A inteligência artificial melhorou a taxa de detecção de adenomas durante a realização de colonoscopias para rastrear pacientes sem sintomas de câncer colorretal, relatam pesquisadores.
A inteligência artificial prolongou ligeiramente o tempo das colonoscopias e pareceu beneficiar mais os endoscopistas mais experientes do que os menos experientes. No entanto, os resultados são fortes o suficiente para encorajar a adoção da nova tecnologia, disse o Dr. Joseph Sung, Ph.D., médico e reitor de medicina da Lee Kong Chian School of Medicine da Nanyang Technological University, em Singapura.
“A vantagem da colonoscopia assistida por inteligência artificial está bem estabelecida”, disse ele ao Medscape. “Não vejo razão para não usá-la, a menos que o equipamento seja muito caro.”
O Dr. Joseph e colaboradores publicaram os resultados do grande ensaio clínico randomizado controlado multicêntrico no periódico Clinical Gastroenterology and Hepatology .
Testando a assistência da inteligência artificial em uma população assintomática
Pesquisas anteriores mostraram que as colonoscopias convencionais não detectam cerca de um quarto dos adenomas. Vários sistemas de inteligência artificial chegaram recentemente ao mercado, prometendo melhorar as taxas de detecção ao reduzir o erro humano na detecção de pólipos.
Outros estudos de comparação já mostraram que as colonoscopias assistidas por inteligência artificial têm uma taxa maior de detecção de adenomas do que as colonoscopias convencionais. Mas a maioria desses estudos extraiu seus dados de um único centro ou de pequenas populações, ou não se concentrou em pessoas assintomáticas.
Para preencher essa lacuna, o Dr. Joseph e colaboradores conduziram seu estudo em seis centros de endoscopia afiliados a universidades em Hong Kong, Pequim, Mongólia Interior, Jilin e Xiamen, na China.
Os pesquisadores realizaram colonoscopias em 3.059 pessoas entre 45 e 75 anos de idade, assintomáticas e consideradas elegíveis para rastreamento. Os participantes foram recrutados entre novembro de 2019 e agosto de 2021. Alguns deles haviam feito exames imunoquímicos das fezes, mas foram oferecidas colonoscopias independentemente dos resultados desses exames.
Os pesquisadores designaram aleatoriamente os participantes para fazerem a colonoscopia assistida por inteligência artificial ou a convencional. O computador marcava as lesões detectadas com uma caixa azul no monitor de alta definição do sistema de endoscopia em tempo real. O algoritmo de inteligência artificial foi treinado usando imagens de colonoscopia do Hospital Zhongshan, afiliado à Universidade de Xiamen.
Para padronizar o procedimento, os endoscopistas não foram autorizados a usar funções eletrônicas de aprimoramento de imagem para detecção de pólipos, apenas para sua caracterização.
Mais adenomas detectados
Em uma análise por intenção de tratar, a taxa de detecção de adenoma (definida como a proporção de pacientes com pelo menos um adenoma detectado durante a colonoscopia) e a média de adenomas por colonoscopia foram significativamente maiores para o grupo da inteligência artificial do que para o grupo convencional.
Desfecho | Colonoscopia assistida por inteligência artificial (n = 1519) | Colonoscopia convencional (n = 1540) | Valor de P |
---|---|---|---|
Taxa global de detecção de adenomas (%) | 39,9 | 32,4 | < 0,001 |
Taxa de detecção de adenomas avançados (%) | 6,6% | 4,9% | 0,041 |
Taxa de detecção de adenomas não avançados (%) | 32,3% | 26,7% | 0,001 |
Média de adenomas por colonoscopia | 0,59 | 0,45 | < 0,001 |
As colonoscopias assistidas por inteligência artificial também detectaram adenomas ≥ 10 mm, adenomas < 5 mm, adenomas não pedunculados e adenomas nos segmentos proximal e distal do cólon em uma taxa mais alta estatisticamente significativa. Os achados foram semelhantes em uma análise por protocolo.
Estudos anteriores mostraram que a inteligência artificial aumentou a detecção de pequenos adenomas, mas estes são menos propensos a se transformarem em câncer do que os grandes.
“O achado singular é que até mesmo os adenomas maiores estão começando a ser mais bem detectados com a inteligência artificial”, disse o Dr. Joseph.
Não houve diferença estatística entre os dois grupos na detecção de câncer colorretal, lesões serrilhadas sésseis, pólipos hiperplásicos ou adenomas pedunculados.
Tanto os endoscopistas mais experientes quanto os menos experientes se beneficiaram da assistência da inteligência artificial. Mas a taxa de detecção de adenomas para os endoscopistas mais experientes saltou de 32,8% com a colonoscopia convencional para 42,3% com a colonoscopia assistida, enquanto só subiu de 32,1% para 37,55% para os endoscopistas menos experientes.
“Essa é uma parte que acho um pouco difícil de entender”, disse o Dr. Joseph, porque, em teoria, a inteligência artificial deveria ser mais útil para endoscopistas menos experientes. Mas ele observou que o corte entre endoscopistas mais e menos experientes no estudo foi de 5.000 procedimentos.
“O que eles chamam de colonoscopistas menos experientes, na verdade, são bastante experientes também. Portanto, não tenho tanta certeza sobre a significância desse achado”, complementou.
Tanto o tempo de intubação quanto o de retirada aumentaram em menos de meio minuto com o procedimento assistido por inteligência artificial.
Próximos passos
O estudo faz uma contribuição importante para a compreensão das colonoscopias assistidas por inteligência artificial, destacou o Dr. Cesare Hassan, Ph.D., médico e professor associado da Unidade de Endoscopia do Humanitas Research Hospital, na Itália, que não participou da pesquisa.
O Dr. Cesare observou que foi um grande estudo multicêntrico com uma população bem caracterizada. “Tenho certeza de que este é o melhor artigo já feito neste campo”, disse ele.
Sua única limitação é que os endoscopistas sabiam se estavam usando a inteligência artificial, disse ele, mas é muito difícil criar um estudo em que eles possam ficar cegos para isso.
O próximo passo no estudo da colonoscopia com inteligência artificial é determinar se ela está realmente prevenindo o câncer, disse o Dr. Joseph. “Essa é a vantagem final”.
O Dr. Cesare disse que ele e seus colaboradores estavam planejando um ensaio clínico de 10 anos com esse objetivo em mente.
Além disso, estudos estão em andamento para determinar se esses sistemas podem ajudar a diferenciar adenomas de pólipos hiperplásicos.
“Todos os anos, em todos os hospitais, gastamos muito dinheiro com histologia para examinar se este é um pólipo hiperplásico ou um pólipo adenomatoso”, disse o Dr. Joseph. “Se pudermos simplesmente ignorá-los ou apenas remover os pólipos e descartá-los com confiança, seria uma grande vantagem e o paciente não precisaria ser acompanhado com tanta frequência.”
O Dr. Joseph Sung e o Dr. Cesare Hassan informaram não ter conflitos de interesses.
Clin Gastroenterol Hepatol. Publicado on-line em 18 de julho de 2022. Texto completo
Laird Harrison cobre ciência, saúde e cultura. Seu trabalho já foi veiculado em revistas, jornais, rádios e sites estadunidenses. Atualmente, Laird está escrevendo um livro sobre realidades alternativas na física, além de lecionar técnicas de redação no The Writers Grotto. Conheça e acompanhe o trabalho de Laird em lairdharrison.com e @LairdH
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Créditos
Imagem principal: iStock/Getty Images
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Citar este artigo: Crescem as evidências a favor uso de inteligência artificial na colonoscopia - Medscape - 12 de agosto de 2022.
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