Garantir a qualidade dos dados é um dos maiores desafios da saúde. A interoperabilidade é a principal ferramenta para lidar com esse problema, porém, é necessário o estabelecimento de padrões organizacionais, tecnológicos e normativos para que os dados possam ser usados adequadamente.
O principal objetivo da interoperabilidade é desenvolver padrões, normas e tecnologias que promovam transparência, qualidade e disponibilidade de informações de saúde para diferentes stakeholders. Nesse cenário, uma das maiores propostas é a utilização de recursos como o Fast Healthcare Interoperability Resources (FHIR) para traçar um padrão de dados entre esses players.
Os padrões FHIR são um exemplo de tecnologia essencial para a interoperabilidade dos dados de saúde. Eles se baseiam nos padrões de formato de dados anteriores do Health Level 7 (HL7), mas são mais fáceis de implementar porque usam uma linguagem mais natural ao ser humano.
Essa atualização ocorreu justamente para facilitar a interoperabilidade entre os sistemas de saúde e o fornecimento de informações de saúde aos profissionais da área e indivíduos em uma ampla variedade de dispositivos, de computadores a tablets e smartphones. Além disso, o FHIR permite que os desenvolvedores criem aplicativos médicos facilmente integráveis a sistemas existentes.
Muito embora já existam iniciativas no setor para garantir a troca segura de dados, como a descrita anteriormente, a implantação dessas iniciativas não é tarefa fácil. Primeiramente, antes de pensar em interoperabilidade, é necessário compreender o grau de organização dos dados do estabelecimento de saúde em questão. Afinal, de nada adianta compartilhar informações com pouca ou nenhuma estrutura ou padrão. Desse modo, a arquitetura e a terminologia dos dados de saúde devem ser estruturadas e mapeadas sobre os recursos certos para o envio das informações em saúde.
Além disso, no Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) também traz grande preocupação com a tratativa dos dados de saúde, seja em relação ao armazenamento, à manutenção ou ao envio. Assim, além da atenção ao dado em si, existe a necessidade de um olhar jurídico que avalie para quem os dados serão enviados e como serão armazenados e disponibilizados, o que envolve documentações e autorizações específicas para cada situação.
Outro ponto importante: os padrões de interoperabilidade não são, em sua maioria, “plug and play” – ou seja, não é uma tarefa simples escolher o padrão necessário, como o FHIR, e iniciar o envio dos dados sem qualquer modificação. Além das preocupações supracitadas, há a necessidade de mapear os recursos que serão recebidos e/ou enviados, adaptando-os ao padrão escolhido. Desse modo, você terá dados estruturados e seus respectivos mapeamentos com os padrões de envio e recebimento de informações em saúde.
Em resumo, com toda a complexidade e a quantidade de personagens dentro do ambiente de saúde, cedo ou tarde, todos precisarão conversar em um mesmo idioma – e o Brasil tem caminhado para esse cenário com a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Essa é a plataforma nacional de troca de dados em saúde, considerada fundamental no projeto de transformação digital do país, que envolve o setor público, isto é, o Sistema Único de Saúde (SUS), e o setor privado.
Não se trata de uma tarefa intuitiva ou fácil, pois há um grande esforço tecnológico na preparação desses padrões de dados e uma mudança cultural médica no preenchimento de prontuários e sistemas eletrônicos de saúde. Esse fator humano, por sinal, é imprescindível para o bom funcionamento da interoperabilidade. Afinal, de nada adianta estruturar bem os dados e não preenchê-los adequadamente.
Por fim, os padrões vêm se tornando cada vez mais conhecidos e, com sua constante utilização e implantação, certamente se tornará mais fácil colocá-los em prática no futuro.
Nélio Borrozzino é Gerente de Produtos Clínicos da Prontmed, uma das principais healthtechs do país com foco na inteligência de dados para o mercado de saúde, e mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP.
Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube
Créditos
Imagem principal: Dreamstime
© 2022 WebMD, LLC
Citar este artigo: Dados de saúde: o futuro da interoperabilidade - Medscape - 25 de agosto de 2022.
Comente