Qual é a maneira mais prática, barata e eficaz de estimar o risco de diabetes mellitus tipo 2 do paciente?

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

Notificação

23 de agosto de 2022

Qual é a maneira mais prática, barata e eficaz de estimar o risco de diabetes mellitus tipo 2 do paciente? Segundo um estudo publicado no periódico PLoS One, [1] nenhum dos índices antropométricos comumente usados na prática clínica para essa finalidade (índice de adiposidade corporal [IAC], índice de adiposidade visceral [IAV] e índice triglicerídeos-glicemia [TyG]) superam a precisão da circunferência da cintura (CC) ou do índice de massa corporal (IMC) nesse contexto.

Os pesquisadores, da Stanford University nos Estados Unidos, do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e de outras instituições, chegaram a essa conclusão após acompanharem por cinco anos um grupo de adultos moradores de Baependi, uma cidade rural em Minas Gerais.

Autores do estudo, a Dra. Camila Maciel de Oliveira, endocrinologista do InCor, pesquisadora da Stanford University e consultora em Startups - Health Tech, o educador físico Dr. Rafael de Oliveira Alvim, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e o Dr. Carlos Alberto Mourão Júnior, endocrinologista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), concederam uma entrevista ao Medscape sobre o trabalho.

A coorte composta de 1.091 indivíduos foi recrutada no Estudo Corações de Baependi [2]. A média de idade dos participantes era de 47 anos e 57% eram mulheres. Os participantes foram avaliados em dois momentos distintos: entre 2005 e 2006 e, posteriormente, entre 2010 e 2013.

Os autores investigaram associações entre IMC, CC, IAC, IAV e TyG e a incidência de diabetes mellitus tipo 2.

Todos os participantes eram normoglicêmicos ao início da pesquisa, mas 3,8% foram diagnosticados com diabetes mellitus tipo 2 ao longo do acompanhamento. O grupo que evoluiu para este desfecho apresentava um pior perfil metabólico, com taxas maiores de hipertensão, dislipidemia e obesidade.

A análise estatística revelou que o aumento de um ponto no IAC e no IAV elevou o risco de diabetes mellitus tipo 2 em 8% e 11%, respectivamente. O mesmo aumento no TyG quadriplicou o risco. Comparando os três índices antropométricos, o TyG apresentou o maior poder preditivo.

Segundo os autores da pesquisa, a superioridade do TyG em relação ao IAC e ao IAV já era esperada. Os autores explicaram que isso ocorre porque o TyG considera os valores de glicemia e triglicerídeos, ou seja, trabalha com variáveis que seguem caminhos fisiopatológicos sinérgicos à doença. Dito isso, o TyG também perdeu sua capacidade preditiva, bem como os outros dois índices, após o ajuste para IMC e CC.

Os autores lembraram que o ajuste para uma covariável é importante para padronizar os indivíduos investigados. “Observamos que o IMC e a circunferência abdominal são fatores que influenciam de forma importante a predição do risco por motivos vastamente explorados na literatura. A obesidade geral (IMC) e abdominal são preditores de risco mandatórios para patologias como diabetes mellitus tipo 2, além de hipertensão e dislipidemia”, destacaram. 

Eles afirmaram ainda que os trabalhos publicados nos últimos anos reforçam que o “IMC ainda é superior a todos os outros índices de adiposidade testados, tanto para diabetes mellitus tipo 2 quanto para hipertensão (em cinco e também em 10 anos de acompanhamento)”.

Os autores disseram que os índices avaliados no estudo consideram exames clínicos e laboratoriais de baixo custo e, portanto, este e outros estudos que destacam sua relevância incentivam a incorporação destas ferramentas à prática clínica.

“O próprio Excel pode ser utilizado para o cálculo destes índices para a predição de risco de algumas doenças crônicas não transmissíveis; ou seja, esta poderia ser uma forma prática e barata no auxílio, e também no incentivo a mudanças no hábito de vida do paciente. Seria uma ferramenta a mais para a promoção da saúde, especialmente de alcance populacional”, ressaltou o trio, lembrando que diferentes startups em saúde têm trabalhado no compilamento de dados de pacientes, com o respaldo do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e cadastrados no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (REBEC), com a finalidade de desenvolver e refinar algoritmos que façam sentido para a população brasileira.

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