressão: 11,2 versus 7,1 meses).

Fadiga, astenia, febre, constipação, diarreia, náuseas, anemia, neutropenia, trombocitopenia, edema periférico, neuropatia periférica e infecções (inclusive pneumonia), foram os eventos adversos mais comuns em pacientes tratados com a pomalidomida.

Por ser um análogo da talidomida, a pomalidomida é contraindicada para gestantes ou mulheres em idade fértil – no segundo caso, o medicamento pode ser recomendado quando a paciente cumprir todas as condições do Programa de Prevenção de Gravidez. Como pode passar para o sêmen, o medicamento também não deve ser administrado em homens que não possam cumprir as medidas contraceptivas exigidas.

Nova indicação: Empliciti® (elotuzumabe) [2]

Em maio, o uso da combinação de elotuzumabe (Empliciti® da Bristol-Myers Squibb) + pomalidomida + dexametasona foi aprovado pela Anvisa para o tratamento de terceira linha de adultos com MMRR que receberam lenalidomida e um inibidor de proteassoma como primeira e segunda linhas terapêuticas, com indícios de progressão da doença na última terapia.

O uso deste medicamento já havia sido aprovado para o mesmo grupo de pacientes, porém em combinação com lenalidomida + dexametasona.

A nova indicação foi aprovada a partir da avaliação dos dados de uma análise realizada pela European Medicines Agency (EMA) e de dados adicionais apresentados à Anvisa. A base dessa aprovação foi o estudo de fase 2 CA204125, que verificou a eficácia e a segurança do tratamento com elotuzumabe em combinação com pomalidomida + dexametasona versus pomalidomida + dexametasona em indivíduos com MMRR.

O estudo CA204125 também propôs e estudou um novo esquema com doses alternativas de elotuzumabe. Nos dois primeiros ciclos, foram administrados 10 mg/kg de elotuzumabe por via intravenosa (IV) por semana; a partir do 3º ciclo, foram administrados 20 mg/kg de elotuzumabe IV a cada quatro semanas.

O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão da doença, com resultado estatisticamente significativo em favor da formulação com vs. sem elotuzumabe, com ganho na sobrevida livre de progressão mediana, de 5,6 meses, a favor do acréscimo do elotuzumabe (10,25 vs. 4,67 meses, respectivamente).

Os resultados foram consistentes com diversas análises de sensibilidade e com uma análise post-hoc realizada de acordo com um comitê independente sem acesso às informações do estudo.

Nos desfechos secundários, os pesquisadores observaram consistência em termos de taxa de resposta objetiva: 53,3% vs. 26,3% com e sem elotuzumabe, respectivamente; com resposta parcial muito boa (VGPR) ou melhor: 20% vs. 8,8%, respectivamente. A mediana da sobrevida global também foi melhor com o acréscimo do elotuzumabe: 29,80 vs. 17,41 meses. Isso representa uma redução de 41% no risco de morte com o acréscimo do elotuzumabe.

O perfil de segurança da formulação com elotuzumabe é comparável ao perfil de segurança da formulação sem o elotuzumabe, apesar da pequena amostra de pacientes avaliados. Houve a inclusão de leucopenia entre as reações adversas citadas na bula.

Nova indicação: Dalinvi® SC (daratumumabe) [3]

Desde julho, o uso da combinação de daratumumabe (Dalinvi® SC da Janssen-Cilag) + carfilzomibe + dexametasona (em baixas doses) passou a ser indicado para pacientes com MMRR.

A aprovação da nova indicação terapêutica foi baseada nos resultados dos estudos clínicos MMY2040 (PLEIADES) e 20160275 (CONDOR), que demonstram uma relação de risco vs. benefício favorável à associação de medicamentos para esses pacientes.

No estudo MMY2040, a taxa de resposta global entre os indivíduos tratados com o esquema terapêutico foi de 84,8%, De acordo com a Anvisa, as respostas clínicas foram importantes, conforme evidenciado pelo fato de que a resposta parcial muito boa ou melhor foi de 77,3% e a resposta completa ou melhor foi observada em 25 indivíduos (37,9%). A negatividade da doença residual mínima (limiar de 10-5) foi alcançada por 16 indivíduos (24,2%).

O daratumumabe já havia sido aprovado no Brasil para o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo e amiloidose de cadeia leve nas seguintes condições:

  • daratumumabe + bortezomibe + talidomida + dexametasona para pacientes recém-diagnosticados com mieloma múltiplo elegíveis para transplante autólogo de células-tronco;

  • daratumumabe + lenalidomida + dexametasona OU daratumumabe + bortezomibe + melfalana + prednisona para pacientes recém-diagnosticados com mieloma múltiplo inelegíveis para transplante autólogo de células-tronco;

  • daratumumabe + lenalidomida + dexametasona OU daratumumabe + bortezomibe + dexametasona como segunda linha para pacientes com mieloma múltiplo;

  • daratumumabe isolado como quarta linha terapêutica para pacientes com mieloma múltiplo que já tivessem sido recebido um inibidor de proteassoma e um agente imunomodulador OU duplamente refratários a um inibidor de proteassoma e a um agente imunomodulador; e/ou

  • daratumumabe isolado para pacientes com amiloidose de cadeia leve.

Nova indicação: Sarclisa® (isatuximabe) [4]

A partir de julho, o isatuximabe (Sarclisa® da Sanofi Medley) em combinação com carfilzomibe + dexametasona, passou a ser indicado para o tratamento de segunda linha de adultos com MMRR. O uso deste medicamento já havia sido aprovado para o mesmo grupo de pacientes, porém em combinação com pomalidomida + dexametasona.

A nova aprovação é baseada nos resultados do estudo clínico de fase 3 EFC15246 (IKEMA), que comparou o uso de isatuximabe + carfilzomibe + dexametasona versus carfilzomibe + dexametasona para o tratamento de segunda linha de pacientes com mieloma múltiplo.

O estudo mostrou que o acréscimo do isatuximabe à combinação carfilzomibe + dexametasona aumentou significativamente a sobrevida livre de progressão da doença, bem como a resposta ao tratamento, entre pacientes com MMRR (razão de risco: 0,531; IC 95% de 0,318 a 0,889; P = 0,0007). Os resultados indicam uma redução de 46,9% no risco de progressão da doença com o isatuximabe + carfilzomibe + dexametasona.

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