COMENTÁRIO

Interoperabilidade: o que os profissionais de saúde têm a ver com isso?

Lasse Koivisto

11 de agosto de 2022

Colaboração Editorial

Medscape &

A interoperabilidade é um dos temas mais comentados na área da saúde nos últimos anos. Possibilitar que os sistemas de saúde, como os prontuários eletrônicos presentes nos consultórios médicos, se comuniquem com hospitais, laboratórios e até mesmo aplicativos pessoais dos pacientes para gestão de sua saúde, é uma ideia que vem ganhando corpo. Afinal, os benefícios são muitos.

Embora a responsabilidade de fazer a interoperabilidade acontecer seja das empresas de tecnologia e dos gestores de saúde, os profissionais da área também podem – e devem – contribuir para essa discussão. Afinal de contas, são eles (e os seus pacientes) os principais beneficiados com o maior acesso a dados estruturados e informações de qualidade para a realização de tratamentos. E é justamente isso que vamos discutir ao longo deste artigo.

Afinal, o que é interoperabilidade?

Quando falamos de interoperabilidade, falamos da capacidade que os dados têm de fluir de um lugar para outro. Um exemplo prático ocorre quando um profissional de saúde insere dados clínicos de seu paciente no prontuário eletrônico e os envia a um laboratório para solicitar exames de rotina. Isso, é claro, deve ocorrer de forma segura e dentro do que estabelece a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Agora, imagine que todos os sistemas de saúde sejam interoperáveis entre si. Dados clínicos de um paciente coletados por um profissional de saúde em um consultório de São Paulo estariam disponíveis quando esse mesmo paciente precisasse de atendimento em um hospital durante uma viagem à Bahia, por exemplo – mesmo que se trate de softwares médicos produzidos por desenvolvedores diferentes.

Todos teriam muito a ganhar: tanto os profissionais quanto as instituições de saúde, que teriam acesso a informações relevantes para oferecer o melhor tratamento, além dos pacientes, que poderiam receber um atendimento embasado em seu histórico de saúde completo.

Como os profissionais de saúde podem contribuir para colocar a interoperabilidade em prática?

Naturalmente, proporcionar a interoperabilidade entre os diversos sistemas de saúde não é uma responsabilidade de médicos e demais profissionais da área. As empresas de tecnologia é que devem oferecer as melhores soluções para que o atendimento clínico seja o melhor possível – e para que os profissionais de saúde possam se concentrar em atender bem os seus pacientes.

Ainda assim, é importante que quem atua na área entenda a lógica por trás da interoperabilidade, bem como o seu potencial. Além disso, é possível que os profissionais de saúde contribuam para um sistema de saúde cada vez mais capaz de se comunicar entre si, com uma boa integração de sistemas.

Ao utilizarem sistemas de prontuário eletrônico com dados estruturados, por exemplo, torna-se viável registrar informações clínicas do paciente de forma padronizada. O uso da terminologia médica adequada aqui se torna essencial. Isso não significa que o médico precise decorar todo o CID-10 – o próprio sistema, já abastecido com essas informações, pode ajudar a estruturá-las de forma mais automatizada, garantindo ao profissional a tranquilidade e o foco total no atendimento.

Qual o status atual da interoperabilidade na saúde?

A interoperabilidade pode ajudar a tornar as rotinas das instituições de saúde mais ágeis, a trazer mais clareza para a comunicação dentro do sistema como um todo, a reduzir erros (seja de diagnósticos, seja de dosagens de medicamentos, entre outros) e a diminuir desperdícios e custos de tratamentos para todos os envolvidos.

Embora já haja algumas iniciativas em prática – como a integração de prontuários eletrônicos com laboratórios, permitindo que os profissionais de saúde recebam os exames de seus pacientes de forma mais ágil e segura, sem a necessidade de acessar diversas plataformas –, a verdade é que muito ainda pode ser feito.

Quanto mais a comunidade médica e os profissionais de saúde demandarem que as soluções tecnológicas disponíveis no mercado possam ser integradas entre si e gerem dados estruturados – ressaltando que esse é um papel das empresas de tecnologia, responsáveis por organizar os dados e garantir que a interoperabilidade ocorra na prática –, mais esse conceito se tornará realidade no dia a dia. E todos têm a ganhar com isso: profissionais, instituições e, principalmente, os pacientes.

Lasse Koivisto é CEO e sócio da Prontmed, uma das principais healthtechs do país com foco na inteligência de dados para o mercado de saúde, além de Diretor e membro do Conselho da Aliança para Saúde Populacional (Asap).

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