Tratamento domiciliar com estimulação transcraniana pode melhorar sintomas de desatenção em adultos com TDAH

Clarinha Glock

9 de agosto de 2022

O tratamento domiciliar diário com um dispositivo de estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) ao longo de quatro semanas melhorou a atenção em pacientes adultos com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) que não estavam tomando medicamentos estimulantes, segundo artigo publicado no dia 3 de agosto no periódico JAMA Psychiatry. [1]

O estudo foi realizado entre julho de 2019 e julho de 2021 com 64 pacientes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), sob a coordenação do Dr. Luis Augusto Rohde, coordenador-geral do Programa de Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade (ProDAH) do HCPA. Tem a participação de especialistas do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), do King’s College London, no Reino Unido, da Harvard Medical School, e da Universidade de Pittsburg, nos Estados Unidos. “Seu diferencial é o tamanho da amostra e os cuidados de randomização e procura por desfecho significativo clínico para pacientes com TDAH”, disse o Dr. Rohde.

Todos os ensaios clínicos realizados até então com ETCC foram conduzidos em ambiente hospitalar ou em clínicas e apresentavam pequenos tamanhos de amostra, metodologias heterogêneas e curtos períodos de tratamento.

Para esta pesquisa, foram selecionados 64 dentre 277 participantes com TDAH, desatenção ou subtipo combinado, com idades entre 18 e 60 anos. Foram excluídos pacientes que faziam tratamento com medicamentos estimulantes, que apresentavam sintomas moderados a graves de depressão ou ansiedade, com diagnóstico de transtorno bipolar com episódio maníaco ou depressivo no último ano, com diagnóstico de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e com diagnóstico de transtorno do espectro autista. Os participantes selecionados foram randomizados para receber a ETCC ativa ou o procedimento simulado. Do total, 55 pacientes concluíram o acompanhamento de quatro semanas.

O dispositivo domiciliar de ETCC utilizado foi totalmente desenvolvido no HCPA e previamente regulado para interromper automaticamente a sessão no caso de impedância muito alta. Havia um número pré-programado de sessões e uma dosagem de estimulação, com intervalo mínimo de 16 horas entre duas sessões consecutivas. Cada paciente recebeu instruções de uso, com assistência permanente de uma equipe treinada. Os participantes passaram por sessões diárias de 30 minutos de ETCC, com corrente contínua de 2 mA, no período de quatro semanas, totalizando 28 sessões (incluindo finais de semana). Os efeitos adversos mais comuns, como eritema, parestesia e cefaleia, foram considerados toleráveis.

Segundo o Dr. Luis Augusto, que é coordenador-geral do Programa de Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade (ProDAH) do HCPA, um dos objetivos deste estudo foi analisar se a ETCC domiciliar pode ser um tratamento não farmacológico alternativo para pacientes com TDAH. “Serão realizadas outras pesquisas com neuroimagem, ressonância estrutural e funcional, para verificar a resposta individual e qual área foi modificada”, informou.

“Sabemos que o tratamento com medicamentos é efetivo, mas tem muitos efeitos adversos, o que faz com seja interrompido com frequência, daí a necessidade de um tratamento alternativo”, acrescentou o Dr. Douglas Teixeira Leffa, que foi o pesquisador responsável do estudo. Atualmente médico residente em Psiquiatria na University of Pittsburgh, ele salientou que o tratamento domiciliar com ETCC é relativamente barato e ajuda na adesão. “Queremos agora comparar o efeito da ETCC ao dos medicamentos, saber se há benefícios como a redução da dose dos medicamentos, ou se o uso combinado dos dois tem melhores resultados”, disse o Dr. Douglas.

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