Risco cardíaco associado à covid-19 durante a gestação exige mais cuidados

Megan Brooks

Notificação

22 de agosto de 2022

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O manejo das complicações cardíacas da covid-19 durante a gestação exige uma "equipe obstétrica cardíaca da gestação" para melhorar o atendimento, segundo o comitê de Doenças Cardiovasculares em Mulheres do American College of Cardiology (ACC) afirma em uma nova publicação.

Essa equipe multidisciplinar pode incluir profissionais que se sintam à vontade com gestação de alto risco, anestesia obstétrica, cardiologia, cuidados intensivos e cuidados neonatais, dependendo da natureza da complicação, do estágio da gestação e da gravidade da doença, sugeriram a Dra. Joan E. Briller, médica da University of Illinois, nos Estados Unidos, e seus colaboradores.

O grupo resumiu o que se sabe sobre as complicações cardiovasculares da covid-19 associadas à gestação em uma revisão “de estado da arte”, publicada on-line em 10 de agosto no periódico JACC: Advances.

Grupo difícil

As gestantes podem apresentar mais chances de covid-19 grave e de necessidade de terapia intensiva, ventilação mecânica e oxigenação por membrana extracorpórea, disseram os autores.

As gestantes também apresentam um alto risco de complicações cardíacas da covid-19, inclusive lesão miocárdica, arritmias e insuficiência cardíaca, em comparação com mulheres em idade reprodutiva não gestantes.

Os fatores associados a aumento do risco de complicações cardíacas durante a gestação são: idade materna > 35 anos, alto índice de massa corporal e presença de comorbidades (p. ex., hipertensão crônica, diabetes, doença cardiovascular e pré-eclâmpsia), gestante pertencente a minoria racial/étnica e falta de vacinação materna.

Em relação às considerações terapêuticas, Dra. Joan e colaboradores escreveram que é importante distinguir complicações próprias da gestação (p. ex., pré-eclâmpsia, miocardiopatia periparto e dissecção coronária espontânea) de outras complicações cardíacas associadas à covid-19.

No entanto, as atuais publicações sobre complicações cardíacas associadas à covid-19 não abordam complicações gestacionais que possam mimetizar complicações da covid-19, pontuaram os autores.

Um desafio, eles disseram, é o fato de algumas alterações pró-trombóticas gestacionais (p. ex., ativação do complemento, liberação de citocinas pró-inflamatórias, alteração das respostas antígeno-anticorpo, fenômenos pró-trombóticos e desregulação endotelial-vascular) serem semelhantes às formas imunomediadas graves de covid-19, que acredita-se que sejam responsáveis pela lesão miocárdica com infecção.

As gestantes com covid-19 grave ou com múltiplos fatores de risco (p. ex., diabetes, hipertensão, idade avançada, tabagistas, obesidade e história de doença cardiovascular) devem ser consideradas como tendo alto risco de lesão miocárdica.

Apesar de ainda não existirem recomendações padronizadas em relação ao momento da verificação dos biomarcadores cardíacos, os autores sugeriram que essa medida seja considerada para gestantes com covid-19 moderada ou grave.

Desconforto torácico com suspeita de origem cardíaca, seja agudo ou persistente, merece verificação dos biomarcadores. Níveis a partir de 20% acima da linha de base indicam necessidade de avaliação mais aprofundada, destacaram os autores.

Diante de desconforto torácico com alteração dos biomarcadores, o diagnóstico diferencial inclui isquemia de demanda, miocardite, miocardiopatia de estresse e síndromes coronarianas agudas.

No geral, o grupo pontuou que, na suspeita de lesão miocárdica, as estratégias diagnósticas são semelhantes às de pacientes não gestantes. A avaliação inicial é baseada na história e nos achados ao exame físico, radiografia de tórax, eletrocardiograma (ECG), biomarcadores cardíacos e, frequentemente, ecocardiograma.

É “prudente” realizar uma angiografia imediata caso o ECG sugira infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST, especialmente diante de sintomas clássicos. Sintomas equívocos ou achados de ECG podem levar à avaliação com ecocardiografia transtorácica focada ou completa.

A presença de alterações na movimentação da parede ajudará a orientar a decisão de proceder à angiografia coronária, angiografia por tomografia computadorizada ou terapia clínica.

A angiografia por tomografia computadorizada é uma opção para pacientes estáveis ou com achados divergentes para descartar síndromes coronarianas agudas ou apontar um diagnóstico alternativo.

“Seja vigilante” para problemas cardíacos

A insuficiência cardíaca pode ser particularmente desafiadora no contexto da gestação. Os sintomas de insuficiência cardíaca podem mimetizar os da gestação normal e os sinais e sintomas da covid-19 podem dificultar ainda mais o quadro clínico.

“Portanto, ao tratar gestantes com covid-19, particularmente aquelas com doença moderada a grave ou com evidência de lesão miocárdica, deve-se ter o cuidado de avaliar insuficiência cardíaca e cardiomiopatia”, aconselhou o grupo.

Os autores explicam que a cardiomiopatia relacionada à covid-19 precisa ser diferenciada da miocardiopatia periparto devido às implicações para o acompanhamento e aconselhamento em longo prazo sobre os riscos em futuras gestações.

O momento da apresentação da insuficiência cardíaca pode ajudar a distinguir a miocardiopatia periparto da cardiomiopatia relacionada à covid-19 e associada à gestação.

A insuficiência cardíaca relacionada à infecção covid-19 pode ocorrer durante toda a gestação, enquanto a miocardiopatia periparto geralmente se apresenta no final da gestação ou nos meses após o parto.

No entanto, as duas doenças podem ser difíceis de diferenciar em pacientes com covid-19 durante o terceiro trimestre ou imediatamente após o parto, e entre pacientes com fatores de risco comuns a ambas as condições.

Resumindo, os autores afirmam que é importante que os médicos saibam que a maioria das complicações cardíacas descritas fora da gestação, como arritmias, lesão miocárdica, complicações tromboembólicas e sintomas prolongados, também são relatadas durante a gestação. Outras preocupações incluem aumento do risco de trabalho de parto prematuro, parto prematuro e pré-eclâmpsia.

O grupo incentiva os cardiologistas a permanecerem “vigilantes” para complicações cardíacas na avaliação de gestantes com covid-19. E preconizam que também incentivem a vacinação contra covid-19 de gestantes, conforme recomendado pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA, pela American College of Obstetrics and Gynecology e pela Society of Maternal Fetal Medicine.

Essa pesquisa não recebeu financiamento específico. A Dra. Joan E. Briller participa de um comitê de direção e é pesquisadora do ensaio REBIRTHl.

JACC: Advances. Publicado on-line em 10 de agosto de 2022.  Abstract

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