Hipertensão aumenta risco de covid-19 grave – mesmo para vacinados

Heidi Splete

Notificação

3 de agosto de 2022

Nota da editora: Veja as últimas notícias e orientações sobre a covid-19 em nosso  Centro de Informações sobre o novo coronavírus SARS-CoV-2 .

A probabilidade de internação hospitalar por covid-19 grave entre pessoas que receberam ao menos uma dose de reforço da vacina anticovídica foi mais de duas vezes maior para adultos com hipertensão arterial sistêmica do que para normotensos, segundo dados de mais de 900 pacientes.

“A descoberta de que muitas pessoas hospitalizadas com covid-19 tinham hipertensão, e nenhum outro fator de risco, foi uma surpresa para nós”, disse a Dra. Susan Cheng, médica e diretora do Institute for Research on Healthy Aging no Departamento de Cardiologia do Smidt Heart Institute Cedars-Sinai, nos Estados Unidos, e autora sênior do estudo. "É algo preocupante se considerarmos que quase a metade dos adultos estadunidenses têm hipertensão arterial."

As vacinas anticovídicas demonstraram capacidade de reduzir o número de mortes e de alguns dos efeitos colaterais mais graves da infeção pelo SARS-CoV-2 nos estágios iniciais da pandemia. Embora a onda da variante Ômicron tenha suscitado recomendações de uma terceira dose da vacina de ARNm, "uma parte das pessoas que recebeu três doses dessa vacina ainda assim precisou de hospitalização por covid-19 durante a onda da Ômicron", e as caraterísticas associadas à doença grave entre os pacientes vacinados que fizeram reforço vacinal não foram exploradas, escreveram o médico Dr. Joseph Ebinger do Cedars-Sinai Medical Center, e colaboradores.

Pesquisas anteriores mostraram uma associação entre a hipertensão arterial e o risco de evoluir com formas graves da covid-19, em comparação a outras doenças crônicas, como doença renal crônica, diabetes mellitus tipo 2, doença pulmonar obstrutiva crônica e insuficiência cardíaca, observaram os pesquisadores.

Em um estudo publicado no periódico Hypertension, os pesquisadores identificaram 912 adultos que receberam pelo menos três doses da vacina anticovídica de ARNm e foram mais tarde diagnosticados com covid-19 durante o surto de infecções pela variante Ômicron, que ocorreu entre dezembro de 2021 e abril de 2022.

No total, 145 pacientes foram internados (16%), dos quais 125 (86%) eram hipertensos.

Os pacientes com hipertensão arterial tiveram mais probabilidade de serem hospitalizados (razão de chances [RC] de 2,9). Além da hipertensão arterial, fatores como idade (RC de 1,3), doença renal crônica (RC de 2,2), história de infarto agudo do miocárdio ou insuficiência cardíaca (RC de 2,2) e mais tempo desde a última dose de vacina e infecção por SARS-CoV-2 foram associados a aumento do risco de hospitalização por análise multivariada.

No entanto, o aumento do risco de doença grave e hospitalização associada à hipertensão arterial persistiu (RC de 2,6) na ausência de comorbidades como diabetes tipo 2, doença renal e insuficiência cardíaca, enfatizaram os pesquisadores.

"Embora o mecanismo do risco de covid-19 associado à hipertensão não esteja claro, estudos anteriores identificaram demora da eliminação do SARS-CoV-2 e resposta inflamatória prolongada entre os pacientes hipertensos, o que pode contribuir para maior gravidade da doença", escreveram os autores.

Os achados foram limitados por vários fatores, como o uso de dados de um único centro e a falta de informações sobre quais variantes e subvariantes da Ômicron estavam por trás das infecções, observaram os pesquisadores.

No entanto, os resultados evidenciaram a necessidade de mais pesquisas sobre como reduzir os riscos das formas graves da doença nas populações vulneráveis e sobre o mecanismo da potencial conexão entre a hipertensão arterial e a covid-19 grave, afirmaram os autores.

Dada a alta prevalência da hipertensão arterial no mundo inteiro, o maior entendimento dos riscos específicos da hipertensão e a identificação de estratégias individuais e de redução de risco em nível populacional serão importantes para a transição da covid-19 de pandêmica para endêmica, concluíram os pesquisadores.

Ômicron mudou o jogo

"No início da pandemia, muitas doenças foram associadas ao aumento do risco de formas mais graves da covid-19, e a hipertensão arterial foi uma dessas doenças – mas depois as coisas mudaram", disse o primeiro autor, Dr. Joseph, em uma entrevista. "Em primeiro lugar, as vacinas entraram em cena e reduziram substancialmente o risco de doença grave para todos os que as tomaram. Depois, a Ômicron chegou e, embora mais transmissível, a probabilidade de causar doença grave tem sido mais baixa. De um lado, temos vacinas e reforços, que queremos acreditar que sejam "o grande equalizador" no que diz respeito às doenças preexistentes. Do outro, há um conjunto dominante de subvariantes do SARS-CoV-2 que parecem menos virulentas para a maioria das pessoas.”

"No cômputo geral, temos esperado, e até partido do princípio de que estamos nos saindo muito bem em relação à minimização dos riscos. Infelizmente, os resultados do nosso estudo indicam que não é bem assim", disse o pesquisador.

"Embora as vacinas e os reforços pareçam ter equilibrado ou minimizado os riscos de doença grave para algumas pessoas, isso não aconteceu para outras, mesmo nos casos de infecção pela variante mais suave, a Ômicron. Entre as pessoas totalmente vacinadas e que receberam as doses de reforço, ter hipertensão arterial aumentou 2,6 vezes a probabilidade de hospitalização após a infecção pela Ômicron, mesmo quando tendo em conta, ou na ausência de alguma doença crônica importante, que de outra forma poderia predispor às formas mais graves da covid-19", acrescentou Dr. Joseph.

"Assim, enquanto os riscos de ter obesidade ou diabetes inicialmente observados parecem ter sido minimizados neste ponto da pandemia, o risco de ter hipertensão arterial persistiu. Isso nos surpreendeu e preocupou, pois a hipertensão é muito comum e acomete mais de metade das pessoas com mais de 50 anos."

Surpreendentemente, "descobrimos que um número razoável de pessoas, mesmo depois de ter feito todas as doses da vacina e do reforço, não só foram contaminadas pela Ômicron, como ficaram suficientemente doentes, a ponto de precisarem de atendimento hospitalar", destacou Dr. Joseph. "Além disso, não são somente os idosos com doenças graves de base que são vulneráveis. Nossos dados mostram que pode ocorrer com adultos de todas as idades e, especialmente, se o paciente tiver apenas hipertensão arterial, sem nenhuma outra doença crônica importante."

A primeira mensagem para os médicos neste momento é aumentar a conscientização, destacou Dr. Joseph na entrevista. "Precisamos que as pessoas compreendam que receber três doses de vacina talvez não proteja todo mundo contra a doença grave causada pelo SARS-CoV-2, mesmo quando a doença causada pela variante viral circulante seja presumivelmente mais leve na maioria das pessoas. Além disso, as pessoas em maior risco não são quem nós pensaríamos. Não são as mais doentes. São pessoas que podem não ter doenças importantes, como doença cardíaca ou doença renal, mas que têm hipertensão arterial sistêmica."

Em segundo lugar, "precisamos de mais pesquisas para entender por que há essa ligação entre a hipertensão e o risco excessivo de evolução para as formas mais graves da covid-19, apesar de a variante ser supostamente mais branda", disse o Dr. Joseph.

"Terceiro, precisamos determinar como reduzir esses riscos, seja por meio de esquemas vacinais mais adaptados ou de novas terapias ou de uma abordagem combinada", disse o médico.

Olhando para o futuro, "o mecanismo biológico subjacente à associação entre a hipertensão e as formas graves da covid-19 ainda foi pouco explorado. O trabalho para o futuro deve se concentrar na compreensão dos fatores que ligam a hipertensão arterial às formas graves da covid-19, pois isso pode elucidar tanto informações sobre como o SARS-CoV-2 age no organismo quanto quais seriam as possíveis metas de intervenção", acrescentou Dr. Joseph.

O estudo foi parcialmente subsidiado pelo Cedars-Sinai Medical Center, Erika J. Glazer Family Foundation e pelos National Institutes of Health dos Estados Unidos. Os pesquisadores informaram não ter conflitos de interesses financeiros.

Este conteúdo foi originalmente publicado no MDedge.com parte da Medscape Professional Network.

Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....