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Os riscos à saúde são maiores a cada reinfecção pelo SARS-CoV-2, diz grande estudo realizado nos Estados Unidos a partir de um banco de dados de abrangência nacional.
Os pesquisadores observaram que os efeitos na saúde foram piores durante a infecção ativa, mas alguns sintomas persistiram por até seis meses, sugerindo uma associação direta entre a reinfecção e a covid-19 prolongada.
"A reinfecção traz/contribui para mais riscos à saúde – não é totalmente benigna. As pessoas deveriam tentar evitar se infectar novamente", disse o primeiro autor do estudo, o médico Dr. Ziyad Al-Aly.
Os riscos permaneceram independentemente da vacinação completa. Em alguns casos, as pessoas podem ter sido infectadas primeiro pela variante Delta e agora estão sendo expostas à Ômicron, ou à respectiva subvariante BA.5, que pode ser mais eficiente em escapar da proteção vacinal, disse ele.
"Também é possível que a primeira infecção tenha enfraquecido alguns sistemas orgânicos e feito com que a saúde dessas pessoas ficasse mais vulnerável aos riscos [que se apresentaram] ao serem infectadas pela segunda ou terceira vez", acrescentou o Dr. Ziyad, epidemiologista clínico da Washington University e chefe de pesquisa e desenvolvimento no VA St. Louis Healthcare System, ambas as instituições nos EUA. "Há muitas variáveis em jogo, mas está claro que a reinfecção traz mais riscos e devem ser evitadas."
O Dr. Ziyad e seus colaboradores compararam 257.427 pessoas que tiveram uma primo-infecção pelo SARS-CoV-2 a 38.926 pessoas com história clínica de duas ou mais infecções pelo vírus. Em seguida, os autores compararam os primo-infectados a 5,4 milhões de pessoas sem história de infecção pregressa. Os dados analisados no estudo foram provenientes de um banco de dados de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos.
Os resultados foram publicados on-line em 17 de junho no servidor de pré-impressão ResearchSquare.com e ainda não foi revisado por pares, uma etapa fundamental para avaliar e validar a pesquisa clínica. O estudo está sendo revisado pelo periódico Nature Portfolio.
Especialistas avaliam
Três especialistas em covid-19 que não participaram da pesquisa fizeram algumas ressalvas, incluindo o questionamento sobre a aplicabilidade de um estudo feito com veteranos à população geral.
"Este é o primeiro estudo a caracterizar os riscos de reinfecção", disse o médico Dr. Eric Topol.
Ele ressaltou que, em comparação com o primeiro quadro infeccioso, a segunda infecção pelo SARS-CoV-2 foi associada ao dobro da taxa de mortes por todas as causas, assim como ao dobro do risco de alterações cardíacas ou pulmonares.
Os riscos extras também aumentaram a cada infecção, disse o Dr. Eric, que é vice-presidente executivo da Scripps Research e editor-chefe da edição em inglês do Medscape.
"Obviamente, esses achados são preocupantes, já que a reinfecção era bastante rara antes da chegada da onda Ômicron, com uma incidência ≤ 1% durante a onda de variante Delta. No entanto, as reinfecções ficaram muito mais comuns agora", disse ele.
O risco aumenta, especialmente para algumas pessoas
O estudo foi "bem-feito", disse o Dr. Ali Mokdad, Ph.D., após ser solicitado a comentar para o Medscape. O Dr. Ziyad e colaboradores "possuem acesso a bons dados e conduziram vários estudos."
Ele disse que os riscos extras são mais prováveis em idosos, imunocomprometidos e pessoas com outras comorbidades.
"Faz sentido, deixe-me explicar o porquê", disse o Dr. Ali. “Quando alguém se infecta pela covid-19 pela primeira vez e sofre um impacto da doença (talvez um idoso ou alguém com uma doença crônica), a próxima infecção também causará mais danos.”
"E, por isso, espera-se que a segunda infecção seja mais intensa em algumas pessoas", disse o Dr. Ali, professor adjunto de epidemiologia e métricas em saúde da University of Washington nos Estados Unidos.
“O melhor para toda a população (saudável ou não, com doença crônica ou não) é não se infectar”, disse ele. “Tome as vacinas e os reforços, use máscara quando estiver em lugares cheios e não der para manter uma distância segura.”
Os fatores de risco dos veteranos são diferentes?
"Ao observar o estudo, a grande ressalva é que os veteranos não se parecem com a população geral", disse o médico Dr. Amesh Adalja, acadêmico sênior no Johns Hopkins Center for Health Security, da Bloomberg School of Public Health, nos Estados Unidos.
"Não acredito que seja possível generalizar [o estudo] para todos, mas sim para pessoas com fatores de risco de doença grave", disse ele, pois os veteranos tendem a ser idosos e ter mais doenças crônicas.
Ele disse que muitas pessoas reinfectadas estão testando positivo em casa. Esses casos acabam não sendo analisados nas pesquisas. Por outro lado, os veteranos do estudo eram "pessoas que, por algum motivo, quiseram fazer um teste formal".
Como o vírus sofreu mutações para escapar das vacinas, elas ainda protegem contra doenças graves, hospitalização e morte, mas são menos capazes de proteger contra infecções, disse o Dr. Amesh. "Isso também ocorre com relação à imunidade prévia. Se você tiver sido infectado pela variante BA.1 ou Delta, por exemplo, sua capacidade de se defender das novas variantes BA.4 e BA.5 talvez não seja muito alta."
O estudo mostra por que “é importante manter as vacinas atualizadas”, disse ele, “e por que precisamos obter vacinas melhores, direcionadas às variantes que estão circulando atualmente”.
Apesar dessas ressalvas, disse o Dr. Amesh, os pesquisadores utilizaram “um banco de dados robusto”, e uma grande amostra, o que “aumenta a confiança na força dos achados”.
Olhando para os efeitos no longo prazo
Não se sabia se a reinfecção contribuiria para o aumento do risco de covid-19 prolongada, então o pesquisador Dr. Ali e seus colaboradores acompanharam os veteranos por 6 meses. Eles compararam pessoas que tiveram uma, duas, três ou mais infecções ao grupo não infectado.
Nos participantes com reinfecção, cerca de 13% tiveram duas infecções, 0,76% tiveram três infecções e 0,08%, ou 246 pessoas, tiveram quatro ou mais infecções.
Comparados aos veteranos com uma primo-infecção, aqueles que se reinfectaram tiveram mais que o dobro de risco de morte por todas as causas.
Embora "os mecanismos responsáveis pelo aumento do risco de morte e de desfechos adversos na reinfecção não estejam totalmente claros", disseram os autores, "os achados destacam as consequências da reinfecção pelo SARS-CoV-2 e enfatizam a importância da prevenção" contra o vírus que causa a covid-19.
Indagado sobre os próximos passos, o Dr. Ali disse: "A variante BA.5 parece ser o próximo grande desafio, estamos focados em tentar entendê-la melhor."
Fontes:
Research Square: “Outcomes of SARS-CoV-2 Reinfection”.
Dr. Eric Topol, médico, vice-presidente executivo da Scripps Research e editor-chefe do Medscape.
Dr. Ali Mokdad, Ph.D., professor adjunto de epidemiologia e métricas em saúde da University of Washington, Estados Unidos.
Dr. Amesh Adalja, acadêmico sênior no Johns Hopkins Center for Health Security, da Bloomberg School of Public Health, Estados Unidos.
Damian McNamara é um jornalista do Medscape e mora em Miami. Ele cobre várias especialidades médicas, como infectologia, gastroenterologia e neurologia. Siga Damian no Twitter: @MedReporter
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Imagem principal: Dreamstime
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Citar este artigo: Reinfecção pelo SARS-CoV-2 ‘não é benigna’ - Medscape - 5 de agosto de 2022.
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